quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

EDUCAÇÃO AMEAÇADA

 


Como vem se estruturando uma coalizão conservadora em defesa da “escola neutra.”

Por Amanda Mendonça e Pâmella Passos

Da Mórula Editorial

O Brasil vivencia nos últimos anos uma conjuntura que reúne episódios graves e constantes de ataques aos direitos humanos. Somado a este fator temos a retirada de direitos sociais básicos, como o acesso a alimentação, moradia, saúde, educação e trabalho. Um cenário onde o desmonte do Estado, a desproteção social e a insegurança da população são direcionados para uma suposta ameaça de destruição da família e da ordem moral hegemônica.

Assim, sentimentos como o medo, o temor de uma possível mudança nas estruturas sociais conhecidas pela maioria da população, vêm sendo produzidos e acionados como parte do projeto de poder em curso no país. Uma parcela significativa deste projeto, que garante sua existência, consiste na construção de um inimigo. E é neste contexto que o “professor doutrinador”, ou o novo inimigo, ganhou notoriedade nos últimos anos no Brasil.

Para falar sobre a construção deste novo inimigo, Pâmella Passos e Amanda Mendonça recuperam a trajetória de um dos grandes responsáveis por esta invenção: o Movimento Escola sem Partido (MESP). Tal movimento, ao defender uma suposta neutralidade pedagógica, acusa educadores de influenciar seus alunos exercendo sobre eles um poder de persuasão comparado a uma patologia. O MESP passou a reunir uma diversidade de atores, combinando, fundamentalmente, setores da direita intelectual e partidária do país, a cúpula religiosa cristã e setores do empresariado brasileiro — uma atuação combinada de agentes através de uma coalizão conservadora em defesa da “escola neutra”. Consolida-se um cenário em que a família está em risco, a educação das crianças corre perigo e o professor é parte importante desta ameaça.

Através de pequenos exemplos, as autoras desenvolvem um quadro sobre as perseguições a docentes no Brasil, identificando o período de acirramento destas perseguições, os principais argumentos e ferramentas. Este texto busca contribuir com análises de como tais perseguições ocorrem e na produção futura de dados sobre em que segmentos de ensino, áreas de conhecimento e regiões do país (pequenas e grandes cidades) elas vêm acontecendo com mais frequência.

No Jornal GGN

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