sábado, 2 de outubro de 2021

Afeganistão sob o Talebã: grupo fundamentalista proíbe barbeiros de cortarem barbas

 

Barbeiro com cliente

No BBC News Brasil

O Talebã proibiu cabeleireiros na província de Helmand, no Afeganistão, de raspar ou aparar barbas. Segundo o grupo fundamentalista que tomou o poder no país em agosto, a prática viola sua interpretação da lei islâmica.

Qualquer um que violar a regra será punido, disse a polícia religiosa do Talebã.

Alguns barbeiros da capital do país, Cabul, disseram que também receberam ordens semelhantes.

As novas normas ilustram um retorno às regras rígidas que marcaram o período linha-dura do Talebã, quando esteve no poder até ser deposto pelos Estados Unidos no início dos anos 2000. As mudanças atuais contrastam com as recentes promessas de moderação feitas pelo próprio grupo fundamentalista ao assumir novamente o governo.

Desde que tomou o poder em agosto, o Talebã aplicou punições severas aos oponentes. No sábado, combatentes do grupo mataram quatro homens acusados de sequestro e seus corpos foram pendurados nas ruas da província de Herat.

Foram anunciadas restrições também ao acesso de mulheres à educação, com normas rígidas de vestimenta.

Agora, em aviso publicado em salões de beleza na província de Helmand, no sul do país, oficiais do Talebã alertaram que os cabeleireiros devem seguir a lei Sharia (uma interpretação mais radical da lei islâmica) para cortes de cabelo e barbas.

"Ninguém tem o direito de reclamar", dizia o aviso, visto pela BBC.

"Os guerrilheiros continuam chegando e nos mandando parar de aparar barbas", afirmou um barbeiro em Cabul à reportagem. "Um deles me disse que podem enviar fiscais disfarçados para nos flagrar."

Outro cabeleireiro, que dirige um dos maiores salões da cidade, disse que recebeu um telefonema de alguém que afirma ser um funcionário do governo. Na ligação, foi instruído a "parar de seguir os estilos americanos" e não raspar ou aparar a barba de ninguém.

Volta à linha-dura

Durante a primeira passagem do Talebã no poder, de 1996 a 2001, os islâmicos linha-dura proibiram penteados extravagantes e insistiram que os homens deixassem a barba crescer.

Mas nos últimos 20 anos os visuais bem barbeados se tornaram populares, e muitos homens afegãos iam aos salões em busca de cortes da moda.

Entretanto, os barbeiros e cabeleireiros, que não foram identificados nesta reportagem a fim de protegê-los, dizem que as novas regras estão dificultando seu sustento.

"Por muitos anos, meu salão foi um lugar para os jovens se barbearem como quisessem e estarem na moda", disse um deles à BBC. "Agora não adianta mais manter esse negócio."

"Salões de beleza e barbeiros estão se tornando negócios proibidos", disse outro. "Este foi o meu trabalho por 15 anos e não acho que posso continuá-lo."

Outro barbeiro da cidade de Herat, no oeste do país, disse que embora não tenha recebido nenhuma ordem oficial, ele parou de oferecer cortes de barba.

"Os clientes não raspam a barba porque não querem ser visados ​​pelos combatentes do Talebã nas ruas. Eles querem se misturar e se parecer com eles."

 

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