sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Poema de Natal - Pai Narciso


Quando o sino repicando

principia anunciando

os festejos de natal

Me vem logo na lembrança

os meus tempos de criança

na história que eu vou contar,

 

Pai Narciso era um velhinho

que andava já arcadinho

se escorando num bordão

e tinha uma barba comprida bem branquinha,

que muito mais parecia um punhado de algodão.

 

E trazia no ombro curvado

um saco muito surrado

que sua mão não largava,

E era naquela sacola

que ele guardava a esmola

que povo sempre lhe dava.

 

Por alí ninguém sabia

quanto tempo já fazia

que o velhinho apareceu

Naquele rosto enrugado,

naquele olhar tão cansado,

sua história ninguém leu.

 

Só sei quando ele passava

a minha mãe me chamava

e me dizia contente:

Papai Noel vai passando,

seja bonzinho este ano

que ele te traz um presente.

 

Eu andava até doente

maluco com a idéia quente

por causa de um palhaço engraçado

que eu enxerguei na vitrina

numa loja lá da esquina

num cordão dependurado.

 

Quando natal foi chegando

minha mãe foi me chamando

e meus irmãozinhos também,

me lembro ela disse chorando:

meus filhos eu sei que este ano

o papai Noel não vem.

 

Só agora estou compreendendo

eu era muito pequeno

9 anos ou pouco mais,

Eu não tinha imaginado

que um pai desempregado

muito quer, mas nada faz.

 

Me lembrei de ir pra janela

esperei passar por ela

aquele velho arcadinho,

fui correndo pra calçada

peguei sua mão enrugada

e lhe disse com carinho:

 

Pai Noel, eu sou bonzinho,

cuido dos meus irmãozinhos,

estudo minha lição,

não esqueça meu endereço

 papai Noel, eu sei que mereço

e o senhor foi sempre bom.

 

Eu não quero pião nem bola,

nem trenzinho de mola,

nada disso eu vou querer.

É só um palhaço de cordinha

daquele lá da lojinha,

só isso eu peço procê.

 

O velho não disse nada

foi andando pra calçada

e foi embora sem se voltar,

Mas por mim eu já sabia

que o presente eu recebia

quando chegasse o natal.

 

Por fim o natal chegou,

a minha mãe muito chorou

quando foi pra nós deitar

e eu tava louco esperando

que o dia fosse clareando

pro meu palhacinho pegar.

 

E quando o dia clareou

na sandalhinha furada

nem palhacinho

nem nada

para consolar, minha dor.

 

Fiquei ali na janela

esperando passar por ela

aquele velho marvado,

Talvez ele não soubesse

que a criança nunca esquece

o presente desejado.

 

Mas olhando na calçada

 de frente a porta da entrada

 um vulto eu fui enxergar.

Pai Narciso ali estendido

de frio tinha morrido

 bem na noite de natal.

 

E atirado assim do lado

tava o saco arremendado

de outra banda o seu bordão

 e o meu palhacinho engraçado

num cordão dependurado

tava preso na sua mão.

 

E daquele dia em diante,

eu não pensei mais nenhum instante

num presente receber,

é que garro me lembrar

que foi na noite de natal

que vi papai Noel morrer...

 

Autor: José Moura Brabosa.

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