quarta-feira, 8 de abril de 2020

BOLÍVIA - "Foi um golpe ao índio, à população e pelo lítio", denuncia Evo Morales

Em entrevista à Fórum, ex-presidente boliviano fala sobre golpe contra seu governo e interesses estadunidenses no país.

"Tenho certeza que o partido vai voltar ao governo e vamos voltar a implementar políticas que priorizam o povo", afirma Evo Morales. - ABI
Marina Duarte de Souza
Brasil de Fato | São Paulo (SP)

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, afastado por um golpe de Estado no final de 2019, participou na manhã deste sábado (4) do programa Fórum Onze e Meia para falar sobre o golpe de Estado que sofreu no final de 2019.

O líder popular boliviano relembrou que desde que seu partido político, Movimento para o Socialismo-Instrumento Político pela Soberania dos Povos (MAS-IPSP), foi eleito, houve sucessivas tentativas de golpe da direita à democracia do país, todas elas com “mãos dos Estados Unidos por trás”.

“Os últimos movimentos não são diferentes de outros golpes de direita e fascistas insuflados pelos Estados Unidos. Na verdade, o golpe foi contra um outro modelo econômico da Bolívia sem FMI, sem capital estrangeiro, que mostrou que outra Bolívia é possível. Essa independência foi uma afronta ao imperialismo”, explica o ex-presidente.

Morales enfatiza que “foi um golpe ao índio, à população e pelo lítio”, ao explicar que o governo estadunidense “nunca perdoou” o fato de o governo boliviano ter definido uma política econômica de produção autônoma e independente em torno da exploração das jazidas da matéria prima para as baterias de equipamentos eletrônicos e veículos elétricos. O país possui a maior área do mineral do mundo.

:: As multinacionais, o valioso lítio da Bolívia e a urgência de um golpe ::

Morales afirmou que a renúncia à presidência e a posterior saída da Bolívia foi uma medida de proteção ao povo boliviano, uma vez que as forças golpistas da polícia militar, forças armadas e extrema direita, apoiadas pelos Estados Unidos, ameaçavam “derramar sangue”.

“Até o momento das eleições não havia irmão e irmã que tivesse sido baleado. Para mim, o direito à vida está acima de tudo. Mas a partir do dia seguinte das eleições aumentou a violência e começaram a aparecer os casos de mortes a bala, quando 35 pessoas foram assassinadas nas ruas. Houve uma conversa entre as lideranças politicas do governo e do partido para que de fato renunciasse, deixasse o país para tentar conter a violência da extrema direita”.

Após narrar os episódios que se seguiram para que conseguisse sair do país, o ex-presidente conta que atualmente, as pesquisas indicam que se houvesse eleições hoje o MAS-IPSP teria mais de 50% dos votos. Ele considera que a população que apoiou o golpe já se arrependeu e que há incertezas sobre os próximos dias, já que com a epidemia do novo coronavírus, as eleições, marcadas para 3 de maio, foram canceladas.

“Esperamos que os políticos no poder tenham consideração pela população e tentem cuidar da sua saúde e necessidades. Tenho certeza que o partido vai voltar ao governo e vamos voltar a implementar políticas que priorizam o povo, os índios, os trabalhadores, contra o poder imperialista”, reafirma Morales.

Enquanto a Bolívia espera por eleições, o governo golpista segue violando direitos humanos e a legislação do país.


Edição: Mauro Ramos


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