terça-feira, 30 de novembro de 2021

Pesquisa do IBGE: setor rural e negros sofrem mais com perda de qualidade de vida no país

 Em zonas rurais, o resultado é quase duas vezes pior. Nos domicílios que têm negros como referência, perda é quase 50% m

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O Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) leva em conta moradia e acesso à saúde, alimentação, educação, transporte e lazer
O Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) leva em conta moradia e acesso à saúde, alimentação, educação, transporte e lazer - Catarina Barbosa/Brasil de Fato

Indicador lançado nesta sexta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre qualidade de vida, aponta situação pior entre pessoas que vivem em áreas rurais e em família cuja pessoa de referência é negra.

O chamado índice de perda de qualidade de vida (IPQV) foi de 0,158 entre 2017 e 2018 – quanto mais perto de zero, melhor o resultado. Segundo o instituto, o IPQV “leva em conta moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde e alimentação, educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida e transporte e lazer”.

Assim, na área urbana, esse índice ficou em 0,143, enquanto na rural subiu para 0,246. “Isso significa que na área rural, onde viviam cerca de 15% da população do país, a perda era 1,7 vez maior do que na área urbana”, diz o IBGE.


O IPQV leva em conta moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde e alimentação, educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida e transporte e lazer. / Catarina Barbosa/Brasil de Fato

Brancos e negros

Ainda de acordo com a pesquisa, nas famílias que têm o homem como referência, o índice é de 0,151, enquanto no caso das mulheres sobe para 0,169. Essa diferença é mais expressiva no recorte de cor. Nos domicílios onde a pessoa de referência se declarou branca, o IPQV foi de 0,123. Naqueles em que a pessoa de referência era preta ou parda (classificação usada pelo instituto), sobe para 0,185.

“Isso quer dizer que a perda de qualidade de vida do grupo em que a pessoa de referência é preta ou parda é praticamente 50% acima do que se observa no grupo em que a pessoa de referência é branca”, observa o analista da pesquisa, Leonardo Oliveira. “E essa diferença não é pequena, pois faz com que esse grupo em que a pessoa de referência é preta ou parda concentre 66% das perdas reportadas no Brasil”, acrescenta.

Regiões e faixas de renda

Entre as regiões, Norte (0,225) e Nordeste (0,209) apresentaram os piores resultados. Sul (0,115) e Sudeste (0,127) tiveram o índice abaixo da média nacional, E o do Centro-Oeste foi quase igual (0,159). Segundo o instituto, embora a população seja 35% menor, o Nordeste contribui proporcionalmente mais que o Sudeste para o resultado geral: 35,9% e 33,8%, respectivamente.

A discrepância é notória também entre faixas de renda. No caso dos 10% com menor rendimento, o IPQV foi de 0,260. Na outra ponta, os 10% com maior renda, o indicador cai para 0,063. “Isso significa que a perda de qualidade de vida entre aqueles com menor renda foi mais de quatro vezes superior à do grupo com maior renda”, compara o IBGE.

O instituto apresentou também o índice de desempenho socioeconômico (IDS): o indicador que apresenta a capacidade de a sociedade produzir recursos e convertê-los em qualidade de vida. Assim, o IDS do Brasil, no mesmo período, foi 6,201. Entre as unidades da federação, Distrito Federal (6,970) e São Paulo (6,869) registraram os maiores valores. Os menores foram apurados no Pará (5.099) e no Maranhão (4,897).

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Fronteiras do Brasil seguem abertas, apesar do avanço de nova variante do coronavírus

Ministro da Casa Civil chegou a anunciar fechamento, mas decisão não foi aplicada no Diário Oficial da União.

Enquanto a decisão não é publicada no Diário Oficial da União, o país continua com fronteiras abertas - Nelson Almeida/AFP

Catarina Barbosa

No Brasil de Fato

Mesmo com o avanço da variante ômicron do coronavírus, potencialmente mais contagiosa, o Brasil segue com fronteiras abertas e sem exigência de comprovante de vacinação para entrada no país. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, chegou a anunciar o fechamento das fronteiras brasileiras com seis países de África, mas a decisão ainda não foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Diversos países já endureceram o controle em portos e aeroportos para tentar evitar novas ondas de transmissão.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um comunicado elevando a classificação desta nova cepa do coronavírus (também chamada de B.1.1.529)  para uma “variante de preocupação”, o que significa que ela tem mutações que podem torná-la mais contagiosa. Notificada na África do Sul, a variante é a quinta a receber o alerta da OMS, mas foi a que mudou de classificação com mais rapidez. Até o momento, cientistas afirmam que ela é a variante com maior número de mutações já identificada. 

No Brasil, caso a decisão de fechamento das fronteiras seja publicada no Diário Oficial da União, a expectativa é que ela passe a valer a partir da próxima segunda-feira (29). Inicialmente a proposta é restringir a entrada de passageiros oriundos da África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia, Zimbábue e Eswatini (ex-Suazilândia).

Até o momento, 62,03% da população brasileira completou o ciclo de imunização ao tomar a segunda dose ou a dose única de imunizantes contra a Covid-19.

Na última quinta-feira (25), secretários municipais e estaduais de Saúde manifestaram apoio à recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o governo federal exija um certificado de vacinação contra a covid-19 de viajantes que cheguem de outros países ao Brasil. 


"Na semana passada, número de mortos na Europa aumentou 11%, com uma projeção confiável que prevê 236 mil mortos na região até 1º de dezembro", disse diretor regional da OMS / Arquivo/EBC

Em nota, os gestores chamam a atenção para o aumento do número de casos em países europeus, nos EUA e no Canadá, assim como em países da América do Sul, incluindo Bolívia, Equador e Paraguai. O texto foi assinado pelos presidentes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire.

No entanto, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou que é contrário à cobrança de comprovantes de vacinação nas fronteiras brasileiras. A declaração dele se alinha ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e se baseia no fato de a vacinação não impedir o contágio. Especialistas apontam que, apesar não impedir os imunizantes reduzem a possibilidade de contágio e, consequentemente, a transmissibilidade da covid-19, assim como o agravamento da doença.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta sexta-feira (26) que não foi identificado nenhum caso da variante ômicron do novo coronavírus no Brasil. “A pasta está em constante vigilância e analisa, de forma conjunta com vários órgãos do governo federal, as medidas a serem tomadas”, acrescentou, por meio de nota.

Segundo a OMS, a detecção de uma "variante de preocupação" exigiria ações mais efetivas, como sequenciamento de genoma, comunicação de casos e mutações e realização de investigações de campo e análises laboratoriais para melhor compreender os impactos, a severidade e a efetividade de medidas de saúde pública.

