quinta-feira, 23 de maio de 2019

Cadê os monarquistas para impedir que o Banco do Brasil vire Bank of America?

Criado por D. João em 1808, o banco brasileiro será rifado por Bolsonaro com a anuência dos próprios descendentes da família real.

LITOGRAVURA DO BANCO DO BRASIL POR PIETER GOTFRED BERTICHEM, NA RUA DA ALFÂNDEGA, RIO,, 1854

Em Dallas, na semana passada, Paulo Guedes, ministro da Economia do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, declarou que pretende anexar nosso Banco do Brasil ao Bank of America. “Vamos procurar fazer uma fusão entre o Banco do Brasil e o Bank of America. São bancos bons para empréstimos agrícolas. Já fizemos uma nova relação entre a Embraer e Boeing. Vamos construir empresas transnacionais. Vamos ultrapassar as nossas fronteiras na procura de melhores oportunidades econômicas”, disse o ministro, na tradução feita pela NBR.

É curioso ver como não houve nenhuma reação dos setores conservadores e ditos “patriotas” contra a intenção do ministro de transformar o Banco do Brasil, uma instituição com mais de 200 anos de história, na filial de um banco privado norte-americano. Mais espantoso ainda: como é que os monarquistas, aliados de Bolsonaro, não deram nem um pio em favor do banco criado pelo príncipe regente D. João em 1808, quando a família real se mudou para o Brasil? Por que o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança, deputado federal pelo partido do presidente, não defende uma instituição criada pelos seus antepassados?

Havia apenas três bancos emissores no mundo –na Suécia, na França e na Inglaterra– quando D. João decidiu fundar o Banco do Brasil. É bem verdade que, desde o princípio, os Bragança nunca tiveram muito amor pela instituição que criaram. Quando a família real retorna para Portugal, em 1821, promove um verdadeiro desfalque no banco, levando absolutamente todos os metais e joias que haviam nos cofres, deixando os clientes que confiaram suas economias à entidade literalmente a ver navios. O banco acabou fechando em 1829, mas foi recriado em 1853 pelo imperador Dom Pedro II, tetravô do “príncipe” bolsonarista atual.

Em julho daquele ano, Dom Pedro sanciona a Lei nº 683, que cria o Banco do Brasil, iniciativa do Presidente do Conselho de Ministros e Ministro da Fazenda, Joaquim José Rodrigues Torres, futuro Visconde de Itaboraí. Seus novos estatutos foram aprovados pelo decreto n. 1.223, de 31 de agosto de 1853, que autorizou a fusão do Banco Comercial do Rio de Janeiro, criado em 1838, e do Banco do Brasil, fundado em 1851 por Irineu Evangelista de Souza, o futuro barão de Mauá, reunindo, assim, os capitais necessários para sua abertura. É este o Banco do Brasil que Paulo Guedes quer transformar em Bank of America.

Os monarquistas parecem não estar nem aí para isso, embora durante as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff andassem pela avenida Paulista e outros pontos de encontro da extrema direita distribuindo uma “cartilha monarquista” onde se gabavam dos “benefícios trazidos pelo império ao país”, como… o Banco do Brasil, a Casa da Moeda e a Caixa Econômica Federal, outros alvos da sanha privatista de Guedes.



Que “patriotas” são estes que não defendem o patrimônio brasileiro? Que “patriotas” são esses que aceitam ver o Banco do Brasil transformado em Bank of America? E que monarquistas são esses que não saem em defesa de uma instituição criada por seus próprios antepassados?

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