quarta-feira, 22 de março de 2023

As ciências humanas e a generalização do ateísmo sobre os seus

 


Tal qual ao medievalismo, onde quem questionasse, negasse ou lesse fora da cartilha da igreja católica era tido por herege, bruxa ou satânico e conseqüentemente era lançado na fogueira da “santa inquisição”, assim é a repulsa comportamental religiosa de muitos fanáticos contra aqueles que hoje em dia, metem-se no direito de questionar as religiões ou escolher fazer um curso de humanas para sua formação pessoal. Para os ignorantes religiosos, a partir do momento em que uma pessoa escolhe fazer um curso de história, filosofia, sociologia ou qualquer outro do campo de humanas, tal pessoa já se torna ateu empedernido e irremediavelmente é associada ao diabo.

Primeiro, há alguns pontos a serem observados sobre esta associação de ateus a Satanás e a equivocada intenção de fazer parecer que, quem nega a Deus, infalivelmente está associado a Satanás, o que é uma grotesca mentira, pois para o ateu, não existe nenhum e nem outro.

Conversando com alguns ateus, aprende-se que não há como associá-los ao diabo, pois os ditos ateus, da mesma forma que não professam a fé teológica, conseqüentemente, negam a existência de um outro ser contrário, a alguma deidade, erram os que dizem que os ateus são obrigatoriamente maus ou do diabo, porque o ateu, não crê na existência nem de Deus nem do diabo, tanto Deus quanto o outro, são para eles, criações do imaginário humano, e a crença é coisa que até o próprio satanás possui, pois a bíblia dos cristãos é clara e franca em alguns de seus versículos quando diz que os demônios são crentes.

Querem sanar a dúvida? Vamos a um exemplo onde a bíblia afirma que o diabo acredita em Deus: Você crê que há um Deus, fazes bem, os demônios também creem  e se estremecem. (Livro de Tiago, capítulo 2 versículo 19 – Desta feita, percebe-se que os extremos, Deus e diabo, um crê na existência do outro e em outras ocasiões eles até travam diálogos, como em Jó, quando Deus pergunta a Satanás de onde ele vem e  o próprio Satanás responde: “De rodear a terra e percorrer por ela”- (Jó – 1, 7-8).

Portanto, religiosamente falando, não há como associar um ateu à fé, para o ateu, Deus e diabo não existem e tudo não passa de uma história absurda onde a criação desta lenda, relata a briga de dois personagens e seus asseclas e ambos guerreiam por almas. Algo inadmissível para a mente pensante destes que não professam fé em mitos ou seres invisíveis.

Outro engano a ser observado, é a generalização, quem faz humanas, não é obrigatoriamente um ateu, os dedos fazem parte de uma mesma mão, mas nem todos são iguais e há uma diferença considerável entre o polegar e o mindinho. Os que conceituam por ateus todos os historiadores, filósofos, etc., não imaginam que há padres e pastores evangélicos que tem

formação em humanas, vários exemplos de padres e pastores historiadores e filósofos que diferentemente do que pensam, não se transformaram em ateus e continuaram firmes em sua fé.

Mas esta hipótese de associar o diabo ao ateísmo é um erro grotesco da mesma forma que taxar por ateu qualquer um que tenha formação em história ou em qualquer outro campo de humanas, não são necessariamente ateus, os sem religiões e não são satânicos os que se confessam ateus.

É preciso, portanto, desassociar esta ideia do mau que recai sobre historiadores, filósofos etc., pois, independente de serem crentes, agnósticos ou ateus, eles não estão conseqüentemente associados a qualquer entidade a qual as religiões abominam.

Os presídios, os congressos, os senados em todo mundo, estão cheios de cristãos e religiosos confessos, homens corrompidos, o que prova que ser mau caráter, não é obrigatoriamente uma característica comportamental de qualquer um que não tenha fé em espíritos, mitos, lendas ou qualquer outra coisa não palpável.

Vale portanto estar em alerta, o ateísmo não é unânime entre o povo de humanas e nem todos seguem o mesmo ponto de vista, sendo que o respeito deve ser mútuo, impor a fé ou a não fé a outrem, é desnecessário, inconveniente e fatalmente gera contendas e polêmicas.

Não existe neste caso um modelo único a ser seguido, em humanas, cada um é o que acredita ou o que desacredita e assim sucessivamente. O que deve imperar é a liberdade de pensamento e que o questionar esteja sempre como um direito a ser exercido sem que este ou aquele seja punido por dele fazer uso.

Viva o pensamento livre.

Mateus Brandão de Souza, graduado em História pela FAFIPA.

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