Vale registrar que a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) afirmou que as Américas registraram um aumento de 23% em novos casos na última semana.

Edição: Sarah Fernandes

sábado, 27 de novembro de 2021

Bar Guernica em Porto Alegre recebe ex-guerrilheiros para relembrar os anos de exílio

 

Ex-guerrilheiros contaram suas histórias entre músicas revolucionárias na voz e violão do cancioneiro Ciro Ferreira - Foto: Guilherme Oliveira.


Domingo de sol e poesia no coração da capital gaúcha reuniu Diógenes de Oliveira e Ubiratan de Souza.

Guilherme Oliveira

Brasil de Fato | Porto Alegre

Dois ex-guerrilheiros e um cancioneiro. Entre eles, algumas gerações de diferença. Porém, a arte aproxima tudo. E assim como aproximou Diógenes de Oliveira, Ubiratan de Souza e Ciro Ferreira, aproximou o público de histórias de um tempo em que lutar por seus direitos era um defeito que matava. Eles sobreviveram a noite de trevas que durou 21 anos (1964-1985) e, pela sorte dos presentes, falaram sobre os anos de exílio recordando os diversos países em que viveram.

Diógenes saiu dos porões da ditadura em troca do cônsul do Japão, em 1970. Ubiratan em troca do embaixador suíço, em 1971. Pelo mundo, encontraram figuras mitológicas, como Ernesto Che Guevara e Salvador Allende. Na tertúlia musical "Memórias do Exílio", que ocorreu no último domingo (21), em Porto Alegre, cada país era relembrado por pequenos causos seguidos de músicas cantadas e tocadas no violão por Ciro Ferreira.

Histórias narradas com propriedade por homens que se jogaram de corpo e alma nos processos revolucionários do seu tempo. Se a direita mandava calar, eles respondiam a bala que não iriam aceitar! E assim como o disparo da arma eram os acordes tocados por Ciro, um cancioneiro de mão cheia que fez todo mundo cantar canções como “Y en eso llegó Fidel”.

Uma noite emocionante onde os anfitriões do Guernica foram muito mais do que os donos do bar. A Travessa dos Venezianos por si só já é um charme, mas o local que remete a guerra civil espanhola coordenado por jovens sensíveis e muito progressistas fez parecer que aquele não era o país governado pelo inominável. Mais parecia uma ilha, tipo aquele que se encontra no Caribe! Um ambiente acolhedor, fraterno e digno de entrar para a história, junto com os palestrantes e o músico, como símbolo de resistência contra o fascismo.

Para quem não pode acompanhar no dia, a a cobertura está disponível na página da Rede Soberania, no Facebook.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

OMS: Covid-19 pode matar mais 700 mil na Europa até março

 

Até agora, 1,5 milhão de pessoas morreram na região devido à covid-19 - Barbara Gindl / APA / AFP


Ressurgimento da pandemia deve elevar total de mortos para 2,2 milhões dentro dos próximos quatro meses.

Redação DW

No Brasil de Fato

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta terça-feira (23) que o ressurgimento da pandemia do coronavírus na Europa causará 700 mil mortes adicionais até março se a tendência atual se mantiver.

Através de comunicado, a entidade divulgou a previsão de que os serviços de terapia intensiva estejam sob pressão alta ou extrema "em 49 dos 53 países que compõem a região europeia até 1º de março de 2022", quando as mortes acumuladas deverão superar os 2,2 milhões. Até agora, 1,5 milhão de pessoas morreram na região devido à covid-19.

Para a OMS, o aumento de casos na Europa deve-se a vários fatores: o domínio da contagiosa variante delta, a flexibilização de restrições, a queda das temperaturas e o consequente aumento das reuniões em ambientes fechados, e o grande número de pessoas ainda não vacinadas.

Mortes diárias dobraram desde setembro

Segundo dados oficiais, as mortes ligadas ao coronavírus dobraram desde o final de setembro na Europa, passando de 2.100 por dia para cerca de 4.200, em média.

"A situação na Europa e na Ásia Central é muito grave. Estamos diante de um inverno repleto de desafios", disse o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, pedindo, além da vacinação, medidas de prevenção, como o uso de máscara, higiene e distanciamento físico.

"Para conviver com esse vírus e continuar com nossas vidas diárias, precisamos de uma abordagem que exceda à vacina. Isso significa receber as doses padrão e um reforço, se oferecido, mas também incorporar medidas preventivas em nossas rotinas", ressaltou Kluge.

Segundo a OMS, o uso da máscara reduz a incidência da doença em 53%. Se seu uso fosse generalizado, mais de 160 mil mortes poderiam ser evitadas até 1º de março, segundo a entidade, que também recomendou uma dose de reforço da vacina anticovid para aumentar a eficácia da imunização.

Na Europa, 53,5% da população total já completou o esquema vacinal, mas há grandes diferenças entre os países: enquanto em alguns a taxa não chega a 10%, em outros, ultrapassa os 80%.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Ativista que ficou cega após repressão policial vira senadora mais votada do Chile

 

Fabiola Campillai foi eleita senadora neste domingo no Chile - Reprodução Facebook


Fabiola Campillai perdeu a visão dos dois olhos por uma bomba de gás lacrimogêneo atirada diretamente na face.

Victor Farinelli Opera Mundi

Via – Brasil de Fato

As eleições do Chile realizadas neste domingo (21/11) mostraram outra novidade importante, desta vez na disputa legislativa. A ativista social Fabiola Campillai foi eleita a senadora mais votada do país, com pouco mais de 400 mil votos.

Sua vitória carrega um importante valor simbólico, já que ela é um dos símbolos da repressão durante a revolta social no país, ocorrida entre outubro e dezembro de 2019.

Durante uma manifestação na qual ela não participava – estava em um ponto de ônibus indo para o trabalho –, Campillai foi atingida na cara por uma bomba de gás lacrimogêneo disparada pelos Carabineros (polícia militarizada chilena), o que a levou a perder a visão dos dois olhos.

O caso de Campillai também é bastante relevante no contexto da repressão aos protestos do Chile durante aquele período, já que as lesões oculares foram, na época, os casos mais chamativos de violações aos direitos humanos ocorridos.

Segundo um informe da Unidade de Direitos Humanos do Ministério Público do Chile, houve mais de 600 casos denunciados oficialmente de pessoas que sofreram danos oculares por ação da polícia militarizada chilena entre os meses de outubro e dezembro de 2019, considerando casos de perda total ou parcial da visão de um ou de ambos os olhos. Fabiola foi um dos dois casos de perda total da visão de ambos os olhos – o outro foi o estudante de psicologia Gustavo Gatica.

