Por isso, Organização das Nações Unidas (ONU) transformou o
dia do seu aniversario, 18 de julho, como o Dia Internacional Nelson Mandela.
“A vida desse ícone deve ser reverenciada porque se dedicou integralmente a uma
causa. E mesmo preso não se rendeu e pôde levar seu povo ao poder acabando com
a segregação e a desumanização da maioria da população sul-africana”, diz
Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Mantido prisioneiro por determinação da CIA (agência de
espionagem estadunidense), passou 27 anos na prisão do regime segregacionista
da África do Sul, conquistando a liberdade em 1990 para se tornar o primeiro
presidente negro do país em 1994, cargo que só deixaria em 1999, com amplo
apoio popular.
“Com a força de um libertador traduziu a luta contra a
apartheid, pela luta dos direitos civis, humanos e pela soberania de seu país”,
afirma Mônica. O líder negro faleceu no dia 5 de dezembro de 2013, aos 95 anos,
deixando um legado como poucos de resistência e abnegação pela causa de um
mundo mais justo e igual.
Com muita justiça recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1993,
pela sua trajetória em favor dos oprimidos, porque a sua luta transcendeu as
fronteiras-sul-africanas e frutificou pelo mundo. "O valor deste prêmio
que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a
humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a
cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso", disse em
seu discurso na premiação do Nobel da Paz que dividiu com o último presidente
branco de seu país, Frederik de Klerk.
Carinhosamente chamado por seu povo de Madiba, virou
referência mundial pela paz e pela emancipação humana. “Primeiro presidente
livre de uma das nações que compõe o berço da humanidade, Mandela se constrói
no cenário contemporâneo das lutas de classe, e de direitos como um herói para
vários povos em todo mundo”, acentua Mônica.
Muitas comemorações ocorrem na áfrica do Sul e em diversos
países para homenagear um dos grandes homens que a humanidade conheceu. No
âmbito progressista popular, Mandela tem a grandeza equivalente a Martin Luther
King, Fidel Castro, Che Guevara, Mahatma Ghandi, Malcolm X, Hugo Chávez e Luiz
Inácio Lula da Silva. Todos que lutaram em favor de seus povos, da igualdade de
direitos e por um mundo de paz e justiça.
Sua trajetória de combate à segregação racial imposta pela
minoria branca, oficializada em 1948, Mandela deixou sua terra natal para
cursar Direito na primeira universidade para negros da África do Sul.
Despontava aí o grande líder que viria a ser. Em 1952, é eleito presidente do
Congresso Nacional Africano (CNA), principal organização sul-africana contra o
apartheid pela democracia, que marginalizava a imensa maioria da população
sul-africana, com mais de 80% constituída de negros.
Defensor da luta pacifista mudou sua trajetória a partir do
Massacre de Shaperville em 21 de março de 1960, quando uma manifestação
pacífica de aproximadamente 5 mil negros contra a Lei do Passe, que os obrigava
a manter uma caderneta na qual dizia onde eles poderiam ir. O protesto foi
duramente reprimido causando 69 mortes e 180 pessoas ficaram feridas.
Justificou a mudança de posição do CNA ao declarar mais tarde que “nós adotamos
a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram.
Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência
e usamos os métodos ditados pelas condições”, sintetizou o pensamento de seus
compatriotas.
Para a sindicalista carioca, “a grandiosidade de Mandela se
forjou na luta cotidiana de seu povo, como se forjam os grandes heróis. Ele se
tornou um dos maiores símbolos da luta por um mundo mais igual”.
Ele iniciou sua trajetória fundando a Liga da Juventude do
Congresso Nacional Africano para organizar os jovens e orientar suas atividades
por participação na vida política do país. Foi Mandela quem dirigiu o braço
armado do CNA, após perceber que a luta pacífica enfrentava enormes
dificuldades de execução, devido à repressão da minoria branca. Dessa forma,
transformou-se no mais importante líder popular da história da África do Sul e
pela liderança na luta contra o racismo e pela democracia constituiu-se numa
figura exponencial para todos os que acreditam num futuro melhor para todos.
Mandela é uma dessas pessoas raras, abnegadas, que dedicam a
vida à causa da humanidade para levar a mensagem de fé na própria humanidade e
na justiça social com liberdade e igualdade de direitos. Por isso, conhecer a
vida de Nelson Mandela é conhecer a história da África do Sul e do mundo do
século 20.
Mesmo assim, lembra Mônica, “vivemos uma onda conservadora
com uma taque brutal aos direitos humanos e à liberdade de ir e vir das
pessoas”. Ela se refere às imensas dificuldades colocadas pelas nações do
Primeiro Mundo à entrada de imigrantes, em sua maioria, pretos e pobres, atesta
o Atlas da Violência 2018.
Para piorar, a Organização Não Governamental britânica Oxfam
mostra que em 2017 82% da riqueza produzida ficou nas mãos de apenas 1% da
população mundial, enquanto metade dos mais pobres ficou sem nada.
No Brasil, um dos países de maior concentração de renda, uma
pessoa que receba um salário mínimo por mês tem que trabalhar 19 anos para
ganhar o salário mensal de 0,1% da população.
Essa disparidade cruel reforça “os ataques aos imigrantes
oriundos de países pobres é perverso, enquanto imigrantes brancos de países
ricos são festejados”. Além disso, somente em 2016 foram assassinados mais de
30 mil jovens entre 15 e 29 anos no país, 70% negros, pobres, moradores da
periferia.
Por essas e outras a Organização das Nações Unidas
transformou o dia do seu aniversario, 18 de julho, como o Dia Internacional
Nelson Mandela. Por isso, “devemos mais do que nunca, levantar bem alto a
bandeira pela liberdade, pela superação da exploração do homem pelo homem, por
igualdade de direitos, e paz no mundo”, reforça Custódio.
Para ela, Mandela é um dos principais heróis da luta contra
o racismo no mundo e, por isso, seu centenário deve ser celebrado por todos os
que acreditam no mundo novo e no homem novo.
Fonte: CTB
Via - Portal Vermelho
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