"A Globo está convencida que agora tem elementos para destruir Lula politicamente, e assim eliminar qualquer risco de manutenção do PT no poder". |
Depois de Merval Pereira confirmar furo do Cafezinho, de que
Eduardo Cunha esteve na sede da Globo, na última segunda-feira, em reunião a
portas fechadas com editores do jornal, tivemos uma semana difícil (para dizer
o mínimo) para o Partido dos Trabalhadores.
Por Miguel do Rosário, no Tijolaço
O delator Milton Pascowitch, lobista de empreiteiras, fez
inúmeras denúncias contra José Dirceu e enlameou o PT. Muitas das histórias
relatadas por Pascowitch são velhas, mas a Globo aproveitou o clima de crise
política produzido pela reprisão de Dirceu para requentar tudo.
É o mês de agosto em sua máxima plenitude!
E aí, quando governo e PT se encontravam nas cordas, com
sites de mercado financeiro divulgando rumores sobre a renúncia de Dilma
Rousseff, e o New York Times sugerindo entregar a coroa à Michel Temer, o Globo
publica um editorial criticando Eduardo Cunha e conclamando políticos
responsáveis de todos os partidos a dar “governabilidade ao Planalto”.
Um editorial claramente contra o golpe. Exatamente na linha
contrária ao que vem pregando diuturnamente Merval Pereira, por exemplo, que já
fez críticas pesadas ao PSDB justamente por alguns de seus membros ainda se
preocuparem com coisas singelas como estabilidade econômica e governabilidade.
Mas a recepção ao artigo por setores do PT pode ser descrita
pela frase: “me engana que eu gosto”.
O poder da Globo, de produzir crise e amansá-las em seguida,
nunca foi tão grande.
Foi assim que a família Marinho conseguiu se tornar a mais
rica do país.
O que podemos pensar numa situação dessas? Não é difícil
fazer algumas especulações:
1) A Globo traçou uma estratégia para se blindar de
acusações de golpismo. Ou seja, ela promove o golpismo até o limite, está por
trás de todo o jogo de delações e notícias manipuladas e vazadas
criteriosamente, mas não quer forçar um golpe antes do dia 16. Na verdade, não
é muito diferente da estratégia de 64. Os golpistas sabiam que tinham que
oferecer demonstrações de apoio popular, e por isso organizaram as marchas
contra o governo que antecederam o golpe de 64.
2) A Globo está satisfeita com a atual conjuntura. José
Dirceu destruído, Lula debilitado, movimentos fascistas em ascensão. A emissora
nunca teve tanto poder político. Para ela, melhor continuar assim. Um processo
de impeachment, uma desestabilização além da conta, deflagraria forças
incontroláveis. A pressão dos grandes grupos industriais, que seriam os
primeiros a serem varridos numa conjuntura de caos econômico e político, pode ter
convencido a Globo a não ir adiante em sua pregação golpista.
Charge na capa do jornal O Globo, desta semana. Alguma
dúvida sobre as intenções dos Marinho?
3) A Globo está convencida que agora tem elementos para
destruir Lula politicamente, e assim eliminar qualquer risco de manutenção do
PT no poder. Além disso, a hegemonia conservadora no Ministério Público, na
Polícia Federal e no Judiciário lhe parece bastante consolidada, o que também
dá segurança à Globo para manter a estratégia do cerco permanente.
4) A adesão de Renato Duque e mais alguns outros réus,
possivelmente até Marcelo Odebrecht, à delação premiada, mais a descarada
confissão do próprio irmão de Dirceu, de que recebeu mesada de R$ 30 mil do
lobista Milton Pascowitch, dão munição à Globo para criar uma atmosfera
propícia ao impeachment sem que seja necessário o seu engajamento editorial na
empreitada. O impeachment poderá ser feito à “contragosto” da Globo, e assim
ela se blinda de acusações desagradáveis de golpista.
5) A Lava Jato conseguiu ainda uma outra proeza, que
beneficia muito a Globo. O lobista e delator Milton Pascowitch disse que um dos
acertos com o PT era repassar R$ 120 mil à Leonardo Attuch, da editora 247,
responsável pelo site Brasil 247. Attuch admite ter recebido o dinheiro,
explica que foram serviços prestados. Em se tratando de imagem, porém, o site
saiu arranhado, e a Globo está repetindo a informação com bastante ênfase. De
fato, o site Brasil 247 tem sido importante para a defesa do governo, de
maneira que o seu desprestígio debilita ainda mais o governo, o PT e confere
ainda mais poder à Globo.
6) A última hipótese é que a Globo realmente tenha sido
convencida, pelo grande capital, e pelos governadores, que um golpe não seria
vantajoso. O país perderia a estabilidade econômica, política e social por
muito tempo. Um golpe via TCU ou TSE criaria uma jurisprudência perigosa.
Nenhum governador ou prefeito teria segurança de terminar seu mandato, porque
praticam “pedaladas fiscais” infinitamente piores do que as de Dilma, e recebem
doações de empresários muito mais suspeitos e corruptos.
Neste sombrio mês de agosto, a meu ver, a postura menos
oportuna, menos prudente, é ficar “otimista”.
O recuo da Globo pode ser o recuo das águas do mar nos
momentos que antecedem um tsunami.
Dilma, enquanto isso, participa da inauguração de 700 casas
em Roraima.
Aliás, as falas da Dilma deixam entrever como pensa a
presidenta, e explicam o seu comportamento.
Depois de defender o valor do voto, numa referência
explícita às tratativas da oposição de chegar ao poder sem ganhar eleições, ela
acrescentou: “Ao longo da vida eu passei muitos momentos difíceis. Sou uma
pessoa que aguenta pressão. Sou uma pessoa que aguenta ameaça. Aliás, eu
sobrevivi a grandes ameaças à minha própria vida”
Bingo!
Dilma transformou o Planalto numa espécie de aparelho, onde
fica escondida, resistindo à “pressão”, aguentando “ameaça”. No meio da crise,
sua cabeça voltou a pensar como uma guerrilheira dos anos 60, e não como uma
figura pública, representante política máxima de todos os brasileiros, que
precisa enfrentar a crise fazendo política, através de uma grande ofensiva na
comunicação.
Ou pior: Dilma age como se estivesse presa, sob tortura, sob
“ameaça”, e que a postura mais corajosa possível seja manter o silêncio. Não é,
Dilma. No momento, você tem a caneta sagrada do poder da república em suas
mãos. A atitude mais heroica é usá-la!
Não há outra solução. Dilma precisa juntar seus ministros
mais fieis, o núcleo duro de sua bancada parlamentar, unir os movimentos
sociais organizados, e construir uma agenda política em comum. E anunciar essa
agenda antes do dia 16, data marcada para o início do golpe.
Dilma precisa lutar contra o dia 16, quando novamente os
meios de comunicação tentarão jogar milhões nas ruas a pedir não apenas sua
cabeça, mas a cabeça de todos os progressistas e de toda a esquerda, visto que
são marchas eminentemente fascistas.
Para isso, precisa construir sua agenda, como já disse, e
ajudar a fortalecer o dia 20 de agosto, quando os movimentos sociais sairão em
sua defesa.
Via – Portal Vermelho
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