sábado, 6 de fevereiro de 2016

Os 13 Dias do Fico de Cunha na presidência da Câmara


Por Lilian Venturini

Ameaçado por processo de cassação, deputado ignora a pressão e reafirma permanência no cargo mais de uma vez por mês, desde março de 2015

A permanência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara começou a ser questionada a partir de março de 2015. Desde então, em pelo menos 13 oportunidades, ele disse que não renunciaria “em qualquer circunstância”.

Cunha foi eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2015, com mandato previsto até fevereiro de 2017. Já no mês seguinte à posse, teve seu nome listado entre os investigados pela Lava Jato.

Nesse período, ele foi denunciado por dois crimes e tornou-se alvo de um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara sob acusação de mentir aos colegas a respeito de contas na Suíça ligadas ao seu nome.

A pergunta sobre sua renúncia ao comando da Câmara voltou a ser feita ao peemedebista na quarta-feira (3), depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki afirmar que pretende analisar a denúncia contra ele por suposto recebimento de propina fruto do esquema de desvios na Petrobras.

Depois de avaliar se abre ou não ação penal contra o deputado, os ministros do STF vão então analisar o pedido de afastamento feito pela Procuradoria-Geral da República.

Cunha nega ter recebido dinheiro e se diz alvo de “perseguição” por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, segundo ele, escolhe a quem investigar. Há inquéritos contra outros 37 parlamentares suspeitos de ligação com a Lava Jato.

Enquanto não há uma determinação judicial que o obrigue a deixar a presidência da Câmara, ele diz que fica:

“Meus argumentos são muito fortes. Mas eu não vou entrar nesse mérito. Eu vou continuar em qualquer circunstância [na presidência da Câmara]”

Eduardo Cunha

3 de fevereiro 2016

Veja os outros momentos em que Eduardo Cunha negou ter intenção de renunciar ou de se afastar
PF NA CASA DE CUNHA

Policiais federais fizeram buscas em residências e escritório do deputado em 15 de dezembro, como parte das investigações da Lava Jato.

“Não tem a menor hipótese de eu renunciar. Sou absolutamente inocente. Fui escolhido para ser investigado. Eu sou um desafeto do governo”

Eduardo Cunha

15 de dezembro de 2015

CONTAS SECRETAS NA SUÍÇA

As manifestações de Cunha foram mais recorrentes em outubro de 2015, mês em que foram tornados públicos documentos sobre a existência de contas bancárias atribuídas ao deputado e não declaradas no Brasil. Os documentos, encaminhados às autoridades brasileiras pelo Ministério Público da Suíça, motivaram reações de parlamentares, que levaram o caso ao Conselho de Ética.

“Eu acho graça de alguns que vêm aqui falar da minha renúncia, mas não pedem da presidente Dilma. Se for pelo mesmo parâmetro, você teria muitas e iguais motivações”

Eduardo Cunha

23 de outubro, em entrevista ao “Estado de S. Paulo”

“Esqueçam, não vou renunciar. Aqueles que desejam a minha saída têm de esperar o fim do mandato para escolher outro”

Eduardo Cunha

19 de outubro, quando foram revelados novos documentos sobre contas atribuídas a ele na Suíça, pelo Ministério Público do país europeu

“Em relação a qualquer pedido de afastamento ou de renúncia por parte do presidente da Câmara, ele informa que foi eleito pela maioria absoluta dos deputados, em primeiro turno, para cumprir um mandato de dois anos e irá cumpri-lo, respeitando a posição de qualquer um que pense diferente, mas afirmando categoricamente que não tem intenção de se afastar nem de renunciar”

Eduardo Cunha

10 de outubro, em nota divulgada após lideranças de partidos da oposição terem pedido a saída de Cunha do cargo

“Esquece, não vou renunciar. Eu já fui réu. Um ano depois, fui inocentado por unanimidade”

Eduardo Cunha

9 de outubro, em entrevista à “Folha de S.Paulo”

“Não há a menor possibilidade de renunciar, (de pedir) licença ou qualquer coisa do gênero”

Eduardo Cunha

7 de outubro, após informações enviadas pelo Ministério Público da Suíça virem à tona

PROCURADORIA APRESENTA DENÚNCIA

A Procuradoria-Geral da República apresentou denúncia contra Cunha em agosto do ano passado, sob acusação dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O deputado nega.

“Ninguém vai me constranger. Não há renúncia. Renúncia não faz parte do meu vocabulário. E não o fará. Covardia também não faz parte. Estou absolutamente tranquilo e sereno”

21 de agosto

dia seguinte à PGR apresentar denúncia contra Cunha pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, na Lava Jato

DEPOIMENTO DE LOBISTA

Em julho de 2015, o consultor da Toyo Setal Júlio Camargo, delator na Lava Jato, afirmou à Justiça que Eduardo Cunha pediu a ele US$ 5 milhões em propinas em um contrato de compras de navios-sonda. O conteúdo da delação poderia reforçar as denúncias contra ele, em análise pela PGR.

“A eventual denúncia, se ocorrer, terá de ser apreciada pelo plenário do STF. Não cogito qualquer afastamento”

Eduardo Cunha

25 de julho

CUNHA NA LISTA DE JANOT

Em 6 de março de 2015, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou a primeira relação de políticos investigados por suspeitas de envolvimento com os esquemas de corrupção na Petrobras. Cunha é um deles.

“É óbvio que eu não me afastarei. Não tem nada ali [na denúncia] que eu não conseguisse explicar. (...) Eu não vejo razão para isso [para renunciar]”

Eduardo Cunha

17 de março, em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura

“Não cogito nada disso [renunciar] e não o farei”

Eduardo Cunha

10 de março, em entrevista ao “El País”

“Óbvio que não farei isso [me afastar da presidência da Câmara]. Fui líder do PMDB com uma denúncia, fui julgado e absolvido, fui presidente da Comissão de Constituição e Justiça quando tive um inquérito. Todos são iguais no exercício do mandato. Todos são qualificados enquanto estiverem lá. E, finalmente, fui eleito com 267 votos [para a presidência da Câmara]”

Eduardo Cunha

8 de março, em entrevista coletiva

“A chance de pedir afastamento da presidência da Câmara é zero. Já sofri inquérito e denúncia e sempre fui inocentado”

Eduardo Cunha

6 de março, em entrevista coletiva

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