Por Marcelo Leite
No Bar do Farelo, João Seronho Seca, pra lá dos Setenta,
conhecido como Fonseca, o Fonsequinha, banguela de fumo Galo, daqueles da tosse
rouca, maltrapilho, são só quando dorme, de sorriso maroto e andar engraçado lá
da Teresina do Piauí.
De sotaque amarrado e viola no saco, moreno cor de asfalto e
cabelo "bombril" tocou bem assim no 07 de Setembro daquele ano:
"Oh! Meu Brasil, de terra macia,
De lindas mulheres e praias anis,
Entre matas e fauna o ouro esverdeado de valor sem igual,
Diga a Deus e a meu Lula
Que a ele sou grato por colocar no meu prato
O pão matinal".
E outros versos em voz e viola...
Um "boyzinho" de perto se achou muito experto de
prontidão e desafeto rebateu em tom atroz:
"Vagabundo em praça pública,
Expondo o ridículo ao mundo,
Esperando ser ouvido, mendigando aos seu gritos
O pão de cada dia e nunca pensa em trabalhar
Pois trabalhe e seja honesto
Ou faça um manifesto para este País mudar".
O sorrateiro da viola, tirou um pão da sacola passou doce de
mariola mordeu e mostrou onde passou a patrola; a perna cicatrizada que em
pedaços fora feita; tratou logo de espirrar a desfeita nos versos de sua viola:
"Fique sabendo meu rapaz, que muito fui escravizado em
fazenda de Doutor, onde fui maltratado,
bebendo meu suor salgado. Quando um dia fui correr, fugindo para acoitado não
morrer, sem sucesso nessa lida, veja agora a ferida que ganhei sem merecer.
Hoje vivo a cantar e a cana é meu paladar, recebendo dia-a-dia o meu Bolsa
Família que não me deixa perecer. Você em sua gravata, roupa limpa e bem
passada, não sabe que o sofrimento faz o cabra enlouquecer; e com esse nariz
empinado e tornozelo grosso sei logo que és preguiçoso e não trabalha pra
valer, vá fazer suas arruaças mas não esqueça que a vida mais cedo ou mais
tarde te ensinará a viver".
E em tom de saída o "boyzinho" mordia os dentes,
em seu cavalo a trotar; embora na prosa vencido usou a garra do ilícito para
logo se vingar; mandou os guardas prenderem Fonseca que lhe passaram um
corretivo, morto pelo distintivo por autoridade desrespeitar.
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