sábado, 16 de dezembro de 2023

Oração em tempos de sites de relacionamentos

 


Que teus contatos não passem teu número a estranhos.

Que ninguém te adicione em um novo grupo de whatsapp.

Que os que acham que entendem de política, não te encontrem.

Que as piadas sejam boas...

Que novos convertidos não queiram te convencer.

Que as visitas sejam breves...

Que os inconvenientes não te façam perguntas...

Que os pra frentes, te errem...

Que os chatos não te vejam de guarda chuva, não te vejam chegar atrasado e não queiram te mandar o vídeo do gemidão.

Que os anti-vacinas não fiquem com vontade de discursar perto de você.

Que os vídeos que você receba, não venham com mensagem tipo: "A casa caiu, "bomba" "a imprensa não vai mostrar" ou "cebola e alho fazem mal ou ainda,  "margarina vira plástico."

Que acabem as correntes mandando você repassar pra 30 amigos.

Que sua paciência seja preservada. Amém!

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Línguas de molambo

São mentes vazias e corações cheios de maldade, línguas que não se atém ao cuidado de refrearem-se, que não zelam em evitar o estrago daquilo que proferem, produzem conceitos pequenos, que em nada edificam para a formação de mentes evoluídas, como assim deveriam ser, uma vez que são providas de racionalidade, porém, preocupam-se antes em saber o que faz ou deixa de fazer o seu vizinho.

São pobres, não necessariamente pobres financeiros, pois, a chaga da pequenez de mente, caracteriza também aos que tem posses, São sobremaneira, pobres de espírito, desprovidos de sensatez e prudência onde abunda o egoísmo e a insanidade do prazer de gratuitamente deteriorar e promover a dor na vida alheia...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Sobre o peido

Um peido tem uma notória representatividade, na sociabilidade ele tem forte significado, demonstra que quem o expeliu se encontra em sua zona de conforto, isso quando solto perto de outrem.

 Um peido social representa confiança. Ninguém peida na frente de quem não tem intimidade, a não ser que o mesmo escape acidentalmente, e quando isso ocorre, gera constrangimento tanto por quem não foi capaz de segurá-lo, quanto pra quem o ouviu.

Porém, nada nos faz sentir mais em nosso território do que um sonoro peido perto de quem conhecemos.

Casais só se relaxam de fato, quando começam peidar na frente do outro. Sendo assim, socialmente, o peido tem boa representatividade, traduz confiança e significa que você já caminha irmanado com aqueles com quem você os divide.

Se você peida na frente de alguém sem receio algum e alguém faz o mesmo perto de você, brinde esta proximidade, vocês são parceiros incondicionais. O peido é uma das práticas mais saudáveis que existe. (P. T. S)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Cangaceira Durvinha

 


O povoado Arrasta Pé na velha Bahia, foi berço de uma das mais belas cangaceiras, jovem de formosura imensa, foram vários os interessados que arrastaram as asas para a moça bonita do Arrasta pé, porém, seu coração e seus desejos palpitaram pelo figurão Virgínio, membro da alta corte do cangaço lampiônico, Virgínio que inclusive era viúvo de Anália, irmã de Lampião.

Depois de sua viuvez Virgínio teve para si o amor de Durvinha, esta beldade que no calor de seus 15 anos, deixou tudo para trás, para seguir os passos errantes daquele homem que foi o amor de sua vida. Virgínio, o Moderno como foi batizado no cangaço, ganhou notoriedade na guerra a qual estava mergulhado, por praticar a castração em seus inimigos.

O eleito pela morena do Arrasta Pé, tombou sem vida, se esvaindo em sangue após ser baleado na perna no ano 1936... A jovem viúva teve por opção acompanhar o cangaceiro Moreno, e ao lado deste viveu por longos anos até o fim dos seus dias. Era Durvalina Gomes de Sá, a encantadora cangaceira Durvinha.

(Foto colhida na internet, parte do trabalho de Benjamin Abrahão)

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Cangaceira Dadá

 


Não se conta a fase lampiônica do cangaço sem mencionar a pernambucana Dadá, companheira de Corisco, o diabo loiro.

