Convidados a comparecer à CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) que apura os crimes na internet, o chefão dos Revoltados Online,
Marcello Reis, e a advogada Beatriz Kicis se cercaram de uma claque barulhenta
de cerca de 70 pessoas para fazer exatamente o que fazem na internet: dizer
barbaridades, disparar clichês contra a esquerda e zoar qualquer opinião
divergente.
(O deputado Marco Feliciano faz serviço de sopro no pixuleco
de Lula.
Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados)
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“A ‘menina’ ainda não chegou”, disse Marcello a um correligionário, se referindo ao deputado, que é ativista homossexual. “A ‘noiva’ sempre chega atrasada”, disse outro membro do grupo. “Deve estar se maquiando”, falou Bolsonaro. Risos. Feliciano, de topete alisado e com mechas loiras, tentava decifrar a frase de Simone de Beauvoir que caiu na prova do ENEM, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. “Então mulher existe ou não existe?”, dizia. Risos.
Alguns meninos do grupo, todos brancos (à exceção de
Fernando Holiday, que chegou no final), usavam cabelos compridos, com rabo de
cavalo, e brincos – moderninhos na aparência, conservadores na essência.
Resolvi perguntar a Bolsonaro o que ele, que preza tanto pela “masculinidade”,
achava dos penteados de seus fãs. “O que vale é se ele vai olhar pro lado, se
está defendendo ideologia de gênero ou não. Isso aí é moda. Tá pensando que eu
sou tão quadrado assim?”
“Ideologia de gênero”, aliás, é o novo mantra dos reaças.
Beatriz Kicis, que tem vídeos no youtube ao lado de seu ídolo, o pseudofilósofo
Olavo de Carvalho, só fala nisso. “A doutrinação ideológica é feita desde o
primário. Tem até banheiro com ideologia de gênero! O que é isso? Onde
estamos?”, disse Beatriz, fazendo metáforas ao estilo dona-de-casa. “É a mesma
receita de Cuba e da Venezuela, é o mesmo bolo que vai sair daí. Desarmam a
população, sexualizam as crianças, tiram a autoridade dos pais com essas leis
da palmada, criam pequenos comunistas! Estamos perto de virar uma Venezuela!”
Essa é outra obsessão de Beatriz, a “transformação” do
Brasil em um país “comunista”, “totalitário”. Para ela, a luta contra a
corrupção não é tão importante, “mas a corrupção servindo de meio para o Estado
totalitário” que acusa o PT de estar instalando por aqui. “Vou continuar
lutando contra o Foro de São Paulo de manhã, de tarde, de noite e de
madrugada!”, discursou, para delírio geral.
Neste momento, o deputado Sandro Alex, do PPS paranaense,
sub-relator da CPI, fez questão de se certificar se os Revoltados estavam de
fato online. “Estão transmitindo pela internet?” Sim, estavam. Era a vez de
Marcello Reis falar. Ele contou que criou o canal em 2000, para, afirma,
“rastrear pedófilos”, após a filha ter sido vítima de abuso. “Depois de 2010 é
que os seguidores começaram a levar para a política. Eu não era politizado”,
disse.
Em seguida, defendeu-se por ter postado no Facebook uma
acusação infundada contra o deputado petista Paulo Pimenta, acusando-o de ser
proprietário da boate Kiss, que pegou fogo matando 242 pessoas em 2013. “Foi
outro administrador que colocou no ar, eu estava viajando. Excluí o post depois
de 5 minutos e até podia ter pedido desculpas, mas o deputado me chama de
neonazista só porque sou desprovido de cabelo”, pilheriou. Gargalhadas da
claque. Curiosamente, Marcello voltou a atribuir a “outro administrador” da
página os demais conteúdos polêmicos, como a defesa do uso de armas de fogo.
Para mostrar que é “vítima” do ódio, o líder dos Revoltados
Online exibiu um áudio onde é chamado de “filho de uma puta soviética”. “Recebo
milhares de ameaças de petistas todos os dias”, afirmou. No entanto, ao ser
questionado pelo deputado Esperidião Amin sobre o autor dos xingamentos,
Marcello se contradisse. “Não, esse daí não é petista.” Nas considerações
finais, ele começou a inflar um boneco de Lula em plena mesa, no que foi
impedido pela segurança, mas logo contou com o auxílio de Feliciano e dos
Bolsonaros, pai e filho, para o serviço de sopro.
(Bolsonaro pai e Bolsonaro filho com a boca no pixuleco)
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A claque de bolsomitômanos “defensores da liberdade de
expressão” não permitia que o deputado falasse, gritando, vaiando e emitindo
sons como “Hummmm”. O mesmo aconteceu quando Alice Portugal, do PCdoB baiano,
usou o microfone. Com Bolsonaro, ao contrário, urravam: “Mito! Mito!”
Triste dia para a Câmara: o circo terminou com o grupo
pulando como hooligans no plenário da Comissão e entoando um “hino
antibolivariano”. O que tinha de ser esclarecido não ficou: afinal, o que fazem
os Revoltados Online nas redes é só “liberdade de expressão”? Julgue você mesmo
no vídeo abaixo.
Detalhe: após a audiência, o grupo se dirigiu para o
gabinete da presidência da Casa. Sim, os “anticorrupção” continuam apoiando
Eduardo Cunha.
Por Cynara Menezes no Socialista Morena
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