Muito se falou nos últimos anos sobre o “fim do ciclo” dos
governos nacional-populares, progressistas e de esquerda da região.
Gustavo Petro e López Obrador, candidatos à presidência da Colômbia e do México, respectivamente |
Por Juan Manuel Karg*
Este anúncio recorreu os principais editoriais dos meios de
comunicação hegemônicos do continente, em um misto de informação e desejo:
mesmo que Maurício Macri e Michel Temer tenham chegado ao poder político na
Argentina e no Brasil, respectivamente, existiam (e existem) uma série de
governos que, apesar das novas circunstâncias, resistem ao neoliberalismo:
Bolívia, Uruguai, El Salvador, Nicarágua e Venezuela, entre outros, ainda que
com suas diferenças e situação internas complexas.
Entretanto, o primeiro turno eleitoral da Colômbia e a
campanha mexicana sugerem um elemento de análise: a direita poderia (e tem
pensado nisso, considerando a situação peculiar eleitoral de ambos os países)
chegar a perder nas duas eleições para os candidatos nacional-populares Gustavo
Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México).
O ex-prefeito de Bogotá obteve 5 milhões de votos e
conquistou algo histórico para a história da esquerda colombiana que é disputar
o segundo turno presidencial. Contra ele está Iván Duque, candidato de Álvaro
Uribe, ex-presidente que se recuperou depois de uma forte derrota de 2014 ao
emplacar o ‘não’ no plebiscito para a paz em 2016.
Um governo uribista – ou até um pós-uribismo como é o de
Juan Manuel Santos, no caso de Duque o trair – seria uma péssima notícia, mas
não uma novidade para a política interna colombiana: o país já sofreu no
passado este (des)governo. A novidade seria a chegada e Petro ao Palácio Nariño
[sede do governo], fato inédito que significaria um verdadeiro realinhamento da
Colômbia com o cenário regional, por exemplo, no que se refere à Unasul.
Não será fácil para um ex-líder do M-19: ele precisa
conquistar 7 de cada dez votos de Sérgio Fajardo, que chegou perto de ir para o
segundo turno. O cenário está aberto e nada está definido.
No caso mexicano, López Obrador parece pisar até mais firme:
até a revista Forbes o cita como encabeçando as pesquisas de intenção de voto
com comodidade, longe de seus adaversários Ricardo Anaya (PAN) e José Maede
(PRI). López Obrador esteve perto de chegar à presidência duas vezes: em 2006 –
quando denunciou uma fraude eleitoral – e em 2012. Daí vem um de seus slogans
de campanha “na terceira é a vitória”, recorrendo a uma perseverança que lembra
a do hoje preso Lula, que perdeu três eleições antes de chegar à presidência do
Brasil.
Obviamente isso gera resistências: o segundo homem mais rico
do país, Germán Larrea, acaba de convocar os eleitores para votarem contra “o
modelo econômico populista”, para rebater o crescimento de López Obrador, a
quem tentam incansavelmente relacionar a Hugo Chávez, tanto os meios de
comunicação como os spots de campanha dos partidos tradicionais.
Colômbia e México são dois países pivôs da direita
continental. Ambos formaram a Aliança do Pacífico em 2011, junto ao Peru e
Chile, com os Estados Unidos – com quem os dois países tem Tratados de Livre
Comércio em plena vigência – como convidado com caráter observador. Ambos
formam parte do autodenominado Grupo de Lima, um foro político cujo único tema
de discussão atual é a situação da Venezuela. Uma hipotética mudança de governo
em um deles significaria um duro golpe na restauração conservadora que tenta se
formar na América Latina. Representaria um “fim de ciclo”, sim, mas para dois
países que são emblemas da direita regional, que jamais fizeram parte do bloco
de países nacional-populares, progressistas e de esquerda. O tempo, grande
juiz, dirá se isto vai acontecer ou se, pelo contrário, vai se aprofundar a
orientação neoliberal em ambos.
*Juan Manuel Karg é Cientista político pela Universidade de
Buenos Aires e analista de política internacional, publica, entre outros
portais, no Russia Today
Fonte: Página/12
Tradução: Mariana Serafini
Via - Portal Vermelho
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