terça-feira, 10 de agosto de 2010

Choramos de Barriga cheia?

Somente quem sente na pele o lanho do chicote é quem pode definir a exata sensação de seus golpes.

Os pés de quem palmilhou uma longa e escabrosa estrada é que conhece as conseqüências da caminhada.

É fácil pra quem não vive determinado revés dizer que desgraça pouca é bobagem. Ninguém chora de barriga cheia, não há necessitado que se contente com o pouco. Se a dignidade não existe em abundancia, que ela atenda ao menos nossas necessidades primordiais.

É tarefa vã iludir quem padece, é inútil convencer ao desvalido, ele sabe como ninguém que a situação está caótica e onde o sapato aperta.

É simples dizer que está tudo bem quando não se passa pela dor dos desfavorecidos, ninguém reclama em vão a sua má sorte, aqueles que estão à margem do conforto não falseiam contentamento.

É tolice buscar a quietude dos passageiros de uma nave quando estes sabem que ela está em pane e vêem piloto, co-piloto e toda tripulação perdidos e atônitos sem saber o que fazer.

Quem anda calçado não cuida onde por o pé, mas as pedras do caminho fustigam os pés dos descalços.

Quem está saudável ou medicado, jamais aquietará os anseios do doente, pois na dor não há condições de esperar com paciência pela melhora.

São revoltados os descontentes?
São mal amados os maldizentes? Esta visão é comum nos que vivem na vantagem. Porém revoltar-se ou amaldiçoar ao descaso é no mínimo uma reação justa.

Cada um conscientemente discerne o que é bom ou ruim para si e todos em sã consciência não reclamariam seu mal estar se estivessem satisfeitos.

Continuaremos reclamando até que a dignidade deixe de ser fantasias escritas ou faladas e se torne um fato favorável a todos nós.

Oxalá que o bem seja o bem coletivo, que a liberdade abra as suas asas sobre nós e que a igualdade nivele também em vida toda raça humana.

Mateus Brandão de Souza.

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