terça-feira, 14 de julho de 2020

Desemprego real na pandemia está oculto nos indicadores oficiais

Sem renda emergencial, pobreza atingiria 30% da população, revela estudo da Rede de Pesquisa Solidária.


Por Cézar Xavier

Pela primeira vez na história, o nível de ocupação no emprego entre março e abril ficou abaixo de 50%, ou seja, mais pessoas estavam sem trabalho do que trabalhando em todo o País, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-Covid) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela nota técnica da Rede de Pesquisa Solidária sobre o efeito da pandemia de covid-19 no emprego e renda dos brasileiros. O levantamento detectou que 75% da queda das horas trabalhadas no Brasil se devem à suspensão de contratos e à redução da jornada. Os outros 25% decorrem da inatividade.

A pandemia mudou o modo de avaliar o desempenho do mercado de trabalho. Segundo os resultados da pesquisa emergencial do IBGE, a PNAD-Covid, a taxa de desemprego no mês de maio se manteve na casa dos 10%, um resultado contraintuitivo, pois é inferior aos 12,6% registrados no primeiro do ano pela PNAD Contínua. Como entender esse resultado, em contexto de retração econômica?

A noção de “desemprego” supõe que as pessoas estejam ativamente procurando emprego. Ocorre que as políticas de distanciamento social, necessárias à contenção da propagação do coronavírus, reduziram drasticamente as possibilidades de procura – tanto pela inviabilidade de fazê-lo presencialmente, quanto pela indisponibilidade de oferta nas localidades, em função do baixo desempenho das empresas. Pessoas que, em outro contexto, seriam demandantes de emprego, são forçosamente classificados como “economicamente inativos”, dado que a taxa de desemprego aberto contabiliza apenas pessoas que abertamente procuram inserção.

Outras conclusões do estudo são:

A Rede de Pesquisa Solidária detectou que 75% da queda das horas trabalhadas no Brasil se devem à suspensão de contratos e à redução da jornada. Os outros 25% decorrem da inatividade.

O crédito anunciado pelo governo federal não chegou às empresas e limitou o potencial da MP 936, cujo gasto previsto atingiu apenas ¼ do estimado inicialmente.

Boa parte dos trabalhadores desligados ficou excluída do Seguro Desemprego e sem acesso à renda compensatória por não cumprirem os requisitos definidos pelo governo.

A combinação da ineficácia do crédito, desemprego e falta de acesso ao auxílio emergencial foi responsável pela falta de efetividade da MP 936 e se expressou na brusca queda da renda.

A renda média das famílias brasileiras caiu R$ 250, principalmente por conta da queda da renda do trabalho. Sem a Renda Básica Emergencial, essa queda teria sido 40% maior (R$350)

Sem o auxílio emergencial de R$600,00 a taxa de pobreza teria saltado para 30% da população.

A inserção no mercado de trabalho se guia pelas condições socioeconômicas dos indivíduos. Tanto o desemprego oculto pelo distanciamento social como o desemprego aberto atingem de forma desproporcional os mais pobres. As pessoas ocupadas e que trabalham presencialmente concentram-se principalmente nos estratos médios. Aos mais ricos, abre-se a possibilidade de exercerem suas atividades à distância (teletrabalho/home-office).

Quatro categorias compõem a Força de Trabalho Ampliada: desemprego aberto, desemprego oculto, trabalho presencial e trabalho à distância.

O gráfico abaixo apresenta sua distribuição dentro de cada estrato da renda domiciliar per capita.


A produção da nota, que pode ser lida na íntegra aqui, foi coordenada por Ian Prates, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Rogério Jerônimo Barbosa, do Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Participaram do levantamento os pesquisadores Thiago Meireles (USP), Vitor Menezes (USP), Sergio Simoni (UFRGS), Paulo Flores (USP/CEM), Eduardo Lazzari (USP/CEM), Hellen Guicheney (CEM), Carolina Requena(CEM), Heloisa Fimiani (USP) e João Lucas Oliveira (USP).

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