terça-feira, 8 de julho de 2014

Fonseca e o Boyzinho


No Bar do Farelo, João Seronho Seca, pra lá dos Setenta, conhecido como Fonseca, o Fonsequinha, banguela de fumo Galo, daqueles da tosse rouca, maltrapilho, são só quando dorme, de sorriso maroto e andar engraçado lá da Teresina do Piauí.

De sotaque amarrado e viola no saco, moreno cor de asfalto e cabelo "bombril" tocou bem assim no 07 de Setembro daquele ano:

"Oh! Meu Brasil, de terra macia,
De lindas mulheres e praias anis,
Entre matas e fauna o ouro esverdeado de valor sem igual,
Diga a Deus e a meu Lula
Que a ele sou grato por colocar no meu prato
O pão matinal".

E outros versos em voz e viola...

Um "boyzinho" de perto se achou muito experto de prontidão e desafeto rebateu em tom atroz:

"Vagabundo em praça pública,
Expondo o ridículo ao mundo,
Esperando ser ouvido, mendigando aos seu gritos
O pão de cada dia e nunca pensa em trabalhar
Pois trabalhe e seja honesto
Ou faça um manifesto para este País mudar".

O sorrateiro da viola, tirou um pão da sacola passou doce de mariola mordeu e mostrou onde passou a patrola; a perna cicatrizada que em pedaços fora feita; tratou logo de espirrar a desfeita nos versos de sua viola:

"Fique sabendo meu rapaz, que muito fui escravizado em fazenda de Doutor, onde fui  maltratado, bebendo meu suor salgado. Quando um dia fui correr, fugindo para acoitado não morrer, sem sucesso nessa lida, veja agora a ferida que ganhei sem merecer. Hoje vivo a cantar e a cana é meu paladar, recebendo dia-a-dia o meu Bolsa Família que não me deixa perecer. Você em sua gravata, roupa limpa e bem passada, não sabe que o sofrimento faz o cabra enlouquecer; e com esse nariz empinado e tornozelo grosso sei logo que és preguiçoso e não trabalha pra valer, vá fazer suas arruaças mas não esqueça que a vida mais cedo ou mais tarde te ensinará a viver".


E em tom de saída o "boyzinho" mordia os dentes, em seu cavalo a trotar; embora na prosa vencido usou a garra do ilícito para logo se vingar; mandou os guardas prenderem Fonseca que lhe passaram um corretivo, morto pelo distintivo por autoridade desrespeitar.

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