domingo, 23 de junho de 2019

Em meio à crise da Lava Jato, Moro tenta se manter no governo

Por enquanto, o conflito político em torno do ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro passou de guerra de movimento para guerra de posição. Sai a lógica da blitzkrieg e entra a da guerra de trincheiras. Nem Moro conseguirá rapidamente amputar a série de revelações do Intercept, nem este parece estar perto de derrubar o símbolo maior da Lava-Jato. A avaliação é do jornalista Alon Feuerwerker, colunista do site Poder 360.


Segundo ele, o morismo teve alguma perda de musculatura. “Acabou a unanimidade jornalística, e mesmo no mundo político personagens que antes assinavam cheques em branco para o então juiz e hoje ministro embainharam a caneta. E Moro não é mais juiz. Não pode mais mandar prender nem fazer busca e apreensão nem ordenar condução coercitiva”, escreve.

Mas o ministro mantém fortes trunfos, avalia. “O mais importante deles: sua presença na Esplanada continua mais ajudando que atrapalhando Jair Bolsonaro. E o presidente tem motivos reforçados para segurar o ministro, pois agora não é mais o um que depende do outro, é o outro que depende do um. E enquanto Moro estiver no alvo também concentra a sanha dos inimigos do governo.”

Taticamente, diz Alon Feuerwerker, o saldo de Moro no Senado foi neutro. “É sempre ruim estar na berlinda por causa de acusações, mas o núcleo duro do morismo garante uma versão favorável do que aconteceu ali. Que contrabalança o desconforto de ter virado vidraça depois de anos de estilingue. E esse saldo tático seria até positivo, não fosse um detalhe: o trem vai continuar rodando.”

O colunista prossegue escrevendo que, estrategicamente, há alguns complicadores. “Se é mesmo crime a captação não autorizada de mensagens alheias trocadas em ambiente reservado, a divulgação delas é garantida não apenas pela Constituição mas por um punhado de decisões judiciais recentes. E para azar dos vazados a face visível do Intercept é um cidadão dos Estados Unidos da América. Complicado.”

O que acompanhar nas atribulações de Moro? Alon Feuerwerker responde que principalmente a curva de prestígio-desprestígio que o ex-juiz transfere para o presidente, elemento central para avaliar a probabilidade de um ministro continuar no cargo. E por enquanto o saldo é favorável a ele continuar. Mas a novela está no começo. Aliás não chegou nem no fim do começo, muito menos no começo do fim.

Para ele, será necessário avaliar melhor mais adiante, quando, e se, a impaciência com a economia ruim começar a erodir para valer a gordura presidencial. “As pessoas toleram melhor os ditos malfeitos, reais ou atribuídos, quando a economia vai bem ou quando têm a esperança forte de que vai melhorar. E toleram pior quando esse capital de otimismo é dissipado.”

E arremata: “Moro agora depende muito de Paulo Guedes. E do Intercept, claro. O próximo capítulo da série virá do STF, quando analisar o pedido de suspeição de Moro para julgar o ex-presidente Lula. Isso se o STF decidir enfrentar o problema, pois tem muitas maneiras de protelar. Pelo jeito a decisão vai depender do decano, Celso de Mello. Uma declaração de suspeição abriria caminho para a anulação do veredito de Moro no triplex.”

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