segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Cangaceira Lídia

 Amor, traição e morte

Por: Manoel Belarmino



Poucas pessoas de Poço Redondo sabem que ali nas Areias, perto do Riacho do Quatarvo, na antiga fazenda Paus Pretos de propriedade na época do coronel Antônio Caixeiro, perto de Poço Redondo, está enterrado o corpo da mais bela cangaceira do grupo de Lampião, a baiana Lídia.

No fim do ano de 1931, o cangaceiro Zé Baiano ficou doente de um tumor grande que impediu o bandoleiro de andar nas caatingas. Aí Lampião levou Zé Baiano para a casa de um antigo coiteiro chamado Luiz Pereira na localidade Salgadinho perto de Paulo Afonso. Ali o cangaceiro ficou 15 dias sendo cuidado por Luiz Pereira e dona Maria Rosa. Quando ficou curado o cangaceiro foi embora, levando Lídia, a sua filha mais nova. Lídia era uma linda menina mocinha de apenas 15 anos de idade quando deixou seus pais para acompanhar o terrível e cruel cangaceiro Zé Baiano.

O cangaceiro Zé Baiano (foto) era loucamente apaixonado por Lídia. O cangaceiro mais apaixonado de todos. E Lídia a mais bela das cangaceiras. Zé Baiano era um dos cangaceiros mais cruéis do grupo de Lampião e o mais curioso com a sua amada Lídia.

Dizem os pesquisadores e coiteiros que Zé Baiano tinha muita riqueza, era agiota, possuía muito dinheiro emprestado a comerciantes e possuía uma quantidade grande de jóias valiosas, inclusive escondidas ou enterradas na forma de botija.

Havia no grupo de cangaceiros um rapaz da mesma região de Lídia e que já se conheciam desde antes de os dois entrarem no cangaço. Era Demócrito e que no cangaço tinha o nome de guerra de Bem-te-vi. Os dois se gostavam e, às escondidas, tinham um relacionamento. Sempre que Zé Baiano viajava Lídia se encontrava com o Bem-te-vi.

O cangaceiro Coqueiro se apaixonou por Lídia. E sempre a seguia e presenciava a cangaceira mais linda transando sob as moitas de cipó de leite com o seu amado secreto Bem-te-vi quando das viagens de Zé Baiano.

Naquele mês de julho de 1934, nas Pias das Panelas, nas proximidades do Riacho do Cartavo, quando Zé Baiano retornou de uma viagem do Alagadiço que havia feito com Lampião, o cangaceiro Coqueiro resolveu contar tudo, exatamente na hora da janta, no coito, no momento em que todos estavam reunidos. Ao ouvir a delação de Coqueiro, Zé Baiano ficou parado, estarrecido. Olhou para Lampião esperando alguma ordem. Um silêncio tomou conta do coito. Lampião tirou o chapéu... coçou o quengo. Levantou-se do cepo. Não quis mais comer. E continuou calado.

Depois de um tempo em silêncio, Lampião disse que Ze Baiano tomaria as providências de Lídia e os cangaceiros resolveriam o caso de Bem-te-vi e Coqueiro. Depois da sentença de Lampião, Zé Baiano mandou que o cangaceiro Demudado amarrasse Lídia num pé de umburana ali mesmo próximo das Pias onde estava o coito. E Lampião ordenou que o cangaceiro Gato matasse o cangaceiro traidor 'Bem-te-vi' e o delator 'Coqueiro'.

Cangaceiro Gato
Rapidamente, Gato puxou a mauser e disparou contra Coqueiro que já caiu ali estirado, morto. Quando voltou-se para disparar contra o cangaceiro traidor, viu que este já havia fugido.

Zé Baiano baiano não conseguiu dormir naquela noite. Deitou-se separado dos outros cangaceiros, calado. Teria que matar a cangaceira mais linda já vista no mundo cangaceiro e a mulher que ele amava. Quando o dia amanheceu, antes de o Sol aparecer, Zé Baiana pegou um cacete de pau d'arco e com várias pauladas matou Lídia.

E sem pedir ajuda a ninguém, ele mesmo cavou a cova e enterrou o corpo da cangaceira. Ali mesmo embaixo do pé de umburana, nas proximidades das Pias das Panelas, no Riacho do Quartavo.

Observação de Ivanildo Silveira, que nos indicou a publicação: a fotografia que postamos junto a este texto não é de Lídia, mas de sua irmã Francelina. Segundo familiares de Lídia e alguns pesquisadores, esta foto é a que mais se aproxima dos traços fisionômicos do rosto de Lídia. Não há registro fotográfico da mais bela das cangaceiras.

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