Em agosto, Fabiola Campillai lançou sua candidatura ao Senado como independente pela região de Santiago, o que a obrigava a ser a mais votada ao menos da capital do país para poder ser eleita, já que não contou com uma coalizão ao seu lado para puxar mais votos.

Foi o que aconteceu: Campillai teve 15,2% dos votos em Santiago, 5% (cerca de 113 mil votos) a mais que o segundo colocado, o conservador Manuel José Ossandón.

Apesar de ser uma candidata independente, sua vitória pode ser considerada como uma vaga para a bancada de esquerda, que aumentou sua representação no Senado, passando a ter 25 cadeiras, somando os assentos que o bloco já possuía. Os partidos de direita também têm 25 vagas.

Na Câmara dos Deputados, as forças de esquerda e centro-esquerda devem ficar com 79 cadeiras na próxima legislatura, enquanto as de direita e centro-direita terão 69. O Partido de la Gente, do presidenciável Franco Parisi, ganhou 7 vagas, e deve servir como fiel da balança no Congresso – por mais que tenha feito campanha dizendo que não era “nem esquerda, nem de direita”, seu eleitorado tende a ser mais conservador.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

As cigarras de novembro

 


Por Emerson Monteiro – No Blog do Crato

Sentar o juízo e ficar só aqui escutando o ciciado das cigarras no escuro da floresta. Deixar de lado irreais preocupações desses tempos e permitir que a natureza converse consigo, decisão mais acertada, sem outra que seja senão deixar que as normas dos céus envolvam o chão neste momento. Ouvir o silêncio das horas lá de dentro dos sentidos atrás dos pensamentos, qual jeito de mergulhar nos sobressaltos e garrotear as ilusões. A gente com a gente mesma, pedaços iguais do mistério das horas em movimento. Nós, enfim, esses escravos senhores dos sóis, o que vem sendo assim desde sempre, quando ninguém seria capaz de aventurar a sorte na roleta dos destinos.

Enquanto isto, as portas do espaço se abrem às falas que nascem dos ares em festa, dos bichos, das matas, do calor do meio dia, das dores e das movimentações dos humanos cá de fora. Todos tendo uma razão parcial de continuar, e continuar, senhores da indecisão. Águas incontidas nas criaturas que percorrem o teto da vontade, instintos de viver solidão por vezes preenchida de longas histórias esquecidas. Gotas suaves, pois, de tantas alegrias atiradas às fogueiras do sonho, porém certas de um quase nada de saber porquê.

Elas, as cigarras, são tais avisos da hora aos mistérios deste sacrifício de tantos autores, sonoras parceiras do amor no coração, toques intermitentes do ritmo e das cores, nisso tudo. Uns padecem horrores diante dos passos que dão a caminho de depois; outros apenas dormem felizes ao prazer do anonimato do que virá sem dúvida.

Senhores dos no entanto, sacodem assim os braços face aos desejos por mais alimento e sofrem as dores do parto da indecisão, inocentes da certeza e dos amores, puros e aparentemente libertos, vítimas das próprias vilezas.

De entremeio, sabiás ponteiam a sinfonia do início de tarde e trinam quais cigarras, numa composição inesquecível de viver a vontade imensa de achar paz que em tudo existirá, afinal.

Em uma data no mês a imortalidade: Rachel e Fernanda, grandes damas

 


Por José Luís Lira (*)

No Blog do Crato

Há 44 anos, o Petit Trianon se engalanava para receber sua primeira imortal, Rachel de Queiroz. Os que presenciaram disseram ter sido um grande acontecimento. A bateria da Escola de Samba Beija-Flor e a torcida do Vasco da Gama tomavam conta da Presidente Wilson, centro do Rio de Janeiro, eterna capital cultural do País, a Cidade Maravilhosa.

Os jornais de todo o Brasil e revistas destacaram a posse de Rachel. Relato de uma pessoa presente à solenidade dizia que pouco depois das 20h40min daquele 4 de novembro de 1977, Rachel levantou os óculos, enxugou uma lágrima e assinou o livro de posse da Academia Brasileira de Letras. O tabu estava quebrado. Uma mulher se tornou imortal. O jornal Hoje da Rede Globo de Televisão anunciava dia 5 de novembro de 1977: “Com voz firme, demonstrando que se preparou muito tempo para aquele momento, Rachel de Queiroz tomou posse ontem na cadeira n° 5, da Academia Brasileira de Letras”.

 Rachel foi a maior romancista de sua geração. Considero-a o maior escritor, mas, talvez me faça suspeito, pelo amor e bem-querer que sempre tive por ela. Aos poucos, adentrei seu mundo e me tornei seu amigo, afilhado de formatura. Vinte e seis anos depois daquele 4 de novembro de 1977, no dia 4 de novembro de 2003, Rachel saia pela última vez do Petit Trianon, dessa vez para o Cemitério São João Batista, não para o Mausoléu da ABL, mas, para ficar junto com seu grande amor, Oyama de Macêdo e hoje lá estão seu cunhado, Namir e sua querida irmã-filha Maria Luíza de Queiroz Salek, a Isinha.

Já falei muito sobre Rachel de Queiroz e ainda falarei, enquanto eu durar, porém, este ano foi o 18° de seu falecimento e como digo sempre, a saudade ainda é frequente e para acalentá-la, vez por outra, pego um de seus livros, seus romances. Mas, nada se compara a ouvi-la, ter sua opinião, no entanto, passados exatos 18 anos, posso afirmar que ela cumpriu – e muito bem – sua missão. Abriu a Academia para as mulheres mesmo antes que a Academia Francesa – que serve de modelo às demais – elegesse Marguerite Yourcenar; firmou o romance regional na Literatura. Foi um ser humano extraordinário.

Pois 44 anos depois da posse de Rachel, a Academia anuncia: “Realiza-se no dia 04 de novembro a eleição para a Cadeira nº 17, vaga com o falecimento do Acadêmico Affonso

Arinos de Mello Franco. Para esta Cadeira, encontra-se inscrita a Senhora Fernanda Montenegro”.

Conheci, pessoalmente, dona Fernanda Montenegro no dia dos 90 anos de Rachel de Queiroz. Simples, autêntica, admirável. Depois a vida vai pontuando as ocasiões. E nós costumávamos dizer que Rachel de Queiroz era a grande dama da Literatura e dizemos que Fernanda Montenegro é a grande dama do cinema e da dramaturgia do Brasil. São duas grandes damas, envolvidas pela amizade e pela arte. E a Academia sempre elege notáveis.

Fernanda Montenegro é notável. Por toda uma vida dedicada à arte, primeira latino-americana e a única brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz; única atriz indicada ao Oscar por uma atuação em língua portuguesa e autora da autobiografia Prólogo, ato, epílogo.