Dadá entrou para o cangaço após ser raptada por Corisco, deu-se com ela o que mais tarde a ciência denominou como Síndrome de Estocolmo, quando a vítima se apaixona por seu sequestrador.

Dadá é tida como a mais valente das cangaceiras, a única que pegou em armas e exímia atiradora, sua destreza no gatilho superou até alguns cangaceiros.

 Foi também talentosa costureira, Dadá mudaria a estética do cangaço com a costura, sendo responsável pelas cores nos bornais e arreios dos cangaceiros. 

Foi guerreira e defensora de Corisco e lutou ao lado do diabo loiro até a morte deste em 1940, ocasião em que ferida a bala no calcanhar, teve uma das pernas amputada. Sobreviveu ao cangaço e forneceu entrevistas a renomados pesquisadores do tema.

 Morreu na capital baiana rodeada da família onde residia no ano 1994

Ela foi Sérgia Ribeiro da Silva, a cangaceira Dadá...

(Dadá em 1936, pela lente de Benjamin Abrahão)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Lendas urbanas - O teste da vela

 



 

Os antepassados diziam que espíritos e entidades não entram em nossa casa sem nossa permissão. Eles ficam parados nas portas e janelas, à espreita, esperando para serem convidados pelos donos da casa, da maneira mais informal possível. Um exemplo disso, é quando a porta de sua casa se abre sozinha. Muitas pessoas falam em tom de brincadeira: "Pode entrar".

É neste momento que as entidades entram e ficam por ali, encostados em você, até virarem obsessores. Se quiser se certificar de que algo entrou em sua casa, ao anoitecer, acenda uma vela aos pés de alguma porta de sua casa e sente-se em frente à ela. Acalme sua mente e fale em um tom de voz mediano: "Se quiser entrar, a vela terá que apagar". Caso a vela se apague, a entidade confirmou sua presença ali e está pronta para entrar. (Não convide) Caso a vela continue acesa, não há entidade alguma por ali. Agora, se a vela cair, a entidade já está, há muito tempo, dentro de sua casa. Quer testar?

- Lenda Urbana - No Fatos desconhecidos.


sábado, 11 de novembro de 2023

O registro de um transporte de boiada tão corriqueiro na Nova Londrina dos anos 50...

Acervo de Arnold Hauser

 

Em cenas como essa um cancioneiro popular escreveu:

"Já vai bem longe este tempo, eu sei

Tão longe que até penso que eu sonhei,

Que lindo quando a gente ouvia distante

O som daquele triste berrante

E um boiadeiro a gritar "eiá!"

E eu ficava ali na beira da estrada

Vendo caminhar a boiada, até o último boi passar.

Ali passava boi, passava boiada

Tinha uma palmeira na beira da estrada

Onde foi cravado muito coração

Ali passava boi, passava boiada

TInha uma palmeira na beira da estrada

Onde foi cravado muito coração"

Foi-se o tempo, foram se os bois, as boiadas e seus boiadeiros... O triste berrante já não ecoa, porém, ficou o registro na memória dos remanescentes.

A imagem pertence ao acervo pessoal do saudoso Arnold Hauser, cuidadosamente guardado por dona Dalva do Suíço..

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O Grêmio Esportivo Marilena (GEMA) em 1976

 


Acervo de Toninho do Zuza.  

Escalação:

Em pé:

Nelsinho Mazzotti - Manezinho (Caríca) - Wilson Capelossi - Tigrão - Vanuir (Chaleira) - Toninho Apolinário - Reinaldo - Nelito Barbosa.

Agachados:

Toninho do Zuza - Zé Caturra - Gilberto Basílio - Nelão - Maurício Martinez - Sérgio do Atílio.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Grêmio Esportivo Marilena (GEMA) - *1977:

 


Segundo postagem no grupo "Marilena amigos para sempre", elencando a foto estão:

Nelson Mazzotti, Cláudio Mantuani, João Carlos Mendonça, Ernesto Mazzotti, José Vitor Maximiano, Cicero da Silva e Wilson Marcos, Afonso Palma, José Gonzaga Tonon, Armando Romanzini, José Chagas, Chiquinho Benteo e Osvaldo Pimentel.

*Informação de José GonzagaTonon.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Cangaceira Maria de Pancada

 


Mulher de notável beleza, traços delicados, contrastando com a realidade e a  crueza do mundo em que vivera...

