O ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o escritor Fernando Morais vão
participar nesta terça-feira (30) do seminário internacional que discutirá a
política do preço fixo do livro, realizado pela Comissão de Educação do
Senado.
Os debates acontecem por sugestão da senadora Fátima Bezerra (PT-RN),
autora do projeto que determina um preço único para os livros serem
comercializados no Brasil durante o primeiro ano após seu lançamento ou
importação, permitindo, nesse período, desconto de, no máximo, 10%. Após 12
meses, as promoções dos livros ficam totalmente liberadas, da forma como ocorre
hoje.
A intenção da senadora é resgatar o livro como ferramenta de acesso ao
conhecimento e ao livre pensamento, deixando de trata-lo como simples
mercadoria, como vem acontecendo no país. “Através desta iniciativa, queremos
valorizar o livro como bem que é, tornando-o mais barato e contribuindo para
aumentar a oferta, aos leitores, de uma maior diversidade de títulos” destacou.
No Brasil, a Lei do Direito Autoral determina que o editor fixe o preço
de capa do livro, com base em custos como pagamento do direito autoral e das
diversas etapas da produção. No entanto, as grandes redes negociam com as
editoras descontos significativos, ao comprarem em grande quantidade, com a
promessa de, em troca, promover os produtos.
Preço elevado
Para não perder dinheiro, as editoras acabam embutindo esses descontos
no preço de capa, elevando o preço cheio, cobrado de quem não tem esse poder de
barganha, como as livrarias independentes, o que acaba prejudicando também o
consumidor que não tem acesso às grandes redes, em especial nas cidades
menores. Ou seja: todos acabam pagando muito mais caro por um livro para que
alguns consigam comprá-los mais barato nas promoções.
“A falta de regulamentação do preço prejudica, inclusive, a qualidade da
leitura que é oferecida no país, pois, com o fechamento das pequenas livrarias,
a população fica cada vez mais carente de pontos de acesso local ao livro e à leitura,
sendo obrigada a servir-se somente nos grandes centros de compra”, destaca a
senadora.
E acrescenta que “conforme as pequenas livrarias deixam de existir, pode
haver também uma padronização comercial dos títulos oferecidos. Nas grandes
redes, o que costumamos ver é uma variedade de títulos sobre um mesmo sucesso
comercial. Assim, a diversidade temática e cultural e mesmo a variedade de
títulos passam por uma redução, não em quantidade, mas no que diz respeito à
riqueza intelectual, literária e do pensamento humano”,
Ao delimitar o período e um limite para as promoções, como quer a
senadora, o editor deixa de ter de elevar os preços para poder garantir seu
lucro nas promoções. Com isso, o custo menor é repassado a todos os varejistas
e, por fim, ao leitor, como acredita a senadora, com base na experiência de
países que adotaram o preço fixo.
Experiências internacionais
A regulamentação da venda livros, conhecida internacionalmente como “Lei
do Preço Fixo”, não é inovação. Países como Alemanha, França, Argentina,
México, Portugal e Itália regulam os preços dos livros por determinados
períodos.
A França foi o primeiro país a adotar a medida em 1981. Com a entrada em
vigor da lei naquele país, houve aumento de publicações e de produções, melhor
remuneração para o autor e maior expansão das livrarias de bairro. Na França, o
prazo estipulado é de dois anos e, na Alemanha, 18 meses. No Brasil, a proposta
é de 12 meses, um dos menores.
De acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL), cerca de 80% dos municípios
brasileiros não têm livraria, embora hoje tenhamos, na média nacional, uma
livraria para cada 65 mil habitantes. A ONU considera ideal uma livraria para
cada 10 mil habitantes.
Recentemente, a CBL e o Sindicato Nacional de Editores de Livro (SNEL)
divulgaram a pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro” 2015,
que aferiu os dados do mercado referentes ao ano de 2014. Os dados demonstram
que os editores diminuíram o ritmo dos lançamentos, com uma redução de 8,5% no
total de títulos novos. No entanto, o mercado aumentou o número de tiragem,
garantindo uma produção idêntica a 2013. No Brasil, os livros de lançamento
correspondem a cerca de 1/3 das vendas de todo o varejo de livros.
Além do ministro e de Morais, confirmaram presença para o seminário
internacional que discutirá a política do preço fixo do livro, os presidentes
do sindicato Nacional dos Editores de Livro (SNEL) , Marcos da Veiga Pereira;
da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Luís Antonio Torelli; da International
Publishers Association (IPA), Richard Charkin; do Escritório Internacional da
Edição Francesa (BIEF), Jean-Guy Boin; da Associação Nacional de Livrarias
(ANL), Afonso Martin; da Liga Brasileira de Editoras, Raquel Menezes; da
Livraria Leitura , Marco Telles; e da Livraria Cultura, Sergio Herz.
Do Portal Vermelho
De Brasília, com informações da Ass. Sen. Fátima Bezerra