Fernanda e os tantos nomes que recebeu em mais de 70 anos de arte, é eleita para a Casa do Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, com os aplausos de uma Nação.

  Vida longa à nova imortal!

(*) José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com 26 livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Festival Respira Cuba promove turismo após reabertura de fronteiras na ilha caribenha

 


Festival Cultural acontece no próximo dia 27 a partir das 17 horas

Por Jornal GGN O jornal de todos os Brasis

Festival Respira Cuba promove turismo após reabertura de fronteiras na ilha caribenha

Da Página do MST

Nomeado como Respira Cuba, o festival tem como objetivo promover o turismo para brasileiros que desejam conhecer uma das ilhas mais belas do Caribe, rica de história e cultura. As fronteiras de Cuba reabriram oficialmente aos turistas de forma segura no dia 15/11, após a absoluta maioria da ilha estar vacinada e contando também com o avanço da vacinação pelo mundo.

“Cuba reabrirá sua fronteira de maneira parcial e controlada. Você poderá ir a um destino paradisíaco e com segurança. Temos um povo hospitaleiro e amigável, com instalações confortáveis e reformadas”, aponta o cônsul geral de Cuba no Brasil, Pedro Monzón. O Consulado Cubano no Brasil convida para o Festival Respira Cuba, que será realizado de forma virtual.

Na programação do Festival, estão previstas apresentações musicais com os grupos Obini Batá, Orquestra Aragon e Los Muñequitos de Matanza. Durante a live, os espectadores aprenderão receitas típicas da culinária cubana e da coquetelaria caribenha, atrativos de dar água na boca a qualquer um que visite Cuba. Ainda, uma série de depoimentos de turistas que já estiveram na ilha serão partilhados para dar aquele gostinho em quem está prevendo um novo destino turístico para suas férias.

O passeio turístico virtual no formato de Festival ainda navegará pelas belezas de Cuba, estampadas em sua arquitetura, o forte teor histórico do país, além das exuberantes praias de azul caribenho. E para aqueles que pretendem se organizar para visitar a ilha neste momento de reabertura, o Festival traz de forma pedagógica os indicativos de quais procedimentos serão necessários, no que tange a protocolos sobre a vacinação e ritos de imigração.

O Festival Respira Cuba será transmitido pela TVT e uma série de páginas parceiras da imprensa popular e movimentos sociais brasileiros. A condução da programação fica a cargo dos apresentadores Judite dos Santos e Giovanni Del Prete. Entre as figuras ilustres na live está o jornalista e escritor Fernando Morais, autor do livro “A Ilha” e recorrente visitante de Cuba.

Serviço

O que: Festival Respira Cuba

Data: 27/11

Hora: 17 horas

Onde assistir: No Youtube da TVT e páginas parceiras no Facebook; E às 18h na TVT

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Dinossauro banguela é descoberto no Paraná

 

Reconstituição artística de Berthasaura leopoldinae. Crédito: arte de Maurilio Oliveira/Museu Nacional


Esqueleto em bom estado de conservação foi encontrado em Cruzeiro do Oeste, no noroeste paranaense.

Texto: Ana Cristina Campos | Agência Brasil

Pesquisadores apresentaram nesta quinta-feira (18) a descrição de uma nova espécie de dinossauro, batizada de Berthasaura leopoldinae. De porte pequeno, com aproximadamente 1 metro de comprimento, viveu no período Cretáceo, onde hoje está situado o município de Cruzeiro do Oeste, noroeste do Paraná.

O artigo dos pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado – Celempao (Mafra, SC) foi publicado hoje (18) na revista científica Nature.

O esqueleto de Berthasaura leopoldinae foi encontrado em escavações conduzidas pela equipe de paleontólogos do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado e do Museu Nacional, em um corte de estrada rural em Cruzeiro do Oeste.

Na última década, dezenas de fósseis foram coletados na região. Crédito: Museu Nacional

Dinossauro sem dentes

“Na última década, dezenas de fósseis foram coletados nessa região, o que levou à descrição de novas espécies, particularmente de pterossauros. Essa nova descoberta de um dinossauro, o segundo da região, mostra a importância daquele sítio fossilífero que chamamos de Cemitério dos pterossauros”, disse o geólogo do Celempao Luiz Weinschütz, que coordenou as escavações.

“Os materiais fósseis são muito bem preservados e, por isso, têm fornecido várias informações importantes a respeito desse ecossistema que representa um oásis no meio de um deserto do Cretáceo”, afirmou o pesquisador Everton Wilner, também do Celempao. A idade dos depósitos ainda é incerta, devendo se situar entre 70 e 80 milhões de anos.

A maioria dos dinossauros encontrados no Brasil podem ser divididos em dois grandes grupos: os saurópodes e os terópodes. Berthasaura é um terópode pertencente aos abelissaurídeos, importantes componentes das faunas do hemisfério sul no período Cretáceo, disse o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, que participou de algumas escavações em Cruzeiro do Oeste e é um dos autores do artigo.

“Temos restos do crânio e mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica e membros anteriores e posteriores, o que torna Bertha um dos dinos mais completos já encontrados no período Cretáceo brasileiro”. Mas, segundo Kellner, o que torna esse dinossauro genuinamente raro é o fato de ser um terópode desprovido de dentes, o primeiro encontrado no país.

Bico como o das aves

Para se ter certeza dessa condição, foi feito um estudo, no Laboratório de Instrumentação Nuclear da Coppe/UFRJ, utilizando a microtomografia computadorizada. “Aplicar técnicas que são comuns em outras áreas de pesquisa em fósseis, como a tomografia, é algo que tem nos fascinado muito”, disse o professor Ricardo Tadeu Lopes, que coordena o laboratório.

Segundo o aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional/UFRJ Geovane Alves Souza, que desenvolveu a pesquisa como parte de sua tese de doutorado, “além de a Berthasaura não possuir dentes, a espécie também não apresentava qualquer sinal da existência de cavidades portadoras de dentes (alvéolos) na mandíbula e no maxilar e a microtomografia da mandíbula confirmou que não era apenas um artefato de preservação, mas, sim, uma feição desse novo dinossauro.”

O pesquisador acrescentou que foram identificados marcas e sulcos sugerindo a presença de um bico córneo (de queratina), semelhante ao que ocorre nas aves hoje em dia. “É difícil confirmar se a Berthasaura poderia ter usado seu bico para rasgar nacos de carne, assim como os gaviões e urubus fazem hoje em dia, ou se o bico seria utilizado para cortar material vegetal. Vivendo em uma área restrita como o deserto, esse dinossauro deveria se alimentar do que estivesse disponível, tendo provavelmente desenvolvido uma dieta onívora.”

