O presidente uruguaio José Mujica, um ex-guerrilheiro
marxista de 79 anos.
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Por Vinicius Gomes, na Revista Fórum
Possui um salário que chega a mais ou menos 28 mil reais.
Guarda para si menos de 10% desse valor e o resto doa para pequenas empresas e
ONGs ligadas a projetos de habitação. Além de sua casa no pequeno sítio, seus
únicos patrimônios são um Corsa, dois tratores e um Fusca de estimação de 1978
avaliado em pouco mais de mil dólares. Tem também uma outra companheira: uma
cadela de três patas chamada Manuela.
“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo porque
para viver não preciso muito mais do que tenho… Minha maneira de viver é
consequência da evolução da minha vida. Lutei até onde é possível pela
igualdade e equidade dos homens” – diz ele. “Se tivesse muitas coisas, acabaria
por ocupar-me delas. A verdadeira liberdade está em consumir pouco.”
De liberdade – e, principalmente, da falta dela – Pepe
entende bem: décadas atrás lutou contra a ditadura militar no Uruguai, e por
isso passou 14 anos como preso político. Perdeu sua liberdade individual
lutando pela do seu país. Diz que nessa época conversava com rãs e formigas
para tentar não enlouquecer e que por muitas noites, tudo o que mais desejava
era um colchão. Talvez por isso tenha dito há pouco tempo que “o mundo está
prisioneiro hoje da cultura da sociedade de consumo e o que está se consumindo
é vida humana, em quantidades enormes”, pois se perdeu a capacidade de
desfrutar o tempo e a ideia de que “estar vivo é um milagre”.
Hoje, ele é diferente, claro. Não mudou, mas não é o mesmo.
Tem ideias muito distantes do marxismo que defendia nos tempos de juventude, no
entanto, salienta: “Continuo sendo socialista porque sou inimigo da exploração
do homem pelo homem”.
Culto e inteligente, ainda bem. Pois esses dois adjetivos só
funcionam bem se andarem lado a lado, especialmente em sua linha de trabalho.
“A política não é um passatempo, não é uma profissão para se viver dela – é uma
paixão com o sonho de tentar construir um futuro social melhor; aos que gostam
do dinheiro: fiquem bem longe de política”, sentencia o velho Pepe.
Esse homem que prega não a “valorização da pobreza”, mas sim
a “sobriedade do viver”, é um chefe de Estado: o presidente do Uruguai, José
Alberto Mujica Cordano. Ele completa hoje 79 anos, é admirado
internacionalmente e, restando dez meses de deixar a presidência do Uruguai, a
sensação é de já estar deixando saudades quando deixar o cargo e se dedicar a –
segundo ele – plantar tomates, acelgas e ensinar jovens de famílias com poucos
recursos o amor pela terra, pois afinal, “o poder não muda as pessoas, apenas
revela o que elas verdadeiramente são”.
Em tempo, ele utiliza um iPad para ler as notícias de manhã.
Parece que às vezes o jornal não chega até sua vizinhança.
Portal Vermelho
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