terça-feira, 1 de junho de 2021

Zóio redondo

 


Por Patativa do Assaré

 

Nesta vida aperriada

Pra me livrá das furada

Destes teus zóio redondo,

Caboca onde é que eu me soco

Caboca onde eu me coloco?

Caboca onde é que eu me escondo?

 

Pra me esquecê dos teus zóio

Eu canto, eu grito, eu abóio,

Faço tudo que é preciso,

Mas por onde eu vou passando

Sinto teus zóio briando

Por dentro do meu juízo.

 

Meu padecê, minha cruz,

É duas bola de luz

Que me dêxa incandiado,

Estas duas jóias prima

Com a força de dois íma

Me puxando pra teu lado.

 

Vendo os teus zóio prefeito

Sinto entrando no meu peito

Dois ferrão de marimbondo

Caboca, não seja ingrata,

Tu me martrata e me mata

Com esses zóio redondo.

 

Me tire desta sentença,

Tu só parece que pensa

Que eu não tenho coração,

Tu me amofina e me aleja

De ruêdera, de inveja,

De ciúme e de paixão.

 

Sabe quá é a meizinha

Pra essa doença minha?

Pregunta que eu te respondo,

Era se tu me quisesse

E de coração me desse

Estes teus zóio redondo.

Nota: Patativa do Assaré era o nome artístico (pseudônimo) de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré (estado do Ceará). Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina.

Vida e obras

Dedicou sua vida a produção de cultura popular (voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino). Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista.

Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.

Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém ficou poucos meses nos bancos escolares. Nesta época, começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos. Ganhou da mãe uma pequena viola aos dezesseis anos de idade. Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade.

Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade. Nesta época, começou a viajar por algumas cidades nordestinas para se apresentou como violeiro. Cantou também diversas vezes na rádio Araripe.

No ano de 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias “Inspiração Nordestina”. Com muita criatividade, retratou aspectos culturais importantes do homem simples do Nordeste. Após este livro, escreveu outros que também fizeram muito sucesso. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras.

Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua cidade natal.

Foto: Talita Santos.

Fonte: Sua Pesquisa

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