Tal qual ao medievalismo, onde
quem questionasse, negasse ou lesse fora da cartilha da igreja católica era
tido por herege, bruxa ou satânico e conseqüentemente era lançado na fogueira
da “santa inquisição”, assim é a repulsa comportamental religiosa de muitos
fanáticos contra aqueles que hoje em dia, metem-se no direito de questionar as
religiões ou escolher fazer um curso de humanas para sua formação pessoal. Para
os ignorantes religiosos, a partir do momento em que uma pessoa escolhe fazer
um curso de história, filosofia, sociologia ou qualquer outro do campo de
humanas, tal pessoa já se torna ateu empedernido e irremediavelmente é
associada ao diabo.
Primeiro, há alguns pontos a
serem observados sobre esta associação de ateus a Satanás e a equivocada
intenção de fazer parecer que, quem nega a Deus, infalivelmente está associado
a Satanás, o que é uma grotesca mentira, pois para o ateu, não existe nenhum e
nem outro.
Conversando com alguns ateus,
aprende-se que não há como associá-los ao diabo, pois os ditos ateus, da mesma
forma que não professam a fé teológica, conseqüentemente, negam a existência de
um outro ser contrário, a alguma deidade, erram os que dizem que os ateus são
obrigatoriamente maus ou do diabo, porque o ateu, não crê na existência nem de
Deus nem do diabo, tanto Deus quanto o outro, são para eles, criações do
imaginário humano, e a crença é coisa que até o próprio satanás possui, pois a
bíblia dos cristãos é clara e franca em alguns de seus versículos quando diz
que os demônios são crentes.
Querem sanar a dúvida? Vamos a um
exemplo onde a bíblia afirma que o diabo acredita em Deus: Você crê que há um
Deus, fazes bem, os demônios também creem
e se estremecem. (Livro de Tiago, capítulo 2 versículo 19 – Desta feita,
percebe-se que os extremos, Deus e diabo, um crê na existência do outro e em
outras ocasiões eles até travam diálogos, como em Jó, quando Deus pergunta a
Satanás de onde ele vem e o próprio Satanás
responde: “De rodear a terra e percorrer por ela”- (Jó – 1, 7-8).
Portanto, religiosamente falando,
não há como associar um ateu à fé, para o ateu, Deus e diabo não existem e tudo
não passa de uma história absurda onde a criação desta lenda, relata a briga de
dois personagens e seus asseclas e ambos guerreiam por almas. Algo inadmissível
para a mente pensante destes que não professam fé em mitos ou seres invisíveis.
Outro engano a ser observado, é a
generalização, quem faz humanas, não é obrigatoriamente um ateu, os dedos fazem
parte de uma mesma mão, mas nem todos são iguais e há uma diferença
considerável entre o polegar e o mindinho. Os que conceituam por ateus todos os
historiadores, filósofos, etc., não imaginam que há padres e pastores evangélicos
que tem
formação em humanas, vários
exemplos de padres e pastores historiadores e filósofos que diferentemente do
que pensam, não se transformaram em ateus e continuaram firmes em sua fé.
Mas esta hipótese de associar o
diabo ao ateísmo é um erro grotesco da mesma forma que taxar por ateu qualquer
um que tenha formação em história ou em qualquer outro campo de humanas, não
são necessariamente ateus, os sem religiões e não são satânicos os que se
confessam ateus.
É preciso, portanto, desassociar
esta ideia do mau que recai sobre historiadores, filósofos etc., pois,
independente de serem crentes, agnósticos ou ateus, eles não estão
conseqüentemente associados a qualquer entidade a qual as religiões abominam.
Os presídios, os congressos, os
senados em todo mundo, estão cheios de cristãos e religiosos confessos, homens
corrompidos, o que prova que ser mau caráter, não é obrigatoriamente uma
característica comportamental de qualquer um que não tenha fé em espíritos,
mitos, lendas ou qualquer outra coisa não palpável.
Vale portanto estar em alerta, o
ateísmo não é unânime entre o povo de humanas e nem todos seguem o mesmo ponto
de vista, sendo que o respeito deve ser mútuo, impor a fé ou a não fé a outrem,
é desnecessário, inconveniente e fatalmente gera contendas e polêmicas.
Não existe neste caso um modelo
único a ser seguido, em humanas, cada um é o que acredita ou o que desacredita
e assim sucessivamente. O que deve imperar é a liberdade de pensamento e que o
questionar esteja sempre como um direito a ser exercido sem que este ou aquele
seja punido por dele fazer uso.
Viva o pensamento livre.
Mateus Brandão de Souza, graduado em História
pela FAFIPA.