Nós homens desde que mundo é mundo procuramos compreender
várias questões que até hoje não encontramos respostas, Porque sofremos? Porque
morremos? Neste momento procuro resposta para esta segunda pergunta, mas tenho
a consciência que jamais encontrarei.
Dia 27 de maio, o grande amor da minha vida Camila Milleny
Moreno resolveu partir, a dor é imensa, a saudade nem se fala. Foram oito anos
de convivência que serviram para nutrir esse amor que tenho por ela e que ela
teve por mim.
A conheci no início de sua luta acadêmica, em Nova Londrina,
eu terminando a minha faculdade e ela terminando o ensino médio e sonhando em
passar no vestibular, seu sonho, ser psicóloga. Foram horas de estudo, várias
idas e vindas a Paranavaí para fazer o curso pré-vestibular durante a noite, e
durante o dia ela trabalhava para custear seus estudos.
Foram vários vestibulares que ela não conseguiu passar, mas
apesar da dificuldade, ela nunca desistiu, passou no vestibular da FAFIPA, hoje
UNESPAR de Paranavaí em História, persistiu no curso durante um ano e lá fez
muitos amigos, mas, seu sonho em fazer Psicologia, permanecia.
Mais uma vez ela
persistiu, fez o ENEM e conseguiu uma bolsa integral na faculdade UNINGÁ e
finalmente ingressou no curso de Psicologia. Levou consigo para Maringá apenas
suas roupas e com a cara e coragem enfrentou os cinco anos de faculdade.
Trabalhou em um jornal, trabalhou no CRAS de Sarandi com menores carentes,
ficou desempregada, passou por dificuldades financeiras, mas teve a ajuda de
seus pais, avós e de suas amigas que mais tarde compartilharam com ela uma
república.
Sua vida era uma turbulência, trabalho, faculdade, horas de
estudo, mas, claro havia também os momentos de lazer que eu e suas amigas
tivemos a chance de estarmos juntos, eram nesses momentos que conhecíamos a
Camila divertida, alegre, que adorava dançar.
Com minha partida para Maringá pude ficar mais próximo dela,
ela estagiando na Usina Santa Terezinha, conseguiu um emprego para mim e na
necessidade de cuidar e de protegê-la lhe ofereci um lar, um aconchego que ela
decorou e mobiliou segundo suas preferências e lá permanecemos até o momento de
sua partida.
Foram dois anos felizes onde compartilhamos muitas
brincadeiras, onde pude conhecê-la com muita intensidade onde o amor, a
admiração e orgulho cresceram dentro de mim imensamente.
Nossa casa era meu porto seguro, afina,l lá estava a minha
felicidade, era nela que comíamos juntos, estudávamos juntos, dormíamos e
acordávamos. Adorava durante a noite principalmente aos finais de semana deitar
na cama com ela e ouvir músicas, conversar, assistimos inúmeros filmes. Também
saíamos muito, ela que tinha um refinado gosto musical adorava ir a shows como
das bandas “Engenheiros do Hawai”, “Barão Vermelho” e “Nenhum de Nós”. Para ela
foi emocionante ouvir “Nenhum de Nós” tocar a música “Camila, Camila” que foi a
origem de seu nome.
Cinco anos se passaram, ela venceu, formou-se em Psicologia,
adquiriu seu CRP, e finalmente lá estava ela com seu certificado na mão,
vestida com sua beca e toda feliz, e eu cheio de orgulho.
E chegou o tão
esperado oito de março, dia da formatura, com um vestido lindo escolhido por ela
que a fez se sentir uma rainha naquele dia, juntamente com suas amigas Aliny e
Francielle, Camila nunca esteve tão feliz e tão radiante em sua vida, meu peito
estava cheio de felicidade em ver a minha companheira feliz e realizada.
Depois de todo este esplendor, finalmente ela decidiu cuidar
da saúde, livrar-se de vez de sua doença que a acompanhava desde o seu
nascimento. Infelizmente foi um processo doloroso, que a deixou bastante
debilitada fisicamente, mas nunca ouvi lamentos e reclamações, mais uma vez
Camila apesar de mais uma grande dificuldade lutou bravamente, mas agora pela
sua saúde e sua vida.
Foi cercada de cuidados médicos, cuidados da família e claro
dos meus, fiz tudo para mantê-la esperançosa, para afastar de sua mente os maus
pensamentos, dei todo o meu carinho e o amor de forma mais intensa para mostrar
que ela não estava sozinha e que ela era uma pessoa muito amada.
Tive a sorte de ter passado com ela suas últimas noites,
conversamos muito sobre tudo, assistimos tv, um filme, e como toda noite
comemos nossos biscoitos juntos. Mas a última noite foi especial, rezamos
juntos, logo de início por iniciativa dela começamos com um “Pai Nosso”, e em
seguida ela agradeceu a Deus por ter sido protegida por ele durante toda sua
vida, pediu perdão pelas suas faltas e pediu uma nova vida onde ela pudesse
através de seu trabalho ajudar a quem precisa. Mas, consciente de que ela
pudesse partir, me pediu que seus órgãos fossem doados a quem precisa, porque
além de ajudar quem sofre, um pedacinho seu permaneceria vivo.
Diante de tanta luta e tanta nobreza, Camila me deixou uma
inestimável herança, que é a força a determinação, a coragem, o não pessimismo,
o amor, a caridade, o carinho e o exemplo de fidelidade e companheirismo. Minha
dívida com ela é impagável só lamento não ter tido mais tempo para retribuir e
proporcionar uma vida mais aconchegante.
Aceitar a morte todos nós não aceitamos, ela brutal,
violenta, mas por incrível que pareça ela natural, a vida e a natureza nos
demostra todos os dias essa verdade. Lamento profundamente, minha dor é imensa,
mas conseguirei afastar esse sofrimento de minha alma e de meu coração com
tempo e com fé em Nosso Senhor.
Camila, a mulher da minha vida, o meu grande amor nunca
deixará a minha memória. Te amo mor, vá em paz, tenho muita esperança que um
dia novamente iremos nos encontrar.
Obrigado por tudo, foi um privilégio e uma honra estar ao seu
lado.
Lincoln de Britto
Santos – 31/05/2014