Por Altamiro Borges
Por razões ainda desconhecidas, a Folha tucana lançou um
míssil contra o cambaleante candidato do PSDB neste domingo (20). O jornal
informa, com direito a manchete, que “Minas fez aeroporto em fazenda de tio de
Aécio”. Ainda na capa há o registro de que a “obra de R$ 14 milhões foi
executada quando o tucano era governador do Estado”. A mídia paulista só
criticou o político mineiro quando ele ousou disputar com José Serra, em 2010,
a vaga de presidenciável da sigla. Neste ano, porém, os dois tucanos - aparentemente
- tinham feito as pazes. Daí a surpresa com a reportagem da Folha, que insiste
em dizer que não tem o “rabo preso” com ninguém, mas ninguém acredita!
Segundo a matéria, assinada pelo repórter Lucas Ferraz, “o
governo de Minas Gerais gastou quase R$ 14 milhões para construir um aeroporto
dentro de uma fazenda de um parente do senador tucano Aécio Neves, no fim do
seu segundo mandato como governador do Estado. Construído no município de
Cláudio, a 150 km de Belo Horizonte, o aeroporto ficou pronto em outubro de
2010 e é administrado por familiares de Aécio, candidato do PSDB à Presidência.
A família de Múcio Guimarães Tolentino, 88, tio-avô do senador e ex-prefeito de
Cláudio, guarda as chaves do portão do aeroporto. Para pousar ali, é preciso
pedir autorização aos filhos de Múcio”.
Fernando Tolentino, um dos filhos de Múcio, ainda revela que
“a pista recebe pelo menos um voo por semana, e seu primo Aécio Neves usa o
aeroporto sempre que visita a cidade, onde o senador mantém seu refúgio
predileto, a Fazenda da Mata, a 6 km do aeroporto... A pista tem 1 km e
condições de receber aeronaves de pequeno e médio porte, com até 50
passageiros. O local não tem funcionários e sua operação é considerada
irregular pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A agência federal
informou à Folha que ainda não recebeu do governo estadual todos os documentos
necessários para a homologação do aeroporto, procedimento exigido por lei para
que ele seja aberto ao público”.
Sem se identificar como jornalista, o repórter Lucas Ferraz
procurou a prefeitura de Cláudio para solicitar o uso do aeroporto da cidade.
“O chefe de gabinete do prefeito, José Vicente de Barros, disse que Múcio
Tolentino deveria ser procurado. ‘O aeroporto é do Estado, mas fica no terreno
dele’, afirmou. ‘É Múcio quem tem a chave’. Indicado por Barros, Fernando
Tolentino logo se prontificou a abrir o portão do local. ‘Ele fica dentro da
nossa fazenda’, disse. Indagado se seria necessário pagar pelo uso do espaço,
Fernando respondeu: ‘Não, o trem é público, vai cobrar como?’. Segundo ele,
Aécio Neves visita a fazenda da família em Cláudio ‘seis ou sete vezes’ por ano
e vai sempre de avião’”.
Ainda segundo a reportagem, a construção do aeroporto foi
executada pelo Departamento de Obras Públicas do Estado (Deop). “O governo do
Estado desapropriou a área de Múcio Tolentino antes da licitação do aeroporto e
até hoje eles discutem na Justiça a indenização. O Estado fez um depósito
judicial de mais de R$ 1 milhão pelo terreno, mas o tio de Aécio contesta o valor...
Orçado em R$ 13,5 milhões, a obra foi feita pela construtora Vilasa,
responsável por outros aeroportos incluídos no programa mineiro. O custo final
da obra, somados aditivos feitos ao contrato original, foi de R$ 13,9 milhões”.
A Folha, que nem sempre dá o direito ao “outro lado”, também ouviu Aécio Neves
sobre a estranha construção.
“O candidato do PSDB à Presidência afirmou por meio de sua
assessoria de imprensa que a construção do aeroporto de Cláudio seguiu
critérios técnicos, e que o governo de Minas não levou em consideração o fato
de o proprietário do terreno ter parentesco com ele. A assessoria ressaltou
que, durante o processo de definição e execução da obra, não houve qualquer
gestão pessoal de Aécio Neves, que governou Minas Gerais de 2003 a 2010. ‘Não
se levou em conta de quem era a propriedade do terreno’... Ainda segundo Aécio,
o terreno onde foi construído o aeroporto foi escolhido por apresentar as
‘condições topográficas’ ideais e permitir que a obra fosse feita com o ‘menor
custo para o Estado’”.
Ainda segundo a Folha, “o presidenciável preferiu não
responder algumas das perguntas, como o número de vezes que usou o aeroporto
desde que a obra ficou pronta, em 2010, e o motivo pelo qual o local,
construído com dinheiro público, tem uso privado. O senador também não
respondeu por que o aeroporto não foi inaugurado até hoje”. Dos 29 aeroportos
que receberam investimentos do Estado entre 2003 e 2014, seis ainda não foram
homologados pela Agência Nacional de Aviação Civil. “A Anac informou à Folha
que o processo de homologação do aeroporto de Cláudio não pode ser feito
enquanto o governo estadual não completar seu cadastro no órgão”.
A denúncia do jornal paulista é gravíssima. Caso a
investigação prossiga – e não seja “arquivada” como tantas outras que detonam a
imagem “ética” dos tucanos –, ela poderá abalar o cambaleante presidenciável.
Quanto à Folha, há algo de estranho no ar. Na mesma edição deste domingo, o
jornal solta outra farpa contra o tucano na coluna Painel: “A campanha de Aécio
Neves correu à Prefeitura de Belo Horizonte nos últimos dias para mudar o
registro de uma sala comercial. Os boletos de IPTU estavam em nome do
candidato, mas o imóvel não aparece em sua declaração de bens à Justiça
Eleitoral. A operação foi deflagrada depois que um blog petista acusou o tucano
de esconder parte de seu patrimônio”.
No Blog do Miro
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