Homenagem tripla

O nome do dinossauro é uma homenagem “tripla”, como destacou a pesquisadora Marina Bento Soares: “Bertha se refere à professora/pesquisadora Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976), bióloga do Museu Nacional/UFRJ e uma das principais líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras.”

A pesquisadora também explicou que o epíteto específico leopoldinae homenageia tanto a imperatriz brasileira Maria Leopoldina (1797–1826), que foi uma grande entusiasta das ciências naturais e uma das principais responsáveis pela independência no Brasil, como também a escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, que homenageou o Museu Nacional como o tema do seu desfile na Marquês de Sapucaí em 2018.

Via - Planeta

sábado, 20 de novembro de 2021

Centrais sindicais: 20 de Novembro “de luta contra Bolsonaro racista”

 


“Dar fim ao governo criminoso e racista de Jair Bolsonaro é um requisito essencial para que o país possa reencontrar o rumo do desenvolvimento com igualdade e justiça social”, afirmam as entidades

Por André Cintra

Portal Vermelho

As centrais sindicais se somarão às entidades do movimento negro para celebrar o 20 de Novembro – Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra. Em nota divulgada nesta quinta-feira (18), presidentes das centrais afirmam que a data será um “dia de luta contra Bolsonaro racista”, numa nova rodada de mobilizações pelo #ForaBolsonaro.

“A classe trabalhadora brasileira é negra e, por isso, o movimento sindical irá às ruas em todo o Brasil junto com a população negra e com todas as pessoas comprometidas com a defesa da igualdade racial, da vida, da democracia, contra o desemprego, a carestia e a fome”, afirmam as centrais. “Dar fim ao governo criminoso e racista de Jair Bolsonaro é um requisito essencial para que o país possa reencontrar o rumo do desenvolvimento com igualdade e justiça social.”

Confira abaixo a íntegra da nota.

20 de novembro – Dia da Consciência Negra é dia de luta contra Bolsonaro racista

O Movimento Sindical vai às ruas no sábado, 20 de novembro, em todo o Brasil, junto com movimentos negro e populares em defesa da igualdade racial, da vida, da democracia, contra o desemprego, a carestia e a fome 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, marca a morte de um dos maiores lutadores contra a escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares, e passou a ser celebrada pelo Movimento Negro a partir da década de 1960 como uma forma de valorização da comunidade negra e da sua contribuição à história do país. A data é oficializada pela lei nº 12.519/2011 e marca a resistência do povo negro contra a escravidão e a luta contra o racismo no Brasil.

O trabalho de negros e negras escravizados está na raiz da acumulação capitalista e oligárquica brasileira. A abolição da escravatura, tardia e inacabada, faz com que o racismo seja uma característica marcante da estrutura de classes e da sociedade brasileira até os dias de hoje. A população negra é maioria entre os desempregados e também entre aqueles nos postos de trabalho mais precários e informais. A periferia dos grandes centros urbanos marcada pela moradia precária, pela ausência de infraestrutura social e pela carência de políticas públicas é majoritariamente negra.

É por isso que o descaso no combate à pandemia, o aumento da fome, do desemprego, a alta geral dos preços e o consequente caos econômico e social pelo qual passa o país impactam, primeiramente e com mais intensidade, à população negra e pobre.

A ação, a inércia e as posições do presidente da República e de seus aliados reacionários e conversadores reforçam e apoiam a violência e a hostilidade que discriminam, agridem e matam corpos pretos todos os dias, ao mesmo tempo em que negam e tornam invisíveis o caráter estrutural do racismo no Brasil.

Superar o racismo é uma exigência fundamental para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa. Garantir o direito ao trabalho decente e protegido para a população negra é um dos caminhos para reparação de uma história de exclusão e desigualdade e garantia de futuro diferente. Dar fim ao governo criminoso e racista de Jair Bolsonaro é um requisito essencial para que o país possa reencontrar o rumo do desenvolvimento com igualdade e justiça social.

A classe trabalhadora brasileira é negra e, por isso, o movimento sindical irá às ruas em todo o Brasil junto com a população negra e com todas as pessoas comprometidas com a defesa da igualdade racial, da vida, da democracia, contra o desemprego, a carestia e a fome, neste sábado, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

#20NForaBolsonaroRacista

Brasil, 17 de novembro de 2021

Sérgio Nobre, Presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

Miguel Torres, Presidente da Força Sindical

Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

José Reginaldo Inácio, Presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)

Antonio Neto, Presidente da CSB, (Central dos Sindicatos Brasileiros)

Atnágoras Lopes, Secretário Executivo Nacional da CSP-Conlutas

Edson Carneiro Índio, Secretário-geral da Intersindical (Central da Classe Trabalhadora)

José Gozze, Presidente da Pública, Central do Servidor

Emanuel Melato, Intersindical Instrumento de Luta

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Desmatamento na Amazônia Legal tem aumento de 21,97% em 2021

 

— Foto: Leandro Santana/Ascom PCPA via Fotos Públicas


O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta quinta-feira (18) que a taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira (ALB) ficou em 13.235 quilômetros quadrados (km²) no período de 1 agosto de 2020 a 31 julho de 2021. O índice apurado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) representa um aumento de 21,97% em relação à taxa de desmatamento do período anterior.O fim do desmatamento ilegal é chave para o Brasil atingir a meta de redução de redução de carbono a que se propôs durante a conferência climática COP26, em Glasgow.

O mapeamento é feito com base em imagens do satélite Landsat ou similares e considera como desmatamento a “remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas”.

Conforme os dados do Inpe, os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia correspondem a 87,25% do desmatamento estimado na Amazônia Legal, sendo o Pará o estado com maior contribuição absoluta de desmatamento (5.257 km2) e também o estado com menor variação percentual de desmatamento (7,31%).

Desmatamento na Amazônia Legal – Divulgação/Inpe

O fim do desmatamento ilegal é chave para o Brasil atingir a meta de redução de redução de carbono a que se propôs durante a conferência climática COP26, em Glasgow, que terminou no último domingo após duas semanas de prioridade entre os países.

Neste momento, os ministérios do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e da Justiça, Anderson Torres, fazem um pronunciamento em Brasília para apresentar ações de combate ao desmatamento.


