terça-feira, 2 de agosto de 2022

O caso do lobisomem de Marilena

 No Portal da Cidade Paranavaí


Isso aconteceu na época que eu era criança. Devia ter uns treze, quatorze anos, na década de 80. Lá por 1988, 1989, foi por aí. Não sei especificamente a data, entendeu? E do nada começou surgir um boato, e foi crescendo e o pessoal começou a ficar com medo. Contavam que um Lobisomem andava rodeando as ruas da zona urbana, zona rural.

Muita gente, não só o pessoal da cidade, mas os que moravam no sítio próximo a Marilena, também ouviram falar desse Lobisomem. Diziam que corria atrás das pessoas, comia galinhas, até cocô de galinha falavam que ele comia.

Tudo isso aí falavam do Lobisomem. E o boato começou a crescer. Marilena, cidade pequena que era naquela época, o assunto tomou conta do dia a dia das pessoas. Já tava até atrapalhando as professoras porque durante as aulas as crianças só falavam do Lobisomem, que era o assunto do momento. Interessante foi a popularidade que tomou o assunto. Até uma das professoras diz que viu esse Lobisomem. Falavam que era um bicho, um cachorro grande.

Na época, em Marilena, passava muito caminhoneiro que carregava areia do rio. Passavam, ouviam falar do caso e paravam pra escutar o povo do lugar contando a história desse Lobisomem que rondava a cidade. E os boatos, você sabe, né? Os boatos voam, e a mente das pessoas se torna fértil.

Acusaram o padre da cidade dizendo que ele sabia quem era o Lobisomem, e o pessoal dessa época queria porque queria saber quem era esse Lobisomem: “O padre sabe, porque o padre sabe, porque a pessoa que se transforma em Lobisomem confessou com o padre”.

O falatório chegou ao ouvido do padre e o padre ficou brabo e coagido, a ponto de ter que se explicar na missa, na hora do sermão, “que ele não sabia nada de Lobisomem e que ele não acreditava nessas coisas”, tentando assim livrar o nome dele dessa boataria sobre o Lobisomem que andava em Marilena.

E o que aconteceu... foi que começaram a apontar pessoas. É fulano... não, é sicrano. Os mais feios eram os mais apontados, os mais suspeitos. Os andarilhos, então, eram os mais apontados. Aí, o que surpreendeu nessa fome de saber quem era o Lobisomem? Um pessoal lá começou a achar que podia ser alguém que estava se vestindo, se fantasiando para assustar as pessoas, um brincalhão. Não sei de que maneira resolveram se reunir para pegar esse tal.

Fizeram uma guarda de frente a igreja e diz que viram um cidadão, um comerciante da cidade, sair de casa só de cueca. Isso era lá pelas três horas da madrugada. Seguiram o cidadão que caminhou rumo ao cemitério que fica próximo à igreja aliem Marilena. Quandochegaram no cemitério, diz que viram ele no ato da transformação. Ele tava dançando um ritual lá, só de cueca, em cima de um túmulo, e dizem que pegaram ele virando bicho. Dizem que flagraram ele, foram pra cima e virou aquela bagunça.

E a notícia correu que era ele o verdadeiro Lobisomem. Era o cidadão mais bem posicionado da cidade, um comerciante forte em Marilena, que tinha bazar. Porque falaram que era ele? Também porque ele era maçônico, era da maçonaria, e povo acredita que a maçonaria tem essa coisa de satânico, essas coisas assim.

Esse comerciante teve que processar muita gente, muita gente teve que responder processo porque tavam inventando que ele era o Lobisomem, que ele ameaçava muita gente. Por fim, foi surgindo uma situação tão ruim na vida dele que teve que se mudar de Marilena. Eu conheço uma das pessoas que seguiu esse comerciante só de cueca até o cemitério.

- Você viu mesmo ele se transformar? – perguntei pra ele.

- Eu juro pela minha mãe que vi o cara se transformar!

Era um burguês da cidade. Não era nenhum dos suspeitos apontados, aqueles mais feios, os andarilhos. O interessante foi que depois desse episódio que flagraram o cidadão no cemitério, no ritual lá, era um ritual que ele tava fazendo, acabou a história, não teve mais, o Lobisomem deu sossego. Foi um mistério louco, que acabou assim.

Aquele pessoal que montou a guarda, acha que foram eles que solucionaram o caso do Lobisomem.


Profissão:
Pesq., Coord. e Docente da área de Literatura
Transcrição: Elmita Simonetti Pires

Origem: Causo vivenciado e contado por Mateus Brandão de Souza, morador do município de Nova Londrina, PR, coletado em 10/08/2010.

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