quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Se Deus fosse meu amigo

Do alto da minha imperfeição humana e do cume da capacidade de compreensão que me foi concedida, permiti-me um momento de contestação. Que qualquer sintoma de heresia me seja perdoado por antecipação.

Não vivenciei a plenitude divina, portanto posso apenas me comunicar de acordo com minhas limitações materiais. Então, decidi convidar Deus para se despir de sua divindade e visitar a imperfeição da minha (in) existência.

Se Deus fosse meu amigo, o convidaria para uma cerveja no final do expediente. Confessaria a Ele minhas dores, sem a imposição de qualquer sacramento. Perguntaria a Ele, o porquê da sua vontade prevalecer sobre a minha... (Seja feita a sua vontade). Se eu sou passageiro, mortal e findo, as minhas necessidades deveriam ser priorizadas diante de quem tem a eternidade para alcançar suas metas. Um amigo entenderia isto sem me ameaçar com o fogo eterno. Se Deus fosse meu amigo, sairíamos por aí, abraçados, confessando desilusões e se eu tivesse poder sobre tudo, não deixaria um amigo se desiludir.

Diria a Ele que joelhos esfolados e dores de um pai ou preocupações de uma mãe não acrescentam nada a sua plenitude. Pediria ao meu brother que livrasse nossa raça destas provações.
Enquanto enchesse seu copo com mais uma cerveja, perguntaria a Ele porque sendo o dono de tudo, permitia que neste todo existisse o inferno com suas chamas eternas.

Um amigo tem liberdade para questionamentos inconvenientes.
Então, Deus... Porque o Senhor que tudo pode, se compraz com o que eu não posso?

Que interesse teria para o seu reino a desgraça dos últimos que esperam outra vida para serem os primeiros?

Não posso me despir da minha condição humana. Mas a Ti, cabe abdicar de tua condição divina e descer a este patamar em que me encontro.

Hoje, somos amigos... Amigos de gole...

Posso falar-te sem o medo das consequências...

Perdoa-me a limitação de minha compreensão. Mas, saiba que não pedi para ser limitado... Esta imposição me foi imposta pelo poder da criação. E já que chegamos a este ponto, porque me limitaste? Que danos poderia causar a tua obra, o fato de eu poder compreender?

E se existem outras vidas, qual a razão de não sabermos?
Que interesse Tu terias em nossa ignorância?

É Deus... Sou um ser curioso... Não me contento com as crenças de terceiros... Prefiro contestar tuas prioridades como um amigo faria...

E mesmo sem compreender tuas razões, sigo sendo grato a Ti.

Pois sei que sem Teu consentimento, não acordaria amanhã.
Um brinde Deus, a vida que me concedestes...

Obrigado pelos filhos que me confiastes...
Tô precisando de uma carona... Acho que bebi demais.

Me leva pra casa?
E por favor... Vigia meu sono...

Afinal, pelo menos hoje, fomos amigos de gole...

(Marcos Valnei – fevereiro de 2014)

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