O Curioso Enredo Escolhido Por Cristovam Buarque para seu
Ocaso.
Por Robert Max Steffens
Por Jornal GGN
Nota do GGN - o GGN evita ataques pessoais. Abre uma exceção devido ao caráter revelador do artigo, que mostra as práticas correntes adotadas pelos chamados homens de bem, especializados em catilinárias moralistas.
Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar
alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo (Abraham
Lincoln).
Algumas pessoas públicas reconhecidas por serem absolutamente
éticas e impolutas podem ser perseguidas, num determinado momento, por um
destino terrivelmente recheado de circunstâncias e coincidências que a vida
lhes reserva e que acabam levando sua reputação construída com muito esmero e
cuidado, junto a seus familiares, amigos, colegas e sociedade em geral, a um
ponto sem volta.
Outras pessoas públicas reconhecidas por serem absolutamente
éticas e impolutas podem, na realidade, enganar a todos por algum tempo, alguns
por todo o tempo, mas não conseguem enganar a todos todo o tempo. Podem
esconder seu lado sombrio que quando vem à tona também podem levá-las a um
ponto sem volta.
O que vem acontecendo, atualmente, com o Senador Cristovam
Buarque pode ser um desses casos, exemplares e paradigmáticos.
OUTSIDERS
Curiosamente, nos idos de 1994, quando eleito governador,
foi descoberto que Cristovam recebeu doações feitas pela Odebrecht e pela Via
Engenharia para sua campanha no montante de 400 mil reais. Esse fato amplamente
divulgado na época pelos meios de comunicação e, diante às evidências, é
admitido e travestido como doação legal, para posteriormente ser devolvido às
empresas doadoras, mediante a contribuição voluntária da militância do Partido
dos Trabalhadores, ao qual Cristovam ainda era filiado.
Seu ex-coordenador da campanha presidencial, em 2006, quando
Cristovam Buarque já era filiado ao PDT, veio a público revelar que foram
recebidos recursos não contabilizados de algumas das empreiteiras arroladas na
operação lava-jato. Também revelou que, na mesma ocasião, em troca de apoio a
Alckmin no segundo no segundo turno contra Lula, Cristovam Buarque recebeu
recursos não contabilizados por intermédio do falecido senador pernambucano
Sérgio Guerra e através de um ex-banqueiro, por recomendação da campanha de Geraldo
Alckmin.
Estas declarações corroboram o que foi dito, à época, por
Ezequiel Nascimento, então presidente regional do PDT no Distrito Federal.
Ezequiel Nascimento declarou que a campanha de Cristovam teria recebido R$ 950
mil (R$ 250 mil oficialmente e outros R$ 700 mil no “caixa 2”). Esses fatos
foram amplamente divulgados pela imprensa ao final de 2010, quando Ezequiel
colocou-se à disposição do Conselho de Ética do Senado para investigar
Cristovam.
Já em 2010, entre outras, aparecem na campanha de Cristovam
ao Senado, as doações de Mendes Junior no valor de 50 mil reais e,
curiosamente, Eike Batista com 100 mil reais. Assim como do Instituto Sangari,
de seu amigo pessoal, Jorge Werthein, que contribuiu com ao menos 200 mil reais
oficialmente.
Neste ano, 2016, Cristovam foi objeto de carta aberta de
milhares de ex-colegas da Universidade de Brasília (UNB), da qual foi reitor,
que, dentre outras coisas proclamam: “É por isso que, nesta grave conjuntura do
país, em que o senador Cristovam prenuncia desconsiderar não só a sua história
pessoal, mas as lutas democráticas sem as quais não teria chegado aonde chegou,
tomamos a difícil decisão de tornar pública esta carta aberta. Esta carta é
para lembrá-lo, senador Cristovam, que o que está em jogo no Brasil agora não é
apenas um Governo do qual todos deste país temos o direito de divergir e a ele
fazer a mais aguerrida oposição. O que está em jogo no Brasil neste momento é a
soberania do voto, direito inalienável de cada cidadão e cidadã e que de nós
não pode ser usurpado por meras conveniências pessoais ou partidárias, sob o
falacioso argumento de constitucionalidade.”
