Jessica Monteiro *
Não sou petista, votei no Lula, na Dilma e fui às ruas na
sexta-feira. Não foi a primeira vez que fui a uma manifestação, e lutarei para
que não seja a última, porque na democracia podemos fazer manifestações.
Estive na Avenida Paulista defendendo a Petrobras de mais
uma tentativa de privatização, defendendo que o Brasil continue a investigar e
punir corruptos (ainda espero a apuração do "cartel" do Metrô de São
Paulo), defendendo uma Reforma Política que acabe com o financiamento
empresarial de campanha (uma das maiores causas de corrupção).
Fui à minha primeira manifestação ainda menina, levada pelos
nossos pais. Lembro vagamente, passei todo o tempo nos ombros das pessoas e só
via um mar de gente. Hoje sei que eles estavam lá para que eu e vocês pudéssemos
escolher livremente quem queremos na Presidência da República.
Foi o que fizemos no ano passado. Discutimos muitas vezes
durante a campanha eleitoral, mas sempre pudemos discutir política. Porque
vivemos numa democracia.
Cresci indo aos sindicatos e à Câmara Municipal com nossa
mãe. Naturalmente comecei a minha militância cedo, durante o ginásio. A
injustiça sempre me fez tremer e me despertar a vontade de enfrentá-la.
Participei de greves, organizei plebiscitos, abaixos assinados. Porque vivemos
numa democracia.
Enfim, numa ditadura sua irmã provavelmente seria presa,
torturada e estuprada pelos militares "salvadores do Brasil". Talvez
fosse assassinada e desaparecessem com o meu cadáver e vocês nem poderiam
chorar sobre o meu caixão.
Foi o que fizeram com milhares de brasileiras e brasileiros
durante os "anos dourados dos militares".
Quando um de vocês defende a possibilidade de um golpe na
democracia. Você não está golpeando apenas a presidenta (presidenta sim, porque
ela é mulher, como eu), você está golpeando a minha liberdade e a de tantas
pessoas que como eu treme e luta diante das injustiças.
Espero que vocês leiam esta carta. Espero que vocês
reflitam. Espero que vocês honrem a coisa mais importante porque nossa mãe
lutou. Espero que vocês não entreguem sua própria irmã ao inimigo.
* Comunista, feminista, colorada, e com uma imensa curiosidade sobre o mundo.
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