Paco de Lucía, violonista de flamenco, morreu nesta
quarta-feira (26) em Cancún, no México, aos 66 anos de idade. Símbolo da
renovação e difusão mundial do flamenco, ele conquistou diversos prêmios.
O músico teria sofrido um infarto enquanto brincava com seus
filhos na praia. Em novembro do ano passado, ele esteve no Brasil, após 16
anos, para uma turnê pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Francisco Sánchez Gómez, de nome artístico Paco de Lucía,
introduziu ao flamenco, ao longo de sua carreira, ritmos como o jazz, a bossa
nova e, inclusive, a música clássica.
Discípulo de Niño Ricardo e de Sabicas, e respeitado por
músicos de jazz, rock e blues por seu estilo próprio, alcançou, entre outros
muitos reconhecimentos, um Grammy para o melhor álbum de flamenco em 2004; o
Prêmio Nacional de Guitarra de Arte Flamenco; a Medalha de Ouro ao Mérito das
Belas Artes em 1992; o Prêmio Pastora Pavón La Niña de los Peines de 2002; e o
Prêmio Honorário da Música de 2002.
Nascido em 21 de dezembro de 1947 na cidade de Algeciras com
o nome de Francisco Sánchez Gómez, aos sete anos pegou pela primeira vez um
violão pelas mãos de seu pai e, depois, de seu irmão mais velho.
Por sua mãe portuguesa ficou conhecido como "Paco, o de
Lucía", ao identificar, assim como na Andaluzia, o filho com o nome da
mãe, Lucía Gomes.
Com 12 anos formou o dueto Los Chiquitos de Algeciras com
seu irmão Pepe nos vocais. O grupo fez sucesso em 1961 em um concurso de Jerez
e com o qual gravou seu primeiro disco.
Contratado pelo bailarino José Greco em 1960 como terceiro
violonista da Companhia do Balé Clássico Espanhol, fez sua primeira turnê pelos
Estados Unidos, e depois foi o segundo violonista e viajou por meio mundo. Foi
aí que conheceu os músicos Sabicas e Mario Escudero, que o incentivaram a
compor suas próprias músicas.
Aos 17 anos entrou para um grupo financiado pelos
representantes alemães Horst Lippmann e Fritz Rau para seu espetáculo Festival
Flamenco Gitano, com o qual percorreu a Europa e no qual figuravam Camarón, El
Lebrijano, El Farruco e Juan Moya.
Acompanhado com frequência por seus irmãos Ramón de
Algeciras e Pepe de Lucía, gravou seus primeiros discos solo em meados dos anos
1960: La Fabulosa Guitarra de Paco de Lucía (1967) e Fantasía Flamenca (1969).
Sua consagração chegou nos anos 1970, com memoráveis
atuações no Palau de Barcelona, no Teatro Real e no Teatro Monumental de Madri,
e sua primeira gravação ao vivo Paco en vivo desde el Teatro Real, lhe rendeu
seu primeiro disco de Ouro.
Foi em Madri que surgiu a mítica dupla El Camarón-De Lucía,
tão virtuosa e purista como renovadora do flamenco e que se traduziu em mais de
dez discos de estúdio, como El Duende Flamenco (1972) e Fuente y Caudal (1973).
Ganhou o Prêmio Castillete de Oro del Festival de Las Minas
em 1975; single de ouro em 1976 por sua magnífica rumba Entre dos Águas e disco
de ouro em 1976 por Fuente y Caudal.
No final dos anos 1970, ganhou muita popularidade fora da
Espanha por seus trabalhos com os guitarristas John McLaughlin, Al Di Meola e
Larry Coryell.
Fundou em 1981 seu "Sexteto", com Ramón de
Algeciras (segundo violão), Pepe de Lucía (vocais e palmas), Jorge Pardo
(saxofone e flauta), Rubén Dantas (percussão) e Carles Benavent (baixo), o que
lhe permitiu criar o conceito atual de grupo de flamenco.
Colaborou no disco Potro de Rabia y Miel de seu grande amigo
Camarón, e a morte deste, em 1992, o fez cancelar suas apresentações por todo o
mundo durante quase um ano. Inclusive pensou em se aposentar, retornando um ano
depois aos palcos com uma nova turnê europeia, na qual fez 40 apresentações nos
EUA e gravou Live in America.
Entre seus discos estão Fantasía Flamenca, Recital de
Guitarra, El Duende Flamenco de Paco de Lucía, Almoraima, Solo Quiero Caminar,
Paco de Lucía en Moscú, Zyryab, Siroco e Lucía (1998).
Após um hiato de cinco anos, em 2004 gravou Cositas Buenas,
considerado pela crítica uma "obra prima", com oito temas inéditos,
acompanhado pelo violão de Tomatito e a voz recuperada de Camarón, e que lhe
rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de flamenco.
Um ano antes, lançou sua primeira coletânea, Paco de Lucía
Por Descubrir, com seus trabalhos de 1964 a 1998.
No dia 29 de junho de 2010 ofereceu um magnífico concerto
para 2,5 mil espectadores que se reuniram na Puerta del Ángel de Madri.
Em 2011, participou em um disco de flamenco tradicional do
músico Miguel Poveda.
Tornou-se Doutor Honoris Causa pela Universidade de Cádiz e
pelo Berklee College of Music de Boston (EUA, 2010).
O músico estava estabelecido em Toledo e passava temporadas
em Cancún, onde praticava pesca submarina. Teve três filhos, frutos de seu
primeiro casamento em 1977 com Casilda Varela em Amsterdã: Casilda, Lucía e
Francisco.