terça-feira, 16 de abril de 2019

Agora, hoje, nestas horas sombrias

Estava pensando em escrever sobre o Buraco Negro em que se encontra o Brasil. Mas mudei de ideia ao ver este post de um amigo do Face:


Por *Urariano Mota

“Que dia triste! Uma vontade profunda de morrer!”.

Então ele recebeu mais de duzentos comentários, dentre os quais seleciono:

“Força, meu nobre amigo, enfrento isso também por várias vezes, dias e momentos, ainda mais com que o Brasil vem passando. Daí lembro que nós podemos somar e fazer a diferença. Não acabou, ainda há a esperança, e nós juntos somos essa esperança. Estamos juntos e não soltemos a mão um do outro, pois juntos nos fortalecemos e somos mais fortes. Vai dar uma volta, ver coisas boas, ver coisas que te façam rir, paisagens, e se fortaleça, melhoras!!!...

Levante, sacode a poeira e dá volta por cima. A vida e feita de altos e baixos. Um grande abraço pra você.....

Amigo, levanta a cabeça, isso passa!...

Se puder ajudar de alguma forma, estou às ordens, companheiro. Sei que não me conhece, mas em certa horas o que vale é ajudar....

Estou crônica com esse sentimento...

As vezes dá a sensação de estar lutando sozinho. Daí calculei +ou- o nº de amigos meus c/o nº de amigos deles, descobri que somos milhões! Somos milhões lutandopela mesma causa! Milhões de resistentes!!

É desse último comentário que parto. Em um caderno anotei sobre esse post:

É preciso pensar nos companheiros de jornada que fazem da sua dor um trabalho de reflexão, que fazem da sua dor um serviço para a construção da humanidade. Que nos sirva de inspiração o imenso Primo Levi, que escreveu

“Nesta grande engrenagem para nos transformar em animais, não devemos nos transformar em animais. Até num lugar como este pode-se sobreviver, para relatar a verdade, para dar nosso depoimento. E, para viver, é essencial esforçar-nos por salvar ao menos a estrutura, a forma da civilização.”

Então penso no poeta e crítico Regis Bonvicino que, depois da perda da filha Bruna Menconi Bonvicino, caiu, se levantou e participa com a sua revolta crítica. Então penso no incansável Celso Marconi, que na altura dos seus 89 anos escreve críticas luminosas de cinema sobre o mundo fora de Hollywood. Então penso nos fundamentais professores nas universidades, em mestres do nível de Alcir Pécora, Francisco Foot Hardman, José Antonio Spinelli, Izabel Nascimento, que trabalham em meio ao desgoverno que tenta acabar com a universidade. E que continuam a ensinar ainda assim, a esclarecer pessoas porque essa é a sua essência.

Então penso em minha particular experiência, e sei que chegar até o fundo do poço às vezes é bom. É dessa queda que recebemos impulso para subir, para fazer uma real mudança de rumos ou aprofundar o nosso destino na terra. Se comparo mal, é como ir até o fundo de uma piscina e nos empurrarmos de volta à vida com os pés, mãos e toda sensibilidade.

Então penso enfim nos militantes socialistas, democratas, comunistas, que vêm de ponta a ponta do Brasil, do exterior, e se levantam contra o fascismo. Não importa se viveremos o suficiente até a vitória. O que importa mesmo é

a nossa resistência. Nela, por nossa simples presença, já vencemos. È nossa razão de viver. Assim como no romance “A mais longa duração da juventude” no trecho:

“A resistência, que é vida, se faz na brevidade pelas ações e trabalho dos que partiram e partem. Mas nós, os que ficamos, não temos a imobilidade da espera do nosso trem. Nós somos os agentes dessa duração, o trem não chegará com um aviso no alto-falante, 'atenção, senhor passageiro, chegou a sua hora'. Até porque talvez chegue sem aviso, e não é bem o transporte conhecido. O trem é sempre de quem fica. E porque somos agentes da duração, a nossa vida é a resistência ao fugaz. Nós só vivemos enquanto resistimos".

Que dias tristes. Que momentos imperdíveis para o necessário trabalho.

* Jornalista do Recife. Autor dos romances “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus” e “A mais longa duração da juventude”

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