Esteve por entre as feras, ela que com grandeza de detalhes foi o assunto das confabulações entre um cangaceiro e outro, tinha suavidade na voz, pés pequenos, mãos macias...

Mesmo com a política hostil, machista e injusta, teve em si a supremacia peculiar às mulheres, a deidade consoante às belas..

Ela era Maria Adelaide de Jesus, Maria Jovina ou ainda (Maria de Pancada, por ser a companheira do cangaceiro que tinha esta alcunha.)

Registro original feito pela lente de Benjamin Abrahão...

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Cangaceira Inacinha

 


Mulher de tez morena, cabelos ondulados. Em suas pupilas, o negrume das jaboticabas maduras, olhar fugaz, nariz e boca pequenos, condizentes ao seu rosto.

Tinha nas veias o sangue dos povos nativos, descendia dos índios Pancararés.

Em avançado estado de gestação, foi ferida por arma de fogo e capturada em combate travado entre  cangaceiros e a volante de João Bezerra em um memorável 26 de Outubro de 1936, em razão de sua captura, caiu por terra seu companheiro, o cangaceiro Gato, este, tombara na luta inglória pelo resgate de sua companheira.

Baiana de Brejo do Burgo, sobreviveu ao cangaço e segundo pesquisadores, teve sua vida abreviada no ano de 1957 vitimada por doença no colo do útero.

Ela foi Inácia Maria das Dores, a  cangaceira Inacinha ou ainda, Inacinha de Gato.

(Foto do domínio público, na ocasião de sua captura pela polícia de João Bezerra em Piranhas Alagoas no ano 1936)

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Cangaceira Dulce

 


Seus traços de moça bonita prenderam muitos olhares, retinas banhadas pelo colírio procedente da beleza daquela menina que nos seus verdes dias foi comprada pelo cangaceiro Criança e a pulso viveu as agruras do cangaço.

Dulce, uma sergipana linda, uma boneca que sobreviveu a periculosidade do movimento ao qual involuntariamente foi inserida.

Esteve em Angico no fatídico 28 de Julho de 1938, dia da chuva de balas sem revide, de lá saiu ilesa, para depois viver longevidade de dias, foi a última remanescente do cangaço lampiônico, morreu de morte natural em 10 de Dezembro de 2022 quando contava com 99 anos.

Foi talvez a mais bela das cangaceiras, foi ela Dulce de Criança, Dulce Menezes dos Santos.

(Foto de divulgação encontrada na internet)

sábado, 21 de outubro de 2023

Desenvolvimento pessoal

 


"Saiba o valor do seu tempo, da sua presença, da sua companhia, dos seus esforços. Saiba o que serve pra você, o que combina com a sua essência, o que se encaixa de maneira saudável na sua vida. Saiba o que você merece, o que você aceita, o que faz bem.

É isso que eu te desejo hoje: sabedoria para saber perfeitamente o que tem sintonia com seu propósito.

Que enxergue que mesmo no meio da sua imperfeição, existe alguém incrível, que combina com coisas incríveis, que merece sempre viver algo incrível." (Autor descomhecido)

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Quem teve um Fusca, viveu...

 


Tão minha cara... O meu esperava ter o maior número de gente em público pra exigir que eu o empurrasse... É igual ter piolho, só manifesta no meio do povo.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Divagar ao vagar...


Vagueio pelas ruas
Na sombra da lua
Dispo-me das palavras
Minha alma nua
Olho as estrelas
E sinto o vento sussurrar
Palavras tão belas
Como o teu olhar
Vagueio pelas ruas
Mesmo sem as conhecer
Mas não me sinto perdido
Vagueio pelas ruas
Até o dia amanhecer
E o meu peito sente-se preenchido
É no silêncio de cada noite
Que eu bebo a minha inspiração
É no silêncio da noite
Que bate mais depressa o meu coração
Mas os poemas que eu escrevo para ti
Não os escrevo numa folha de papel
São gestos de amor que escrevo em ti
Quando o meu corpo toca a tua pele
E num poema digno do teu olhar
Eu descrevo palavras
Mesmo sem as soletrar
Eu sou aquele louco sonhador
Que tanto te deseja
Que por ti sente tanto amor
Que teus lábios beija
Eu sou assim
A poesia vive em mim
E mais que escritor
Eu apenas desejo ser o teu amor
Ser a razão da tua felicidade
E quando tu sorris para mim
Sentir que eu sou a metade
A metade que toda a vida procuraste
E que nos meus braços encontraste
E sentires bem dentro de ti
Que o meu coração é parte de ti…

