quarta-feira, 18 de julho de 2018

No centenário de Mandela, cresce o abismo entre pobres e ricos

A quarta-feira (18) entrou para a história porque em 1918 nascia nessa data Nelson Rolihlahla Mandela, um dos principais líderes mundiais do século 20. Com sua trajetória de combate ao apartheid (regime de segregação racial de 1948 a 1994), Mandela se transformou num dos principais símbolos de resistência ao racismo e à violência do Estado contra a maioria da população sul-africana e ultrapassou fronteiras ao se tornar um líder mundial na luta antirracista no mundo.


Por Marco Aurélio Ruy

Por isso, Organização das Nações Unidas (ONU) transformou o dia do seu aniversario, 18 de julho, como o Dia Internacional Nelson Mandela. “A vida desse ícone deve ser reverenciada porque se dedicou integralmente a uma causa. E mesmo preso não se rendeu e pôde levar seu povo ao poder acabando com a segregação e a desumanização da maioria da população sul-africana”, diz Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Mantido prisioneiro por determinação da CIA (agência de espionagem estadunidense), passou 27 anos na prisão do regime segregacionista da África do Sul, conquistando a liberdade em 1990 para se tornar o primeiro presidente negro do país em 1994, cargo que só deixaria em 1999, com amplo apoio popular.

“Com a força de um libertador traduziu a luta contra a apartheid, pela luta dos direitos civis, humanos e pela soberania de seu país”, afirma Mônica. O líder negro faleceu no dia 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos, deixando um legado como poucos de resistência e abnegação pela causa de um mundo mais justo e igual.

Com muita justiça recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1993, pela sua trajetória em favor dos oprimidos, porque a sua luta transcendeu as fronteiras-sul-africanas e frutificou pelo mundo. "O valor deste prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso", disse em seu discurso na premiação do Nobel da Paz que dividiu com o último presidente branco de seu país, Frederik de Klerk.

Carinhosamente chamado por seu povo de Madiba, virou referência mundial pela paz e pela emancipação humana. “Primeiro presidente livre de uma das nações que compõe o berço da humanidade, Mandela se constrói no cenário contemporâneo das lutas de classe, e de direitos como um herói para vários povos em todo mundo”, acentua Mônica.

Muitas comemorações ocorrem na áfrica do Sul e em diversos países para homenagear um dos grandes homens que a humanidade conheceu. No âmbito progressista popular, Mandela tem a grandeza equivalente a Martin Luther King, Fidel Castro, Che Guevara, Mahatma Ghandi, Malcolm X, Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva. Todos que lutaram em favor de seus povos, da igualdade de direitos e por um mundo de paz e justiça.

Sua trajetória de combate à segregação racial imposta pela minoria branca, oficializada em 1948, Mandela deixou sua terra natal para cursar Direito na primeira universidade para negros da África do Sul. Despontava aí o grande líder que viria a ser. Em 1952, é eleito presidente do Congresso Nacional Africano (CNA), principal organização sul-africana contra o apartheid pela democracia, que marginalizava a imensa maioria da população sul-africana, com mais de 80% constituída de negros.

Defensor da luta pacifista mudou sua trajetória a partir do Massacre de Shaperville em 21 de março de 1960, quando uma manifestação pacífica de aproximadamente 5 mil negros contra a Lei do Passe, que os obrigava a manter uma caderneta na qual dizia onde eles poderiam ir. O protesto foi duramente reprimido causando 69 mortes e 180 pessoas ficaram feridas. Justificou a mudança de posição do CNA ao declarar mais tarde que “nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas condições”, sintetizou o pensamento de seus compatriotas.

Para a sindicalista carioca, “a grandiosidade de Mandela se forjou na luta cotidiana de seu povo, como se forjam os grandes heróis. Ele se tornou um dos maiores símbolos da luta por um mundo mais igual”.

Ele iniciou sua trajetória fundando a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano para organizar os jovens e orientar suas atividades por participação na vida política do país. Foi Mandela quem dirigiu o braço armado do CNA, após perceber que a luta pacífica enfrentava enormes dificuldades de execução, devido à repressão da minoria branca. Dessa forma, transformou-se no mais importante líder popular da história da África do Sul e pela liderança na luta contra o racismo e pela democracia constituiu-se numa figura exponencial para todos os que acreditam num futuro melhor para todos.

Mandela é uma dessas pessoas raras, abnegadas, que dedicam a vida à causa da humanidade para levar a mensagem de fé na própria humanidade e na justiça social com liberdade e igualdade de direitos. Por isso, conhecer a vida de Nelson Mandela é conhecer a história da África do Sul e do mundo do século 20.

Mesmo assim, lembra Mônica, “vivemos uma onda conservadora com uma taque brutal aos direitos humanos e à liberdade de ir e vir das pessoas”. Ela se refere às imensas dificuldades colocadas pelas nações do Primeiro Mundo à entrada de imigrantes, em sua maioria, pretos e pobres, atesta o Atlas da Violência 2018.

Para piorar, a Organização Não Governamental britânica Oxfam mostra que em 2017 82% da riqueza produzida ficou nas mãos de apenas 1% da população mundial, enquanto metade dos mais pobres ficou sem nada.

No Brasil, um dos países de maior concentração de renda, uma pessoa que receba um salário mínimo por mês tem que trabalhar 19 anos para ganhar o salário mensal de 0,1% da população.

Essa disparidade cruel reforça “os ataques aos imigrantes oriundos de países pobres é perverso, enquanto imigrantes brancos de países ricos são festejados”. Além disso, somente em 2016 foram assassinados mais de 30 mil jovens entre 15 e 29 anos no país, 70% negros, pobres, moradores da periferia.

Por essas e outras a Organização das Nações Unidas transformou o dia do seu aniversario, 18 de julho, como o Dia Internacional Nelson Mandela. Por isso, “devemos mais do que nunca, levantar bem alto a bandeira pela liberdade, pela superação da exploração do homem pelo homem, por igualdade de direitos, e paz no mundo”, reforça Custódio.

Para ela, Mandela é um dos principais heróis da luta contra o racismo no mundo e, por isso, seu centenário deve ser celebrado por todos os que acreditam no mundo novo e no homem novo.

Fonte: CTB
Via - Portal Vermelho

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