quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Sucateamento de universidades públicas no Brasil é parte de plano para privatizá-las

Processo de desgaste do ensino superior no país seria etapa do projeto de Temer de cobrar mensalidade em federais.


Por Juliana Gonçalves*

De Sergipe ao Rio Grande do Sul, a situação do ensino superior público no Brasil é de precarização. Ao longo de 2017, diversas universidades denunciaram a situação de sucateamento pelo qual as universidades estão passando.

Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz que o processo de desgaste das universidades é um passo importante para o projeto de Temer, já que elas seriam grandes instrumentos de resistência à política subalterna que o golpista quer imprimir ao Brasil. "Sucatear a universidade é um aspecto estratégico dentro do plano de poder e projeto econômico do governo Temer."

Algumas das instituições federais vieram a público denunciar problemas administrativos graves causados pela falta de repasse de recursos do governo federal.

A Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, teve de emitir uma nota negando que a instituição fosse suspender as atividades por falta de dinheiro, o que demonstra o tamanho da crise orçamentária.

A UnB, Universidade de Brasília, disse ter um déficit acumulado de mais de R$ 100 milhões de reais. E a Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, demitiu trabalhadores e suspendeu obras em andamento por falta de dinheiro.

Em nota, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) disse ter destinado quase R$10 bilhões de liberação orçamentária para as instituições, sendo R$ 6,3 bilhões apenas para as universidades. O repasse total das verbas, no entanto, só ocorreu em novembro.

Para Daniel, que também compõe o conselho de docentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o sucateamento tem como objetivo abrir caminho para a privatização total do ensino superior: "O governo federal tem feito algumas sinalizações muito claras de que ele deseja colocar em debate a questão da cobrança das mensalidades".

Encomendado por Temer, o Banco Mundial produziu um relatório divulgado em novembro sobre administração dos gastos públicos. Ao afirmar que um estudante de universidade pública custa de duas a três vezes mais do que um universitário de instituição privada, o documento concluía que acabar com a gratuidade da universidade pública seria um caminho para evitar gastos.

Situação de São Paulo

O desmonte da educação pública atinge também as universidades estaduais, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP).

Diana Assumpção, diretora de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP, afirma que diante da crise de orçamento, os trabalhadores das instituições sofrem sanções graves. Além disso, ela fala comenta a falta de transparência da administração da universidade:

"Essa questão orçamentária é muito importante porque eles falam em crise, uma crise que não foi criada pelos estudantes, pelos trabalhadores e professores da universidade e não abrem as contas para mostrar para onde está indo todo o dinheiro."

Assumpção diz que a reitoria da USP está alinhada ao tucano Geraldo Alckmin, que está no quarto mandato à frente do governo do estado. A dirigente sindical considera que há um projeto para sucatear a universidade e cita o desmonte do Hospital Universitário como exemplo.

"É sim um plano de sucateamento e privatização da universidade com o qual a gente precisa se enfrentar e apresentar outro projeto de universidade, com mais verbas para educação; uma universidade que esteja a serviço dos trabalhadores e da população."

O plano de demissão voluntária, o fim das creches para as mulheres trabalhadores e estudantes são, segundo ela, apenas mais alguns exemplos do descaso do estado e da ausência de uma gestão mais democrática.

*Do Brasil de Fato

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