Pedro Duarte domingos Martins 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Saudade

 


"A ausência faz doer

Ela causa sofrimento

Eu olho pro firmamento

Te busco no amanhecer

Na tarde e no anoitecer

Vira a noite e é claridade

Chega novamente a tarde

Só uma dor aparece

Quem se debruça na prece

De uma tarde de saudade"

(Glosa: Ritinha Oliveira)

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Um novo amanhecer

 


Acorde...

O dia já se faz presente.

(Re)começo a vida... minuto por minuto.

Dê bom dia ao nascer do sol... agradeça a graça do amanhecer.

Se permita ser feliz.

Bom dia.

LuAndrade* - Vias - Alma Intensa

domingo, 15 de outubro de 2023

15 de Outubro, ao professor com carinho

 


"Todas as Profissões merecem respeito, mas nenhuma delas deixou de ter um professor para ensina-las" (Autor desconhecido)

Você que é professor, PARABÉNS PELO SEU DIA.

sábado, 30 de setembro de 2023

Coco da bicharada

Por Antonio Nóbrega:


"Vou contar, que eu conheço,
E você nem acredita:
Uma cidade esquisita
Onde tudo é pelo avesso.
Se quiser dou o endereço
Para visitá-la um dia,
Gente lá não tem valia,
Como bicho é tratada,
Lá homem não é nada
Só quem manda é a bicharia".

Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.
Vi mosca de camisola,
Vi cavalo num debate,
Vi uma traça alfaiate,
Guaxinim tocar viola,
Um siri jogando bola.
Vi um píca-pau ferreiro,
Um veado arruaceiro,
Vi um mosquito tossindo,
Vi uma gata parindo,
E o cachorro era o parteiro.
Vi um peixe de chocalho,
Uma perua discreta,
Jabuti que era atleta
Mais veloz que um atalho,
Calango jogar baralho,
Formiga tapando furo,
A lagartixa no muro
Dando uma de alpinista,
E um preá capitalista
Emprestar dinheiro a juro.
Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.
Vi um jumento escrevendo,
Vi preguiça trabalhando,
Vi a besta reclamando.
Eu vi um morcego lendo,
Caranguejeira tecendo,
Porca em água-de-cheiro,
Vi um cururu faceiro,
Coruja no oculista,
Vi tatu ser maquinista.
No metrô lá de pinheiros
Vi a pulga se coçando,
Avestruz tirar encosto,
Vi barata ter bom gosto,
Um bode se barbeando,
Um gambá se perfumando,
Siriema ser modelo.
Vi minhoca de cabelo,
Vi cobra de suspensório,
Macaco no escritório
Organizar desmantelo.
Avoa, meu caboré,
Peneira, meu gavião.
Palmatória quebra dedo,
Palmatória faz vergão.
Quebra tudo, quebra pedra,
Só não quebra opinião.
Vi onça vegetariana,
Piolho coçar cabeça,
Vi um burro prestar queixa,
Leão comando banana.
Vi a zebra de pijama,
Eu vi um peba engenheiro,
Guariba tocar pandeiro,
Tanajura usando tanga,
Vi o cão chupando manga,
Batendo bombo em terreiro.


Nota:  Antonio Nóbrega  02/05/1952
Natural de Recife, estudou violino clássico e canto lírico com professores renomados, chegando a tocar em orquestra. Nos anos 70 participou do Quinteto Armorial, com o qual gravou quatro discos e excursionou pelo mundo divulgando a música tradicional nordestina. A partir de 1976 começa a conceber seus próprios espetáculos, misturando dança, artes cênicas e música, participando na década de 80 de festivais de teatro. Pesquisador de dança e música brasileira, radicou-se em São Paulo em 1983 e ajudou a implantar o Departamento de Artes Corporais da Unicamp. Depois de ganhar prêmios no exterior, seu trabalho começou a ter repercussão no Brasil na década de 90 com os espetáculos "Figural", "Brincante" e "Segundas Histórias", os dois últimos estrelados por seu personagem Tonheta, uma mistura de clown e vagabundo que cativa o público. No final da década passou a se dedicar mais à pesquisa musical, e lançou em CD os shows "Na Pancada do Ganzá" (baseado na viagem etnográfico-musical de Mário de Andrade pelo Brasil) e "Madeira que Cupim Não Rói". Mantém em São Paulo a Escola e Teatro Brincante, um centro cultural que promove eventos e cursos ligados à dança, música e arte circense. 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

