quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Sagrados ou profanos?

A maioria dos humanos não religiosos manifesta em seus julgamentos éticos, políticos e existenciais valores essencialmente religiosos. Acredita ter rompido com uma forma de compreensão da vida moldada pelo sagrado.

Tece críticas aos fundamentos religiosos por considerar infundados e irracionais. Por outro lado, é incapaz de perceber que em seus juízos acerca da vida humana há um número infinito de exemplos de sacralização e divinização.

O homem dito profano avalia a conduta moral, as ideologias políticas e as perspectivas existenciais tomando como parâmetro elementos, intrinsecamente, religiosos: retoma o papel do redentor, do justo, do "eleito" e do "ungido" na figura do messias dos nossos dias, o proletariado.

Retoma a interpretação sagrada do maniqueísmo ao suprimir a diversidade e a multiplicidade, reduzindo a vida política ao embate entre o bem e o mal, transfigurada na sempiterna luta da direta e esquerda (e não há outra opção aos seus olhos).

Retoma a ideologia messiânica judaico-cristã ao prever o fim da história como o fim dos conflitos políticos. A luta final entre Cristo e o Anticristo também transfigurada na luta entre burgueses e proletariados. Como evidencia Eliade (O Sagrado e o Profano), o homem dito profano possui a mesma esperança que o homem cristão, a saber, espera romanticamente o fim absoluto da história e a consagração da paz.

Evidentemente, o militante profano se orgulha de suas novas crenças e como as ovelhas religiosas, abraça seus, supostos, novos princípios e carrega por debaixo de seus braços o prenúncio de uma nova ordem: a verdade revelada.

O profano de nossos dias reza a mesma cartilha que os ortodoxos religiosos e, assim sendo, torna seus valores mais medíocres do que aqueles fundados pela crença religiosa.


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