Também em 2016 o Senador Cristovam Buarque foi escrachado em
uma livraria de um shopping center, curiosamente localizado no Lago Norte, área
nobre de Brasília, um dos espaços brasilienses onde os moradores de classe alta ainda se fazem presente e que
também são os principais clientes e consumidores desse estabelecimento. Ou
seja, mesmo entre os de cima, Cristovam Buarque já não é unanimidade.
INSIDERS
Coincidentemente, Marcelo Aguiar, pupilo do Senador
Cristovam até pouco tempo, assume a Secretaria Extraordinária de Ensino
Integral, por indicação do Senador Cristovam, durante o governo José Roberto
Arruda (ex-DEM). O Instituto Sangari, do amigo pessoal de Cristovam, Jorge
Werthein, que contribuiu para sua campanha ao Senado em 2010, com ao menos 200
mil reais oficialmente, foi contratado pelo governo do Distrito Federal por
quase R$ 300 milhões, sem licitação, e suspeito de participar do esquema de
arrecadação paralela do então governador Arruda, quando a secretaria de
Educação do DF terceirizou, na prática, o ensino científico das escolas
públicas para a Sangari do Brasil (vinculada ao Instituto Sangari), citada no
inquérito da Operação Caixa de Pandora.
Em auditoria a Segunda Divisão de Auditoria da Secretaria de
Auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal afirma que em razão das
evidências de inexecução contratual pela empresa SANGARI DO BRASIL LTDA.,
defende-se a proposta de determinar à Secretaria de Educação a instauração de
processo administrativo, com vistas à aplicação das sanções previstas no art.
87 da Lei de Licitações. Também se apresenta a sugestão de alertar à Secretaria
de Educação que a execução dos contratos no âmbito dessa Secretaria deve ser
precedida da implementação de estrutura de acompanhamento e controle,
compatível com as características e valor do objeto, de modo a garantir a
regular liquidação e pagamento das despesas.
O mesmo Tribunal afirma que a omissão dos gestores, dentre
eles Marcelo Aguiar, que deixaram de adotar medidas corretivas para sanar as
irregularidades na execução do Programa Ciência em Foco e para promover as
necessárias alterações contratuais. O fato de o TCDF, por meio da Decisão n.º
4.571/09, ter determinado expressamente a necessidade de reavaliação do
Programa em termos quantitativos e qualitativos, além de caracterizar o
descumprimento da Decisão Plenária, agrava a conduta negligente dos gestores,
aplicando-se, no caso, o art. 60 da Lei Orgânica do TCDF. O UAG, na condição de
ordenador de despesas, e o Secretário, em razão da relevância do Programa, tinham
ciência da situação e permitiram a continuidade do Programa, mesmo diante das
irregularidades apontados em diversos relatórios.
Também são dignas de nota as tarefas executadas por
servidora do Senado Federal, que estaria a serviço do Gabinete do Senador
Cristovam Buarque. Para aqueles que não sabem, o Senador Cristovam dispõe de um
local para organização e guarda do acervo de sua brilhante história. Para os
“iniciados” este local, é conhecido como “salinha”. Mais uma vez, talvez por
coincidência ou até fora do horário de expediente, a referida trabalhadora é
quem organiza e guarda os objetos históricos, quando não está auxiliando a
senhora esposa do Senador Cristovam em sua residência – que é quem prende e
manda soltar, tanto em casa quanto no gabinete - em outras tarefas, as quais
não necessariamente poderiam ser classificadas como trabalhos legislativos.
Vale destacar que nas eleições presidenciais de 2016, a referida senhora,
enquanto o Senador estava em viagem, adentrou ao gabinete e, em alto e bom som,
exigiu que os servidores seguissem o voto do Senador em Aécio. Poderia ser
classificado como assédio moral eleitoral?
Outra questão, talvez menos relevante, pois possivelmente
trata-se de boato pelos quase inexistentes sinais de veracidade, diz respeito a
uma possível e não declarada coleção de obras de arte, no qual não devo e não
quero crer.
Bem, estas são algumas dúvidas que acompanham a carreira do
Senador Cristovam Buarque. Não nos é possível considerá-las como coincidência
ou farsa.
Ele e somente ele poderá esclarecer estas e outras dúvidas
que possivelmente possam surgir.
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