terça-feira, 8 de março de 2022

Vivaldo Barbosa: Lembrem-se da crise dos mísseis em Cuba que quase gerou uma guerra nuclear

 

A guerra só foi evitada, porque alguns líderes se comportaram como estadistas, entre os quais Nikita Kruschev, da então União Soviética, e John Kennedy, presidente dos EUA


No Viomundo

Quando, em 1962, a humanidade tremeu diante da crise que se criou acerca dos mísseis que se instalavam em Cuba, com a possibilidade de uma guerra nuclear mundial, o mundo foi salvo pelas atitudes de alguns dirigentes que se portaram como estadistas.

Agora, sofremos com o cenário de guerra na Ucrânia, assistimos a alguns horrores de guerra, embora limitada, e o pior: estamos sem estadistas.

Quando o Governo Kennedy descobriu que mísseis estavam sendo instalados em Cuba pelos russos, a poucas milhas do território americano, reagiu de forma enérgica, assumindo as últimas consequências. Com muita justificativa.

Por outro lado, Cuba e Fidel precisavam se garantir contra outra invasão da Ilha, como aquela na Baía do Porcos, arranjada pela administração anterior de Eisenhower.

Ele era grande figura daqueles tempos, a começar pelo fato de ter comandado as forças que derrotaram Hitler até ter sido o Presidente americano que cobrou o imposto de renda mais elevado dos ricos. Mas deixou passar os que adoravam fazer guerras.

Kennedy manteve a firmeza, mas soube negociar.

Kruschev, o líder russo, soube tirar proveito da situação e obteve compromisso do próprio irmão de Kennedy e de seu Ministro da Justiça em negociação direta: Cuba não seria invadida e os americanos retirariam seus mísseis da Turquia e de outras áreas, que era certamente o que os russos queriam quando estavam instalando seus mísseis em Cuba.

Os mísseis voltaram para casa e o mundo respirou em paz. Com estadistas, mesmo com muitos defeitos de cada lado, é outra coisa.

Agora, a OTAN, aliança militar que não deveria existir para o bem da paz, sob o comando americano, instala bases e se implanta em diversos países ao redor da Rússia, assentada em governos pequenos e medíocres, eleitos em processos confusos a partir do fim da União Soviética.

A Rússia, já machucada pela extinção de um sistema político que ela comandava desde 1917, que havia gerado a segunda economia do mundo, grande população, imenso território, tecnologia avançada, vê-se cercada mais de perto na Ucrânia, com inimigos declarados que poderiam até usar armas nucleares, parte para o horror da guerra. Guerra que a humanidade já não mais imagina vivenciar.

Pela ausência de estadistas, a humanidade já havia amargado guerras estúpidas, idiotas, desde a Coreia e a cruel Guerra do Vietnã até mais recentes na Iugoslávia, Kosovo, Iraque, Líbia, Afeganistão e a pobre gente que sofre no Iêmen sob as armas sauditas/americanas.

Paira outro mal sobre todas as nossas cabeças: o aumento do fascismo nas áreas acobertadas pela OTAN, como se evidenciam nos grupos neonazistas na Ucrânia, com conexões malévolas até no Brasil,

Falta um estadista na Europa, à semelhança de De Gaulle, que se imponha diante do poder dos Estados Unidos para dizer aos americanos e aos russos que é preciso ter polos de equilíbrio no mundo, que se respeitam e dialogam para o bem da humanidade, e que nenhum país pode ser encurralado.

Acima de tudo, que seja capaz de conter essas áreas fascistas que se avolumam, se espalham e ganham poder armado.

A Europa teria este grande papel, mas está subjugada, sem estratégia própria à altura da sua história, sua economia e valor do seu povo.

Nos faz lembrar novamente Eisenhower: todos submetidos aos interesses da indústria armamentista, agora de braços dados com o sistema financeiro.


*Vivaldo Barbosa foi deputado federal Constituinte e secretário da Justiça do governo Leonel Brizola, no RJ. É advogado e professor aposentado da UNIRIO.

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