terça-feira, 26 de março de 2013

O questionar na visão dos militares



"Questionar não é uma atitude estimulada nos militares. Ao contrário, o questionamento é mal visto e interpretado como insubordinação, um crime grave no regulamento disciplinar, uma ameaça à hierarquia e à organização militar. Eu mesmo cheguei a pegar uma prisão disciplinar (chamada de "educativa", sem registro em boletim, uma "camaradagem" do "superior" que puna, evitando o registro na ficha) por ter insistido numa pergunta simples: por quê? Quando o tenente falou "você não tem nada que perguntar por quê!" eu repliquei, "ah, não? E por quê?" Fui recolhido ao xadrez, "dormi" uma noite infernal entre mosquitos. No dia seguinte, o tenente, com ar compassivo, veio me explicar que eu não podia fazer aquilo, era um mau exemplo pros demais, a força militar dependia da disciplina pra ser eficiente e tal e coisa... Eu contava com uma posição privilegiada, era atleta e medalhista, havia ganhado um troféu pra unidade e tinha uma espécie de "proteção" dos superiores, que me tratavam cheios de condescendência. Mas sem exagerar, eu não podia violar as regras daquela maneira, não fosse o atleta que era e estaria com a ficha suja. Até o dia em que declarei que não iria mais competir, não tinha mais prazer na vitória, diante da tristeza dos derrotados. Aí acabou a regalia e começou a perseguição. Mas eu já tava próximo de pedir desligamento e perder minhas saídas, detido no quartel por pretextos que antes não existiam - cinto sujo, sapatos mal engraxado, uniforme mal passado, cabelo grande, barba mal feita, mexendo em forma, etc, etc...- me deram tempo pra refletir, analisar e concluir que ali, definitivamente, não era o meu lugar."

Por Eduardo Marinho via Uma outra Opinião

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