"Faz-se mais do que necessária a organização estudantil
e a máxima atenção voltada para a juventude, que pelo descaso com a educação,
sofrerá junto a classe trabalhadora o impacto do que podemos chamar de
desastre".
A declaração na qual Onyx Lorenzoni afirma que o Ministério
do Trabalho será extinto e “dividido” em três partes não nos surpreende. Após o
ocorrido, eleitores arrependidos aparecem e se juntam ao grande número de
brasileiros que lutaram até o último minuto para convencer o país do que se
tratavam as reais intenções de Jair Bolsonaro. Apesar de a conjuntura nos
indicar uma grande oposição necessária a se formar, nossa visão continua turva.
Creio que analisaremos mais precisamente com o passar dos anos, porém, os dias
nos exigem cada vez mais atenção e paciência.
No ano em que completamos 30 anos de constituição, nos
deparamos com a medida que a fere gravemente, a mesma que não foi tomada nem
nos governos ditatoriais. Refletir que a partir dessa divisão contaremos com o
Ministério da Justiça e Segurança, Economia e Cidadania nas mãos de nomes como
Sergio Moro, nos faz ter certeza de que as injustiças e desigualdades serão
ignoradas nos próximos 4 anos. O combate ao trabalho escravo e o infantil – os
quais também resultam em evasão escolar devido a necessidade de sobrevivência
-, pode ser negligenciado, e causará um grande impacto à juventude brasileira.
O cenário atual está diretamente atrelado ao sucateamento
que sofre a educação pública, em especial, as escolas técnicas, que em muitas
ocasiões formam estudantes que não obtiveram acesso aos materiais e máquinas
necessárias para sua formação, submetendo os jovens formados ao emprego
informal. O debate que relaciona de forma direta a formação técnica com o desenvolvimento
do Brasil, ainda não se faz presente na maioria das salas de aula, o que
resulta em desconheciemento de direitos que os estudantes detêm e da
importância da ciência e tecnologia em seu cotidiano.
Dessa forma, ao saírem de seus Institutos Federais, escolas
estaduais e escolas técnicas, os estudantes enfrentam empresas que não cumprem
normas de segurança no trabalho, por exemplo, além dos péssimos salários diante
das horas exacerbadas de serviço. Por essa e tantas outras razões, o Ministério
do Trabalho se faz indispensável na vida do brasileiro. A promessa descumprida
de que seriam 15 ministérios, 7 a menos do que o declarado atualmente,
evidencia as razões e interesses que permeiam o fim de tal ministério.
É importante salientar que a parcela da juventude que mais é
afetada com o desmonte do Ministério do Trabalho é a juventude negra e pobre.
Jovens que por muitas ocasiões sofrem com a falta de oportunidades e o acesso à
educação pública de qualidade. A mesma realidade se faz presente ao se depararem
com a crueldade da seletividade do mercado de trabalho, que coloca à margem
mentes pensantes que poderiam ser construtoras de um futuro próspero, apenas
pela condição socio-histórica na qual o negro é submetido na sociedade.
Sendo assim, faz-se mais do que necessária a organização
estudantil e a máxima atenção voltada para a juventude, que pelo descaso com a
educação, sofrerá junto a classe trabalhadora o impacto do que podemos chamar
de desastre. Conscientizar o povo brasileiro, unir forças de oposição e barrar
os retrocessos devem ser nossas metas principais para os próximos anos
*Rozana Barroso é diretora de escolas técnicas da União
Brasileira de Estudantes Secundaristas - UBES.
Fonte: Portal da UJS.
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