"As veias abertas da América Latina"

 Trecho do livro "As veias abertas da América Latina" de Eduardo Galeano.


"Em 1781, Túpac Amaru sitiou Cuzco.

Este cacique mestiço, descendente direto dos imperadores Incas, encabeçou o movimento messiânico e revolucionário de maior envergadura. A grande rebelião estourou na província de Tinta. Montado em seu cavalo branco, Túpac Amaru entrou na praça de Tugasuca e, ao som de tambores e pututus, anunciou que havia condenado à forca o corregidor real Antonio Juan de Arriaga, e dispôs a proibição da mita de Potosí. A província de Tinta estava ficando despovoada por causa do serviço obrigatório nos socavãos de prata da montanha. Poucos dias depois, Túpac Amaru expediu um novo comunicado pelo qual decretava a liberdade dos escravos. Aboliu todos os impostos e o repartimiento de mão-de-obra indígena em todas suas formas. Os indígenas se juntaram, aos milhares, às forças do " pai de todos os pobres e de todos os miseráveis e desvaliados ". À frente de seus guerrilheiros, o caudilho lançou-se sobre Cuzco. Marchava pregando seu credo: todos os que morressem sob suas ordens nesta guerra ressuscitariam para desfrutar as felicidades e riquezas de que tinham sido despojados pelos invasores. Sucederam-se vitórias e derrotas; no fim, traído e capturado por um de seus chefes, Túpac Amaru foi entregue, amarrado com correntes, aos espanhóis. Em seu calabouço, entrou o visitador Areche para exigir-lhe, em troca de promessas, os nomes dos cúmplices da rebelião. Túpac Amaru repondeu-lhe com desprezo: "Aqui não há mais cúmplice que tu e eu; tu por opressor, e eu por libertador, merecemos a morte".

Túpac Amaru foi submetido a suplícios, junto com sua esposa, seus filhos e seus principais partidários, na praça de Wacaypata, em Cuzco. Cortaram-lhe a língua. Amarraram seus braços e pernas em quatro cavalos, para esquartejá-lo, mas o corpo não se partiu. Decapitaram-no ao pé da forca. Enviaram sua cabeça para Tinta. Um de seus braços foi para Tungasuca e o outro para Carabaya. Mandaram uma perna para Santa Rosa e a outra para Livitaca. Queimaram-lhe o tronco e jogaram a cinzas no rio Watanay. Recomendou-se que fosse extinta toda sua descendência, até o quarto grau."

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Curiosa resposta de um músico a um fã desesperado

Protagoniza o astro da música latina Tommy Torres e um de seus fãs. Para quem não o conhece, Tommy é músico e compositor, produziu para Alejandro Sanz, Ricky Martin e Arjona, canções como: Quem, acompanha-me a estar só, Como Dói de Arjona e Tua lembrança de Ricky Martin. Definitivamente um grande nome da música latina.

Tommy recebeu um email (na verdade 2) de um de seus fãs, pedindo ajuda com uma garota…
Leia o email compartilhado por Tommy.

1º email

Querido Tommy, te escribo esta carta, no se si tu realmente lees estas cartas. Te escribo para pedirte algo que para mi es de vida o muerte. No pienses que exagero es la verdad. Mi nombre es Paco y te escribo de Santiago. Hay una chica que no se sale de mi mente, para eso eres tan elocuente, y a ella le encanta tus canciones... Te imaginas ya por donde voy.
Es que con ella no me salen las palabras, y quizás tu pudieras ayudarme, a decirle que yo muero aquí por Ella y de una forma un poco mas poética.
Que eso del romanticismo a mi no se me da. Dame algo tan bonito que le saque mil suspiros,
decirle que la amo y nada mas.
No se si bastara..

