terça-feira, 25 de outubro de 2022

Balada para um louco

 


Num dia desses ou, numa noite dessas

você sai pela sua rua ou, pela sua cidade ou,

ou, sei lá, pela sua vida, quando de repente,

por detrás de uma árvore, apareço eu!!!

Mescla rara de penúltimo mendigo

e primeiro astronauta a pôr os pés em vênus.

Meia melancia na cabeça, uma grossa meia sola em cada pé,

as flôres da camisa desenhadas na própria pele

e uma bandeirinha de táxi livre em cada mão.

Ah! ah! ah! Você ri... você ri porquê só agora você me viu.

Mas eu flerto com os manequins,

o semáforo da esquina me abre três luzes celestes.

E as rosas da florista estão apaixonadas por mim, juro,

vem, vem, vamos passear. E assim meio dançando, quase voando eu

te ofereço uma bandeirinha e te digo:

Já sei que já não sou, passei, passou.

A lua nos espera nessa rua é só tentar.

E um coro de astronautas, de anjos e crianças

bailando ao meu redor, te chama:

vem voar.

Já sei que já não sou, passei, passou.

Eu venho das calçadas que o tempo não guardou.

E vendo-te tão triste, te pergunto: O que te falta?

...talvez chegar ao sol, pois eu te levarei...

(Astor Piazzolla)

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