Via Portal Vermelho

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Crise no Inep explicita descaso do governo federal com educação

 


Há poucos dias do Enem, um grupo de servidores do Inep, que coordena o exame, solicitou afastamento dos seus atuais cargos e funções. Para especialistas da USP, situação reflete desmonte da Educação no País

Por Denis Pacheco

No Portal Vermelho

Após enfrentarem mais de um ano de pandemia, estudantes brasileiros de todas as regiões do País precisam lidar com um novo desafio no final de 2021, o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

Ainda que bem-vindo, já que serve como uma das principais portas de entrada para a universidade, neste ano, o exame se vê cercado por uma crise preocupante que envolve a organização responsável pela prova, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Há poucos dias da avaliação, que será aplicada em 21 e 28 de novembro, um grupo de servidores do Inep solicitou afastamento dos seus atuais cargos e funções. O que começou com um pedido coletivo de dispensa de cargo, inicialmente assinado por 13 servidores, cresceu para englobar um conjunto de 37 funcionários que, até o dia 8 de novembro, citaram ”falta de comando técnico” e “clima de insegurança e medo”, promovido pela gestão atual do presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro.

Também conhecidos como funcionários de carreira, os exonerados deixam apenas seus cargos comissionados, mas permanecem trabalhando no órgão, sem exercerem função de coordenação ligada ao Exame.

Em mensagem enviada à diretoria, o grupo afirma que a solicitação “não se trata de posição ideológica ou de cunho sindical”. Além disso, os funcionários reiteram que Dupas Ribeiro promoveu um desmonte no órgão, com decisões sem critérios técnicos, segundo denúncia da Associação de Servidores do Inep (Assinep).

A preocupação levantada pela atual crise acomete o Enem, que, com pouco mais de 3,4 milhões de inscritos neste ano, fica sob risco de falhas em sua aplicação. Em nota oficial, o Inep confirmou a data de aplicação das provas e defendeu que elas não serão afetadas pelos pedidos de demissão. O ministro da Educação, responsável pela indicação de Dupas Ribeiro à presidência do Inep, ainda não se pronunciou sobre a crise.

A complexidade do Enem

Renato Janine Ribeiro –Para Renato Janine Ribeiro, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e ex-Ministro da Educação, a situação atual é vista “com muita preocupação”.

A crise na gestão “indica realmente que nem o Inep nem o MEC dão a devida importância a esse exame que é o segundo maior do mundo, somente superado pelo Gaokao, na China”, alerta Janine Ribeiro.

De acordo com o professor, a diminuição no número de inscrições em relação aos anos anteriores, em especial dos estudantes mais pobres, já dava o alerta para a edição de 2021.

“O fato de haver poucas inscrições indica um certo desânimo”, comenta o ex-ministro. “É possível que muitos alunos de escola pública acreditem que não vão poder concorrer por causa do ensino remoto de pouca qualidade, oferecido durante a pandemia.”

Para ele, é urgente que o presidente do Inep receba os funcionários exonerados para uma série de conversas, antes da aplicação da prova. “O presidente do Inep precisa tomar as medidas que não tomou até agora. Ele tem que receber os demissionários e atender os pedidos deles, porque são pessoas que entendem do assunto muito mais do que o próprio ministro da Educação e muito mais do que o presidente do Inep”, pontua.

Fato é que o Enem é um dos exames educacionais mais complexos do mundo, já que o Brasil é um país de dimensões continentais, que sofre com a desigualdade de suas diferentes regiões, mas que precisa aplicar uma prova de maneira equânime e simultânea para todos. E é papel da equipe de coordenação do Inep garantir a segurança deste processo, não apenas nas etapas anteriores à prova, mas principalmente durante sua execução.

“O Enem exige uma logística muito boa que foi sendo aprimorada ao longo dos anos”, comenta o professor ao enumerar as situações de emergência que podem afetar a realização do exame. “Por exemplo, cada pacote de provas tem um relógio que indica a hora em que ele foi aberto; se (o pacote) for aberto antes da hora devida, isso pode indicar fraude.” Se um carro que entrega as provas sofrer um acidente, faltar luz em uma escola que aplica ou, por algum motivo, juízes de primeira instância tentarem impedir a aplicação da avaliação via liminar, a equipe do Inep precisa estar a postos para intervir e resolver a crise. “E a equipe que se exonerou lida com esse tipo de emergência”, reforça Janine Ribeiro.

De onde veio a crise

Daniel Tojeira Cara

“O governo Bolsonaro sempre interpretou o Enem como algo a ser desconstruído, como um entrave às políticas da gestão, e não como uma política de Estado, de democratização do acesso ao ensino superior”, sintetiza Daniel Tojeira Cara, professor e pesquisador da Faculdade de Educação (FE) da USP.

Para ele, embora todo vestibular tenha componentes excludentes, nas últimas décadas, o Enem se transformou em um exame “bem estruturado e inteligente”, que permite ingresso em universidades no Brasil e até fora dele.

Em 2021, a prova recebeu diversos ataques que partiram de dentro da gestão federal, exigindo até mesmo a intervenção da Justiça, que decidiu que não iria acatar o pedido da Defensoria Pública da União sobre a isenção da taxa de inscrição do Enem 2021 para quem faltou ao exame por medo da pandemia.

“O governo atual considera que o conhecimento estabelecido em avaliações como o Enem seja um conhecimento com viés ideológico, e o resultado disso são ataques em diversas formas”, argumenta Cara. Para ele, isso gerou uma crise interna no Inep que, em novembro, tomou enormes proporções. “O que o Danilo Dupas decidiu fazer neste ano foi responsabilizar os servidores pelos equívocos da gestão. Ele deixou de investir no caráter logístico do Enem e, ao mesmo tempo, foi responsabilizando os servidores pelas decisões que deixava de tomar”, afirma.

A logística do Enem envolve, entre outros aspectos, a segurança da prova, que já passou por diversas crises no passado.

Na opinião do professor, a equipe tomou uma “decisão acertada” ao se afastar dos cargos de coordenação, ainda que permaneçam como funcionários do instituto. “Eles continuam fazendo a gestão do exame, mas sem a responsabilização”.

Para Cara, a saída estrutural para a crise só poderá ser alcançada na mudança do governo. “Enquanto estivermos sob o governo Bolsonaro, o Enem estará sob ataque.”

Reynaldo Fernandes

Para Reynaldo Fernandes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP e presidente do Inep entre 2005 e 2009, existe uma clara “queda de braço entre funcionários e o [atual] presidente do Inep”, entretanto, “espera-se que, a essa altura, todas as questões estruturais envolvendo o Enem já estejam equacionadas”.

Evidentemente, de acordo com o professor, percalços podem acontecer durante a execução do exame, por isso “são feitas comissões que ficam de plantão para resolver problemas” e a ausência dos funcionários exonerados pode impactar na solução desses possíveis conflitos.

Sobre a motivação por trás dos afastamentos, Fernandes teoriza que a insatisfação dos funcionários não surgiu agora. “A informação que eu tenho é que há uma certa insatisfação já há muito tempo. Foram várias trocas de ministro, trocas de presidente [do Inep], falta de continuidade na gestão”, lista ele com receio.