2º email

Senor Tommy: aquí le escribo nuevamente no me ha contestado, pensaba que era buena gente. Puede que este muy ocupado, pero yo estoy desesperado. Ayúdeme a encontrar la forma de decirle que yo muero aquí por ella, pero de una forma un poco mas poética que eso del romanticismo a mi no se me da..
Deme algo tan bonito, algo que nunca le hayan dicho. Decirle que la amo y nada mas..
No se si bastara..

Até aqui tudo normal…
Imaginem quantas cartas, tweets, emails, recebem por dia os cantoress reconhecidos... Mas Tommy decidiu dar um passo a mais, e esta foi a resposta que deu ao seu fã:


  

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Arte de Satanás

 


Conta-se, e esta história jamais encontraremos em livros religiosos, que Deus quando resolveu criar o mundo o fez de forma maravilhosa, belo e sem defeito algum, porém, Satanás que rodeava e caminhava pela terra, em sua maldade e astúcia, fez por onde estragar a obra do criador. E assim se deu na forma extra-bíblica a história da criação do mundo:


Criou Deus o mundo, terra, água e tudo que nele há e desta feita dividiu o mundo em países, todos os países eram perfeitos, uma vez que foram criados pelas mãos de Deus. O diabo, sorrateiro, ficava às escondidas e quando Deus terminava de construir um país, o diabo fazia um jeito de estragar a obra recém-criada de seu criador.

Deus criou Cuba, linda, paradisíaca, banhada pelo pacífico oceano Atlântico, mas o diabo foi lá e com sua mão colocou no destino de Cuba colonizadores espanhóis e após esses, achando pouco, colocou ainda homens estado-unidenses impondo um tal bloqueio econômico que não permitiria o sucesso de uma determinada revolução que ali aconteceria.

Deus também criou a Argentina, e era um ótimo país, mas o diabo descontente em ver essa terra venturosa, amaldiçoou uma pequena ilha próxima a Buenos Aires e que este país julgava lhe pertencer, uma ilhota chamada de Malvinas pelos argentinos a que fez a Argentina ser humilhada pela Inglaterra, e deu o diabo o nome de falklands para esta determinada ilha.

E por aí foi o desenrolar da criação do mundo."Deus dava a farinha, o diabo carregava o saco". Na África, era tudo maravilhoso, fauna indescritível, berço da humanidade, o diabo não deixou por menos, foi até aquele local, espalhou guerra e fome pelo continente.

Em Portugal e Espanha, o diabo não tendo mais nada diabólico para fazer, infiltrou na cabeça daquele povo que eles iriam ser grandes navegantes e eles, foram, o que resultou mais tarde, na desgraça de outros continentes e países que foram então pegos de surpresa pela chegada desavisada destes inesperados viajantes das águas.

O diabo não se esqueceu também do Japão, país de tradição forte, arte milenar, detentor de conhecimento tecnológico, senhores em artes marciais, mas o diabo determinou que justamente ali um outro povo muito “gente boa” de um outro país, jogaria uma bomba que cobriria pra sempre de luto a história daquela terra do sol nascente.

No oriente médio, já que era terra escolhida para a passagem terrena do filho do homem, o diabo colocou tanto desentendimento, tanta guerra que estas se perduram até os nossos dias.

E desta feita, todos os países foram molestados pela mão do excluído Satanás. Porém, o Brasil parecia intacto, sem sofrer dano algum... Um dos anjos caídos, talvez o que tivesse a função de encarregado dos ajudantes de produção no inferno, indagou ao arrenegado Satanás:.

“Senhor rei das profundezas, eis que estragamos e amaldiçoamos todos os países criados pelas mãos de Deus, de uma forma ou de outra colocamos nossa maleficência em cada um deles, e por que tu óh excomungado mestre ainda não tocastes no Brasil? veja, é um país gigantesco, repleto de belezas naturais, clima bom, terra fértil, o que acontece que poupamos esta Terra de Santa Cruz”?

