sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Revoltados Online na Câmara

Convidados a comparecer à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apura os crimes na internet, o chefão dos Revoltados Online, Marcello Reis, e a advogada Beatriz Kicis se cercaram de uma claque barulhenta de cerca de 70 pessoas para fazer exatamente o que fazem na internet: dizer barbaridades, disparar clichês contra a esquerda e zoar qualquer opinião divergente.

(O deputado Marco Feliciano faz serviço de sopro no pixuleco de Lula. 
Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)
Pouco antes de a audiência começar, jovens de 20 e poucos anos ligados aos Revoltados Online e ao Movimento Brasil Livre conversavam animadamente com os deputados Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, com quem tiravam selfies. Bolsonaro fazia piadas machistas, citando “Kid Bengala” e coisas do gênero. Incrivelmente, as moças do grupo riam. Não se sabia ainda se Jean Wyllys, do PSOL, autor do convite, iria comparecer. Ele não foi.

“A ‘menina’ ainda não chegou”, disse Marcello a um correligionário, se referindo ao deputado, que é ativista homossexual. “A ‘noiva’ sempre chega atrasada”, disse outro membro do grupo. “Deve estar se maquiando”, falou Bolsonaro. Risos. Feliciano, de topete alisado e com mechas loiras, tentava decifrar a frase de Simone de Beauvoir que caiu na prova do ENEM, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. “Então mulher existe ou não existe?”, dizia. Risos.


Alguns meninos do grupo, todos brancos (à exceção de Fernando Holiday, que chegou no final), usavam cabelos compridos, com rabo de cavalo, e brincos – moderninhos na aparência, conservadores na essência. Resolvi perguntar a Bolsonaro o que ele, que preza tanto pela “masculinidade”, achava dos penteados de seus fãs. “O que vale é se ele vai olhar pro lado, se está defendendo ideologia de gênero ou não. Isso aí é moda. Tá pensando que eu sou tão quadrado assim?”

“Ideologia de gênero”, aliás, é o novo mantra dos reaças. Beatriz Kicis, que tem vídeos no youtube ao lado de seu ídolo, o pseudofilósofo Olavo de Carvalho, só fala nisso. “A doutrinação ideológica é feita desde o primário. Tem até banheiro com ideologia de gênero! O que é isso? Onde estamos?”, disse Beatriz, fazendo metáforas ao estilo dona-de-casa. “É a mesma receita de Cuba e da Venezuela, é o mesmo bolo que vai sair daí. Desarmam a população, sexualizam as crianças, tiram a autoridade dos pais com essas leis da palmada, criam pequenos comunistas! Estamos perto de virar uma Venezuela!”

Essa é outra obsessão de Beatriz, a “transformação” do Brasil em um país “comunista”, “totalitário”. Para ela, a luta contra a corrupção não é tão importante, “mas a corrupção servindo de meio para o Estado totalitário” que acusa o PT de estar instalando por aqui. “Vou continuar lutando contra o Foro de São Paulo de manhã, de tarde, de noite e de madrugada!”, discursou, para delírio geral.

Neste momento, o deputado Sandro Alex, do PPS paranaense, sub-relator da CPI, fez questão de se certificar se os Revoltados estavam de fato online. “Estão transmitindo pela internet?” Sim, estavam. Era a vez de Marcello Reis falar. Ele contou que criou o canal em 2000, para, afirma, “rastrear pedófilos”, após a filha ter sido vítima de abuso. “Depois de 2010 é que os seguidores começaram a levar para a política. Eu não era politizado”, disse.

Em seguida, defendeu-se por ter postado no Facebook uma acusação infundada contra o deputado petista Paulo Pimenta, acusando-o de ser proprietário da boate Kiss, que pegou fogo matando 242 pessoas em 2013. “Foi outro administrador que colocou no ar, eu estava viajando. Excluí o post depois de 5 minutos e até podia ter pedido desculpas, mas o deputado me chama de neonazista só porque sou desprovido de cabelo”, pilheriou. Gargalhadas da claque. Curiosamente, Marcello voltou a atribuir a “outro administrador” da página os demais conteúdos polêmicos, como a defesa do uso de armas de fogo.

Para mostrar que é “vítima” do ódio, o líder dos Revoltados Online exibiu um áudio onde é chamado de “filho de uma puta soviética”. “Recebo milhares de ameaças de petistas todos os dias”, afirmou. No entanto, ao ser questionado pelo deputado Esperidião Amin sobre o autor dos xingamentos, Marcello se contradisse. “Não, esse daí não é petista.” Nas considerações finais, ele começou a inflar um boneco de Lula em plena mesa, no que foi impedido pela segurança, mas logo contou com o auxílio de Feliciano e dos Bolsonaros, pai e filho, para o serviço de sopro.

(Bolsonaro pai e Bolsonaro filho com a boca no pixuleco)
Não fosse pelo deputado Paulo Pimenta, que estava presente, os Revoltados sem causa ficariam sem o contraditório. Pimenta afirmou que Marcello Reis não é apenas o líder de um grupo anti-corrupção na política. “Estou convencido que se trata de uma organização que já cometeu um conjunto de crimes graves, inclusive tirar dinheiro de pessoas inocentes”, acusou. “Eu o processei, mas até hoje a Justiça não conseguiu notificá-lo porque ele muda de endereço.”


A claque de bolsomitômanos “defensores da liberdade de expressão” não permitia que o deputado falasse, gritando, vaiando e emitindo sons como “Hummmm”. O mesmo aconteceu quando Alice Portugal, do PCdoB baiano, usou o microfone. Com Bolsonaro, ao contrário, urravam: “Mito! Mito!”
Triste dia para a Câmara: o circo terminou com o grupo pulando como hooligans no plenário da Comissão e entoando um “hino antibolivariano”. O que tinha de ser esclarecido não ficou: afinal, o que fazem os Revoltados Online nas redes é só “liberdade de expressão”? Julgue você mesmo no vídeo abaixo.

Detalhe: após a audiência, o grupo se dirigiu para o gabinete da presidência da Casa. Sim, os “anticorrupção” continuam apoiando Eduardo Cunha.


Por Cynara Menezes no Socialista Morena

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