Preencher o vácuo deixado pelos coordenadores deveria ser prioridade para o Inep, na opinião do ex-presidente.

Mozart Ramos

De acordo com o professor Mozart Neves Ramos, especialista em educação pública, ex-secretário de Educação do Estado de Pernambuco e atual titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP-Polo de Ribeirão Preto, “só se faz educação se tiver diálogo permanente, tanto horizontal quanto vertical. Ou seja, é preciso conversar entre seus pares, mas também conversar com o pessoal técnico, para melhorar os processos e resultados da instituição”.

A ausência de conversa entre funcionários e o comando do Inep, teoriza Ramos, não surgiu com a gestão de Dupas Ribeiro, embora possa ter sido exacerbada durante o período. “Essa crise vem se arrastando em alguns momentos de maneira quase que silenciosa, em outros,

com ruído bastante elevado”, afirma o professor ao lembrar que o presidente anterior do órgão, Alexandre Lopes, foi exonerado em fevereiro deste ano.

“O então presidente Alexandre vinha articulando, com diferentes setores de educação, o aperfeiçoamento dos processos educativos, que incluíam o próprio Enem, em função de uma mudança importante do novo ensino médio. Ele foi subitamente exonerado e aí veio o atual presidente, uma pessoa de confiança do ministro da Educação, mas que não estava a par da estrutura do Inep”, conta ele.

O professor também concorda que a insatisfação da equipe diante da falta de diálogo e do possível desconhecimento de Dupas Ribeiro sobre o funcionamento do instituto pode ter levado o grupo aos afastamentos. “Era melhor não estar na função para não incorrer em insucesso”, sumariza Ramos.

“Não ter aberto o diálogo com esses técnicos num momento tão crucial é uma demonstração do que não se faz. A educação exige esse diálogo permanente, mesmo quando temos posições distintas”, defende o professor.

“Intervenção saneadora”

José Marcelino de Rezende Pinto

Para José Marcelino de Rezende Pinto, professor e pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e ex-diretor do Inep, os profissionais envolvidos na coordenação do Enem são “muito qualificados” e ao tomarem uma atitude radical como a exoneração coletiva dão motivo para preocupação geral.

A atitude firme, para o professor Rezende Pinto, envolve defender os interesses dos milhões de estudantes que prestarão a prova nos próximos dias, boa parte deles, prejudicada pela

pandemia. “O Brasil já é um país de acesso à educação superior extremamente excludente”, reforça.

Na opinião dele, diante da crise, as medidas cabíveis deveriam envolver inclusive o Congresso Nacional. “Não adianta chamar apenas o presidente do Inep, precisaríamos da atuação do Congresso Nacional, precisamos chamar esses servidores, principalmente aqueles que

ocupavam cargos estratégicos em relação ao exame, para tentar entender o que está acontecendo, e o que são essas acusações”, postula o especialista.

Além de convocar os funcionários para esclarecimentos, o professor avalia se o adiamento da prova seria uma possível solução a essa altura do ano. “O adiamento do Enem é algo que gera impactos gigantescos, e isso nos preocupa.”

Para o professor, para contornar o problema e evitar novas crises, seria necessária uma “intervenção saneadora”, não apenas no Inep, mas no próprio Ministério da Educação, quem sabe, envolvendo até mesmo o Poder Judiciário.

Ao longo da entrevista, o ex-diretor do Inep relembra momentos em que o atual ministro, Milton Ribeiro, o quarto a assumir a pasta durante o governo de Jair Bolsonaro, foi pivô de polêmicas envolvendo o acesso ao ensino superior no Brasil.

Em entrevista à TV Brasil, Ribeiro afirmou que as “vedetes” do futuro seriam os institutos federais, capazes de formar técnicos. As universidades, segundo ele, “não são tão úteis à sociedade”.

Outra polêmica envolveu uma crítica do ministro ao conteúdo cobrado em edições anteriores do Enem. Em entrevista à CNN Brasil, em junho deste ano, ele citou uma pergunta sobre a diferença salarial entre os jogadores Neymar e Marta, e outra que aborda o dialeto de gays e travestis (pajubá).

Na mesma ocasião, o ministro manifestou o desejo de ter acesso prévio ao exame para evitar o que chama de “questões de cunho ideológico”. Foi necessária uma declaração do presidente do Inep, Dupas Ribeiro, esclarecendo que o ministro da Educação não participaria da elaboração do exame.

Levando tudo isso em consideração, o professor Rezende Pinto vai mais longe e coloca em foco questões estruturais que envolvem a atual gestão do ministério. “Hoje quando você analisa, por exemplo, o orçamento do MEC em relação ao melhor ano, 2012, o atual gasto federal com educação superior está menos da metade, corrigido pela inflação, em relação ao de nove anos atrás. Quer dizer, tivemos uma expansão muito grande até 2016, o Brasil praticamente dobrou as vagas nas universidades federais. O que foi uma grande conquista, mas, a partir do governo Temer e principalmente do governo Bolsonaro, começou um corte sistemático”, conta ele.

 Para os especialistas, a crise demonstra a despreocupação do atual governo com a educação no Brasil. De acordo com o ex-ministro Janine Ribeiro, “o MEC é muito complexo, mas você tem um corpo técnico muito adequado, você precisa escutá-lo. Você não constrói uma equipe qualificada da noite para o dia”.

“É muito fácil destruir, mas muito difícil construir”, finaliza o professor.

Para saber mais

Criado em 1937, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Seu principal objetivo “é subsidiar a formulação de políticas educacionais dos diferentes níveis de governo com intuito de contribuir para o desenvolvimento econômico e social do País”.

Sob sua responsabilidade estão diferentes exames e indicadores educacionais: o Sistema Nacional da Educação Básica (Saeb), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por exemplo.

O Enem foi instituído em 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Em 1999, o Inep esclareceu que as universidades tinham liberdade para usar os resultados do Enem na seleção de alunos que ingressariam no ensino superior.

Em 2009, o exame aperfeiçoou sua metodologia e passou a ser utilizado como mecanismo de acesso à educação superior. As notas do Enem passaram a ser usadas para acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa Universidade para Todos (ProUni).

Inicialmente, a USP oferecia o aproveitamento parcial das notas do Enem na primeira fase do vestibular. A partir de 2015, o ingresso de novos alunos de graduação da USP passou a ser realizado, também, por meio do Sisu.

Pela primeira vez em 40 anos, a USP promoveu uma mudança na forma de ingresso na Universidade, que até então era feita apenas pela prova da Fuvest.