E Satanás sadicamente respondeu:

-“Estás redondamente enganado meu desgraçado súdito, para todos os países eu coloquei aflições, eu não poupei nenhum se quer, para o Brasil, para esta terra linda e hospitaleira eu pensei sadicamente, aguarde e verás a conduta dos políticos que eu criei para governar e sacanear o povo e este país tão nobre”.

Esta foi então a história da criação do mundo da forma que poucas vezes ouvimos contar, a arte de satanás no mundo. 

Qualquer semelhança com a realidade, talvez seja a prova de que esta história aqui contada não seja uma mentira absoluta.

Mateus Brandão de Souza

terça-feira, 26 de setembro de 2023

O guardador de rebanhos - Fernando Pessoa



(Alberto Caeiro)

[213]
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas…
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
«Se é que ele as criou, do que duvido» —
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Querida feminista branca (DE NOVO), não seja tão barraqueira

 


Por Thiane Neves Barros


É de conhecimento do senso comum que mulher negra é considerada como a mulher barraqueira. Aquela que fala alto, que não leva desaforo pra casa, mal educada, lavadeira, tacacazeira, que põe a mão nas cadeiras e balança a cabeça de forma cadenciada com o pescoço. Adjetivos ditos sempre em tom pejorativo. Portanto, o título de meu texto é uma ironia. Pois as mulheres brancas quase nunca são barraqueiras, apenas são as donas da voz, são as madames, as donas da gentileza e da educação, aquelas que falam baixo, aquelas com voz de veludo, as de fino trato e que nunca tem a intenção de ofender. Mas a ironia, lógico, é direcionada. Ironizo aqui as feministas brancas que insistem em controlar e supervisionar os passos e as falas de mulheres negras.

Até bem pouco tempo, não tínhamos mulheres negras como referência intelectual no feminismo. Algumas combatentes mais antigas acabavam tendo atuações isoladas e solitárias. Em um brevíssimo resumo dessa história, nenhuma novidade: quando as mulheres brancas começaram a se organizar e combater a estrutura do patriarcado, sabemos que elas tinham condições de se reunirem em suas assembleias porque em casa tinham quem cuidasse da sua vida doméstica: outra mulher. A mãe? As irmãs? As tias? Lógico que não. As mulheres que facilitavam as lutas feministas brancas eram as mulheres negras, as criadas, mas isso a gente já sabe também.

Eu imagino o quanto Oyá e Ewá se indignavam com nossa não possibilidade de protagonismo. Mas o dia chegou. Mulheres negras começaram a se levantar e aos poucos se organizaram. E eis que de negras da família, passamos a ser as negras insubordinadas.

Mais anos passaram, ao longo desse tempo algumas feministas brancas perceberam seus equívocos e somaram, aliaram-se, souberam compreender seus espaços dentro da luta das mulheres negras. Outras deixaram como herança uma profunda e estúpida impossibilidade reflexiva quanto ao recorte racial,  territorial e identitário na luta pela equidade feminina em um pensamento estruturado no racismo e no patriarcado. E é com as herdeiras desta segunda categoria de feministas brancas a quem direciono este meu texto.

Agora é contigo, feminista branca-supervisora-fiscalizadora. Alguma vez nesta tua estrada tortuosa de não reflexão, de não leitura de livros e de pessoas, tu tiraste os olhos do teu umbigo e olhaste ao redor do mundo? Alguma vez já te puseste a pensar sobre representatividade x protagonismo x visibilidade? Alguma vez já te puseste a pensar que mulheres como eu – negra, amazônida, periférica – passamos décadas sem lermos uma só linha escrita por mulheres iguais a nós?

Tu sabes quantos anos eu tinha quando vi uma mulher negra amazônida, em situação de liderança na televisão, a primeira vez? Exatos 20 anos de idade. Hoje estou com 38 e nunca esqueci aquela imagem. Tu sabes a importância, pra mim, de ter visto aquela mulher na televisão sem estar subjugada? Então querida, tuas parças te fizeram midiática, e as minhas também me fazem querer ser midiática, sim. Vamos ser estrelas, sim. Estrelas de nós mesmas. E vamos ocupar espaços que nos são negados, sim.

