terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O relato do juiz que presenciou o massacre no presídio do Amazonas

Luís Carlos Valois é juiz do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Na manhã desta segunda (02), Valois publicou numa rede social o relato do que presenciou do massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), onde mais de 60 morreram, segundo informações iniciais.


O magistrado diz ter sido convocado pela Secretaria de Segurança do Estado na noite de domingo, horas depois de o motim ter começado por uma briga entre facções criminosas. O juiz participou das negociações para libertar alguns reféns. Valois afirmou que ficou chocado com as cenas. "Nunca vi nada igual na minha vida". A imprensa já trata a chacina como a maior desde Carandiru.

Resumo do que presenciei: "A rebelião começou de tarde, mas eu só soube de noite. Por volta de 22 hs me ligaram da Secretaria de Segurança pedindo minha presença. Vieram me buscar. Chegando lá os presos tinha tomado todo o regime fechado e o semiaberto. Tinham feito um buraco e passavam de um lado para o outro. A polícia tinha cercado o local. A informação era de 6 corpos. Falei com o preso que negociava pelo rádio e disse que falaria com ele pessoalmente. A polícia fez os preparativos de segurança. Dois presos vieram, pedindo apenas que nos comprometêssemos a não fazer transferências, a manter a integridade física e o direito de visitas. Eu disse que iria conversar com os responsáveis pela segurança, mas que só faria isso se eles soltassem três reféns. Eles soltaram. Pedi que eles saíssem do regime semiaberto. Eles saíram. A polícia tomou o semiaberto, bloqueou a passagem. Depois os presos disseram que só iriam entregar os outros reféns às 7 da manhã. Esperou-se. Voltei, falei com o preso de antes, levei um documento dizendo que as autoridades estavam de acordo. Eles entregaram os demais sete reféns funcionários, sem ferimentos. Alguns reféns presos feridos saíram de ambulância. Vi muitos corpos, parecendo que morreram entre 50 a 60 presos (pessoas), mas difícil afirmar, pois muitos estavam esquartejados. Quando a polícia entrou no Complexo, voltei para casa. Nunca vi nada igual na minha vida, aqueles corpos, o sangue... fiquem com Deus!"

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