quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Exército se descola de Bolsonaro, defende vacina e proíbe fake news

 

Atuação do Exército durante a pandemia

Militares devem se vacinar, usar máscara e não divulgar fake news, determinam diretrizes do Exército para o combate à Covid-19. Documento é assinado pelo comandante, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Por Cezar Xavier

No Portal Vermelho

O comando do Exército divulgou as diretrizes para o combate à Covid-19 e surpreendeu ao expressar abertamente posicionamento contrário ao comandante supremo das Forças Armadas, Jair Bolsonaro, não dando margem para negacionismo científico entre os militares. Entre as orientações que os militares devem seguir, estão a vacinação para quem retornar ao trabalho presencial, o distanciamento, o uso de máscaras e a proibição de espalhar fake news sobre a pandemia.

Apesar de tardias, as diretrizes revelam um descolamento dos militares do presidente que derrete nas pesquisa de opinião pública e vê seu governo sendo rejeitado pela maioria. Além de ter sua imagem arranhada pelo governo, os militares temem ser responsabilizados por crimes contra a saúde pública ao manter o negacionismo do ex-ministro general Eduardo Pazuello, denunciado na CPI da Covid no Senado. Dados revelando a alta taxa de negacionismo vacinal nas Forças Armadas, divulgados esta semana, podem ter gerado a reação entre os militares.

As Forças Armadas exigem que seus servidores se vacinem contra febre amarela, tétano e hepatite B – mas não contra a covid-19. A Marinha tem se recusado a informar dados sobre vacinação ou diretrizes sobre o assunto.

O documento, assinado pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deixa claro que o objetivo é o retorno pleno de todas as atividades administrativas e operacionais e que isso é possível devido ao avanço da vacinação contra a Covid, desde que sejam respeitadas as normas sanitárias de estados e municípios, além das recomendações do Ministério da Saúde.

O comandante determina ações de proteção individual e a comprovação da vacinação para volta ao trabalho presencial, obrigatoriedade que Bolsonaro combate.

São 36 mil integrantes do Exército e Aeronáutica que se recusaram a receber a vacina. Além disso, quase metade dos militares não está completamente imunizada, taxa muito acima do resto da população (30%). Os dados foram obtidos pelo site Metrópoles, por meio da Lei de Acesso à Informação.

As regras foram publicadas pelo site O Antagonista.

São 52 pontos. Entre eles, o Exército determina que:

os militares e os servidores civis que retornarem de viagem internacional, a serviço ou privada, ainda que não apresentem sintomas relacionados à Covid-1 deverão realizar o teste molecular (RT-PCR) até 72 horas antes do embarque.

Para as ações de campo, como as de forças-tarefas humanitárias, e nas operações de faixas de fronteira:

estabelece que é preciso continuar adotando medidas de prevenção à contaminação pelo coronavírus;

recomenda o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos.

O Exército trabalha, por exemplo, na acolhida de refugiados da Venezuela, em Roraima, e também acompanha o trabalho de vacinação de indígenas. No início da pandemia, organizações de defesa dos povos originários acusavam agentes do Exército de serem os principais vetores da covid em reservas indígenas que ainda não tinham contato com o vírus.

O documento reforça que pode haver o retorno às atividades presenciais:

desde que respeitado o período de 15 dias após imunização contra a Covid-19. Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP (Departamento Geral do Pessoal), para adoção de procedimentos específicos;

O comandante-geral determina ainda que será avaliada a manutenção das missões internacionais ainda não iniciadas e, também, a realização de seminários, palestras, solenidades, confraternizações que impliquem na aglomeração de pessoas.

Proíbe que os militares divulguem nas redes sociais qualquer informação sobre a pandemia sem antes confirmar a fonte e checar se ela é verdadeira. Diz que a prestação de informação falsa sujeitará o militar ou o servidor às sanções penais e administrativas previstas em lei.

O documento diz ainda que os militares devem orientar os parentes a agirem dessa mesma forma.

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