Quando resolvi me arriscar no maravilhoso mundo das interwebs feminísticas, minha intenção era contribuir com o que muitas negras amazônidas já fazem há anos: colocar a mulher nortista, amazônida, paraense, belemense, em primeiro plano. Porque sim, nós padecemos do mal da invisibilidade por todos os mesmos motivos que uma mulher branca – por ser mulher, que uma mulher negra – por sermos negras, que uma mulher indígena – por ser “selvagem”, padecemos ainda mais por habitarmos um território marginalizado e onde mais impera o conceito da mestiçagem brasileira e latino-americana. Poucas pessoas sequer sabem quantos estados compõem a Amazônia, imagina saberem o quanto aqui precisamos de vozes altas, de gritos, de embates físicos. De negras midiáticas. De negras insubordinadas.

Nós não rachamos o movimento de mulheres, nós não rachamos o feminismo. Suas ancestrais apenas não nos incluíram entre as mulheres que mereciam equidade. Ficamos chorando? Sim, choramos muito, é verdade, porque nossas ancestrais levaram muita peia de feministas brancas, mas nós reagimos e agora estamos aqui: escrevendo, escrevendo, escrevendo, escrevendo. É por meio da atuação de mulheres negras na internet que aqui na Amazônia a gente também consegue ter um banquinho nessa rede. 

Feminismo é política, sim. E eu li Simone de Beauvoir e Judith Butler. Mas eu te pergunto: tu leste que feminista negra, querida? Já ouviste falar em Beatriz Nascimento? Em Zélia Amador de Deus? Tu conheces alguma mulher quilombola na luta armada por direitos ao seu pedaço de chão? Quem tu és na fila do pão do feminismo negro pra se encher de autoridade e difamar uma feminista negra, querida? Que sabes sobre política pública que envolva mulheres negras neste racismo tão competente? Já foste na fila do SUS pra ver quantas mulheres negras estão lá sendo deixadas por últimas na fila, porque alguém inventou que são mais resistentes à dor? Então, quem és tu pra fiscalizar nossas atuações e nossas histórias? Uma de nós errou, cometeu um equívoco, pisou na bola? Isso te faz querer ser heroína e salvar todas as feministas de uma feminista negra? Apenas não, querida. Cale-se e aguarde alguém com legitimidade para fazê-lo.

Tipo torto de afeto tu dizes pras tuas iguais, porque com todas as nossas dificuldades – inclusive de se livrar de feminista branca-supervisora-fiscalizadora em nossas lutas -, o que paira sobre a gente é ubuntu mesmo, querida. 

Sobre onde estamos quando as cordas estão arrebentando: Quantas vezes tu saíste da tua casa pra defender e socorrer uma mulher em uma delegacia, querida feminista branca-supervisora-fiscalizadora? Quantas vezes tu abrigaste, na tua casa, mulheres ameaçadas pelos maridos, namorados, noivos? Quantas vezes a tua cabeça esteve na mira de uma bala por se meter em briga de marido e mulher? Quantas vezes denunciaste homem da tua família por violência doméstica? E quantas vezes escondeste jovem da tua família porque a polícia achou que tava roubando? Pois é, eu vivi todas estas situações dentro da minha casa. Uma casa de duas mulheres negras conhecidamente barraqueiras por se indisporem com qualquer pessoa que pise em outra.

Tu sabes quantas vezes eu consegui levantar da cama depois de ler um texto de outra mulher negra na internet? Tu sabes quantos sorrisos eu dei depois de ler um texto de outra mulher negra na internet? Ora, ora, ora querida feminista branca-supervisora-fiscalizadora, tu entendes bem de feminismo-merchan, mas para entender de equidade estás a necessitar de leitura, vivência e menos arrogância.

E tua covardia é tamanha,  querida feminista branca-supervisora-fiscalizadora, que tu somes assim que tuas investidas contra a mulher negra são mal sucedidas. Porque quem te deixou a herança do racismo não previu que a gente ia lutar pra quebrar todas as formas de troncos e chibatadas.

No mais, estamos preocupadas mesmo é em dar orgulho às que nos antecederam, seja na Bahia, em São Paulo ou aqui em Belém. Apenas a elas devemos as contas do que pensamos, de como agimos e o que faremos daqui a outros tempos.


Nós não somos obrigadas a seguir cartilha de feminista branca, nunca fomos, nunca seremos.