Do Jornal da USP com informações do site do Inep e da Assessoria de Comunicação da Fuvest.

informações do site do Inep e da Assessoria de Comunicação da Fuvest

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Bolsonaro se afunda ao mentir sobre Amazônia, avaliam parlamentares

 


O discurso do presidente sugerindo que a Amazônia por ser “uma floresta úmida, não pega fogo” foi prontamente repelido no Congresso Nacional.

Por Iram Alfaia

No Portal Vermelho

Nesta segunda-feira (15), em discurso a investidores árabes em Dubai, Bolsonaro mentiu sugerindo que a Amazônia por ser “uma floresta úmida, não pega fogo”. Isso acontece após o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgar, na sexta-feira (12), um novo recorde de desmatamento na região em outubro (877 km²). De acordo com o mesmo órgão, somente este ano foram 70.600 focos de queimadas no local.

O discurso do presidente foi prontamente repelido no Congresso Nacional. Na opinião de várias lideranças, a fala dele depõe contra o próprio governo por não representar a realidade. Dados do Imazon, por exemplo, revelam que a Amazônia perdeu 10.476 km² de floresta entre agosto de 2020 e julho de 2021. Trata-se da maior devastação dos últimos 10 anos.

“Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem e um passeio pela Amazônia é algo fantástico, até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo. Os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia, não são justos. Lá, mais de 90% daquela área está preservada. Está exatamente igual quando foi descoberto no ano de 1.500”, disse Bolsonaro.

“A frase só depõe contra o próprio governo ao confinar que as queimadas sempre são decorrentes de ação humana e aumentam com a falta de fiscalização”, disse o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM).

O líder do PCdoB na Casa, Renildo Calheiros (PE), considerou que a fala de Bolsonaro está desconectada da realidade. “O presidente afirmou que 90% dela está preservada, embora ela tenha perdido 16% do bioma e 19% da área original”, explicou.

 A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) diz que Bolsonaro envergonha o Brasil. “Dados oficiais mostram que a floresta enfrenta recordes de queimadas e desmatamento. O governo promove o maior desmonte das políticas de preservação ambiental. O país só perde com esse ecocida mentiroso”, criticou.

Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), enquanto a questão climática e ambiental for tratada com chacota, teremos muito o que temer sobre o futuro. “O que acontece na Amazônia é grave, e o governo federal mente com desfaçatez aos olhos do mundo. É absurdo, é imoral”, criticou.

“A quem Bolsonaro pensa que ainda engana? Por diplomacia, outros países podem até fingir que acreditam nele, mas o mundo já entendeu o que se passa aqui, para nossa vergonha e tristeza”, reagiu o líder da Oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).

Turismo bolsonarista

O líder do PT, Bohn Gass (RS), escreveu numa rede social: “Só um idiota acreditaria que a Amazônia não incendeia e que o Brasil cresce mais do que a média. Mas foi o que disseram Bolsonaro e Guedes aos investidores de Dubai. Ou eles acham que seus ouvintes são imbecis, ou foram mesmo fazer turismo às custas do povo. #MamataEmDubai.”

A vice-líder do PSOL, Fernanda Melchionna (RS), chamou o presidente de mitomaníaco. “Em Dubai, disse q a Amazônia está igualzinha desde 1500. Já Guedes, disse q o Brasil cresce acima da média. Passam vergonha achando q alguém em algum lugar do mundo ñ enxerga o desastre no qual este desgoverno transformou o país”, postou.

“Bolsonaro mente em Dubai sobre a preservação da Amazônia. Já Guedes, inventa para os investidores árabes que o Brasil está crescendo ‘acima da média’. O desgoverno Bolsonaro tenta vender, em pleno deserto, a imagem de um país que não passa de uma miragem. #mamataemdubai”, protestou no Twitter o senador Humberto Costa (PT-PE).

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Quinto oceano da Terra é finalmente reconhecido

 

O reconhecimento do oceano Antártico ou Austral como o quinto oceano da Terra gerou várias controvérsias até hoje.

Por Laura Faz

Desde 1915, quando a National Geographic Society começou a fazer mapas mundiais, só eram reconhecidos quatro oceanos: o Atlântico, o Pacífico, o Índico e o Ártico.A National Geographic Society reconheceu o corpo d'água que circunda a Antártica como o quinto oceano do mundo. Veja aqui as controvérsias sobre esta área do oceano global que existiram por vários anos e as características que a tornam única.

Foi só no dia 8 de junho - por conta do Dia Mundial dos Oceanos - que esta sociedade, fundada em 1888 nos Estados Unidos para promover o conhecimento da geografia mundial, reconheceu como Oceano Austral o corpo d'água que circunda completamente a Antártica até 60 graus de latitude sul, excluindo a Passagem de Drake e o Mar de Scotia, e "mistura-se" com as águas de três outros oceanos.

Embora muitos países tenham identificado o Oceano Austral ou Antártico nos seus documentos cartográficos durante vários anos, o IHO (Organização Hidrográfica Internacional) reconheceu-o oficialmente em 1937 mas, em 1953 revogou a denominação devido à forte controvérsia que existia sobre o assunto e que se mantém até hoje. Os acusadores têm considerado estas águas gélidas como parte dos oceanos que convergem na parte sul do planeta, sem reconhecer as peculiaridades que as diferenciam.

Outras entidades internacionais como o Grupo das Nações Unidas de Especialistas em Nomes Geográficos (UNGEGN), que é responsável por padronizar os nomes de formações geográficas e marinhas, também não reconheceram formalmente o Oceano Austral. No entanto, o BGN (Conselho de Nomes Geográficos) dos Estados Unidos, desde 1999 já o chama como "Southern" e a agência norte-americana NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) desde fevereiro deste ano (2021) reconheceu que é diferente dos demais oceanos.

Um oceano muito diferente dos outros

Ao contrário dos outros, o Oceano Austral ou Antártico não é limitado pelas áreas continentais circundantes, mas por uma corrente de água chamada Corrente Circumpolar Antártica (CCA), que passa em torno do continente antártico. No interior desta corrente, que se desloca de oeste para leste em torno da Antártica, as águas são mais frias e menos salgadas.

Curiosamente, a chamada "correia transportadora", que é um sistema de circulação global da água que transporta calor por todo o planeta, é fortemente influenciada pela CCA, que atrai as águas dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e as impulsiona ao longo do seu percurso.

Por enquanto, as águas frias da CCA mantêm o Oceano Austral e o continente Antártico (que são o lar de espécies endêmicas em ecossistemas protegidos da predação humana), a salvo do impacto das mudanças climáticas.

A National Geographic Society, reconhecendo que no futuro irá individualizar o Oceano Austral, teve o propósito de dar visibilidade a esta massa oceânica e promover uma campanha para a sua proteção.

Via -Tempo.Com