sábado, 8 de agosto de 2015

Dia dos pais


O ultimo dia dos pais que eu passei com meu pai foi em 2013, não imaginava que ele partiria quatro dias depois daquele domingo onde a família se reuniu em torno do velhinho simpático que apesar do cansaço da idade, não se furtava em nos deixar seu sorriso. 

Não imaginávamos que o destino o chamaria na manhã da quinta-feira que seguiu aquele domingo dos pais.

Em homenagem ao segundo domingo de agosto, postarei novamente um texto que dediquei a ele em janeiro de 2012 quando um segundo AVC, alarmou-nos quanto aos riscos que sua saúde debilitada inspirava. Naquela ocasião, dediquei a ele este texto:

VELHO MEU QUERIDO VELHO.

Pois um herói deve ser homenageado em vida...

O homem forte do outrora onde eu buscava refúgio, não me importava se caísse o mundo, em tua presença eu encontrava proteção. Foi teu, o segundo rosto que minha mente memorizou, pois pelo instinto materno da amamentação, é obvio que o primeiro rosto que meus olhos tomaram conhecimento, foi o dela.

Mesmo assim, não deixastes de ser um porto seguro em minha terna idade, e a mim, ensinastes muito... Um dia, eu soube que o senhor não frequentou escola, algo que me causou admiração, porém, fostes ao longo de minha vida um  notável professor e hoje, muito do que sei sobre o mundo eu devo a ti.

Quando eu apareci, tu já tinhas 47 anos e neste período, a vida tinha te transformado num exímio artista que transformava o trigo em alimento, e deste ofício, fizestes teu ganha pão e deste pão, sustentastes tua numerosa prole da qual eu, fui o caçula.

Excelente amigo que eu cresci conhecendo, que acompanhou meus passos e testemunhou meus inúmeros momentos. Em meio ao mundo cão e corrompido, tu me ensinou honestidade e embora os tantos reveses da vida, nunca tirastes de outro aquilo que não te pertencia.

Melhor do que eu, colheu amigos por onde andou, semeou amizade, te tornastes sem igual onde a saúde te fazia um homem forte, homem forte que eu aprendi admirar e respeitar.

Cultuavas a beleza feminina, tinhas alma palhaça e fazias as pessoas rirem, mesmo sem ter intimidade com a escrita, tu compunha tuas músicas e as cantava e te envaidecias por elas serem aprovadas por teus ouvintes. Lembras-te disso?

Ah meu querido velho... Eu me tornei adulto te admirando. Obviamente que tivemos os confrontos de idade, e nalgumas vezes não comunguei de tuas idéias e não te entendi, mas tu meu grande, fostes meu mestre e eu continuei te amando...

Hoje tu és um ancião de 83 anos, debilitado pelo peso dos dias, pelo alzheimer, pelo AVC e pelo coração que bate com a ajuda de um marca-passo. Mesmo assim, continuas me ensinando sobre a vida, mesmo depois que estes problemas varreram muita coisa de tua mente, fraquejou tua audição e dificultou a tua fala.

Velho meu querido velho, em tua velhice ainda me ensinas muito, assistindo teu enfado, aprendo que por mais que estamos velhos, a vida é curta, contigo, ainda aprendo o que deve ser feito para ser amado, contigo aprendo que orgulho e altivez não nos leva a nada, e que a tua humildade e simplicidade te faz um homem importante e amável.

Nós, todos os teus, sabemos do ciclo da vida, sabemos que estamos fadados a um só destino e que num dia muito triste tu serás saudade definitiva.
Mas por hora, louvamos a graça de tua presença, mesmo que teu olhar já esteja cansado e vago, mesmo que hoje te ensinamos fazer aquilo que ensinastes a nós quando todos nós éramos teus pequenos filhos...

Amado pai, obrigado, pois ainda continuas nos ensinando, e que a tua presença física ainda nos conforte por muito tempo neste mundo que é bom porque o senhor existe.


A sua benção meu querido velho.

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