segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Adeus a 𝗗𝗨𝗟𝗖𝗘 de “𝗖𝗥𝗜𝗔𝗡𝗖̧𝗔“

 

Dulce Menezes - Ex Cangaceira

Por Kiko Monteiro

No Lampião Cangaço e Nordeste

Faleceu em Campinas a 𝘂́𝗹𝘁𝗶𝗺𝗮 𝗲𝘅-𝗰𝗮𝗻𝗴𝗮𝗰𝗲𝗶𝗿𝗮 𝘃𝗶𝘃𝗮 𝗱𝗼 𝗯𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗱𝗲 𝗟𝗮𝗺𝗽𝗶𝗮̃𝗼.

Dulce Menezes dos Santos, foi uma das muitas mulheres que tiveram suas vidas interferidas pelo bando de Virgulino Ferreira, Lampião.

Ela passou a integrar o cangaço após ter sido retirada de sua família e violentada por um dos cabras do grupo.

Essa fase da vida de Dulce sempre foi escondida pela família, o que fez com que a idosa passasse a evitar visitas. "Infelizmente isso aconteceu contra minha vontade. Não fui porque quis ir”, deixou claro em uma das muitas entrevistas que concedeu.

O trágico encontro entre Dulce e o cangaço Lampiônico ocorreu em 1936, quando ela vivia com a irmã em Alagoas. Antes, morava na fazenda de algodão da família em Porto da Folha, SE. Os pais morreram quando ela ainda era criança.

Segundo o pesquisador Manoel Belarmino, Dulce era provavelmente sergipana, tendo nascido na zona rural de Canindé em 23 de maio de 1923.

Acontece que o rancho alagoano em que passou a morar era coito de descanso dos cangaceiros que adentravam ao sertão. Lá, Dulce se deparou com aqueles estranhos homens adornados em couro, quando um dos cangaceiros, João Alves da Silva, vulgo “Criança”, notou a presença menina e pediu para “compra-la” de seu tio João Felix, que a trocou por joias.

Em negociação, Criança falou a João que levaria Dulce a uma festa organizada por Zé Sereno numa fazenda vizinha. Ao cangaceiro foi permitido acompanhar a criança, enquanto João e a esposa Julia assistiam de longe.

Dulce afirmou que desde cedo já se sentiu assustada com a situação.

Criança então pegou a menina pelo braço e a obrigou a sair do salão onde estavam. Gritando de medo, ela ouvia o cangaceiro berrar: "Cala a boca, se não te sangro agorinha mesmo." Foi jogada no chão, em meio às pedras e cactos, e lá foi estuprada, com o assustador silêncio dos convidados.

Pelo resto da noite, Dulce foi observada pelo cangaceiro, que a tratava como mercadoria. João Felix se sentia arrependido, mas também acuado pelo bandido armado…

"Fui a pulso, arrastada, senão morria. O apelido dele era Criança. Deus queria que eu estivesse aqui agora, conversando com vocês", afirmou Menezes. "[ele estava] com parabélum na mão. E [eu] com medo de morrer, acompanhei." Na época com 13 anos, ela era apaixonada por Pedro Vaqueiro, um rapaz de Piranhas, que, ao descobrir a violência, saiu com um desespero aterrador e desapareceu no sertão.

Tempos depois, Dulce e seu então companheiro Criança escaparam do massacre em Angico. Quando a noticia chegou a Piranhas, a família foi checar se a cabeça da moça estava entre os troféus da volante. O grupo então se embrenhou no mato e fugiu, mas decidiram se entregar à polícia em troca de uma anistia concedida pelo presidente Getúlio Vargas.

Temos depois passaram a trabalhar numa fazenda do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.

Atraído por Dulce, Jacó, o dono da fazenda, tornou o marido dela novo tropeiro do lugar, obrigando-o a se afastar da garota.

Dulce se casou com Jacó, e com ele teve 18 filhos. Ela relata que esse momento de sua vida foi muito melhor do que a época em que estava sequestrada pelo bando de Lampião:

"Foi o tempo que fui feliz. [...] Agora essa turma do Lampião, meu Deus do céu, quando queria pegar mulher, se não fosse, eles matavam”.

Quando Jacó morreu, Dulce decidiu mudar-se para o estado de São Paulo com a filha Martha, passando a residir em Campinas, onde não encontrou a maior felicidade: chegou a ter filhos e netos assassinados em meio à violência da cidade.

Faleceu hoje, aos 99 anos de idade.

Com informações do site Aventuras na História.

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