sexta-feira, 22 de março de 2019

Mestres da Literatura de Cordel - José Camelo de Melo

O poeta José Camelo de Melo Rezende é autor de um dos clássicos da poesia cordelista: O Pavão Misterioso, romance que inspirou outros títulos e até mesmo outras manifestações artísticas. O cantor cearense Ednardo, por exemplo, transformou os versos de José Camelo em música, que acabou virando tema de novela e sucesso na voz do cantor Ney Matogrosso.


O criador do Pavão é natural de Guarabira, Paraíba. Nasceu no povoado de Pilõezinhos em 20 de abril de 1885. Homem de muita imaginação e de talentos brilhantes, foi carpinteiro, xilógrafo, cantador e poeta. Não escrevia seus primeiros versos, criados por volta de 1920, guardava-os na memória para cantá-los onde fosse se apresentar. Segundo registros, versava- os numa língua perfeita, com precisão da métrica e da rima que o distingue da maioria dos poetas populares.

Camelo morou no Rio Grande Norte entre 1927 e 1929, fugido por ter se metido numa confusão. Nesse período, José Melchíades se apoderou dos originais de O Pavão Misterioso e o publicou como seu. Mesmo tendo descoberto e denunciado, até hoje se discute a verdadeira autoria desse romance.

Camelo morreu em 28 de outubro de 1964, em Rio Tinto (PB), passando à posteridade como um dos maiores autores da literatura de cordel brasileira.

José Camelo é autor de outros romances que se tornaram clássicos da Literatura de Cordel, como Coco Verde e Melancia, Pedrinho e Julinha, Entre o amor e a espada, O monstro do Rio Negro, Aprígio Coutinho e Neusa e A Verdadeira História de Joãozinho e Mariquinha.

Leia um trecho do romance As Grandes Aventuras de Armando e Rosa ou Coco Verde e Melancia:

Da cidade de Mamanguape
Rosa nada conhecia
E, por isso, acreditou
No que o irmão dizia,
E, açoitando o cavalo,
Caminhou com alegria.

Às dez horas se serviram
De doce com queijo e vinho;
E ao pôr-do-sol o irmão
A Rosa disse baixinho:
- Rosa, alvíssaras, chegamos
Na casa do teu padrinho!

Rosa, bastante espantada,
Lhe respondeu: - É mentira!
Meu padrinho aqui não mora
E, se mora, me admira
Eu ter vindo a Mamanguape
E me achar em Guariba!

Mas logo, no mesmo instante,
Ouviu a voz do padrinho,
Que dizia duma porta:
- Viva, chegou meu sobrinho,
Trazendo a minha afilhada,
Pra alegria de Agostinho!

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