Não posso dizer que fiquei realmente surpreso ao vasculhar
em vão os principais jornais do país nesta quarta-feira (2/8) em busca de uma
mísera nota sobre o advogado filiado ao PSDB que, no último dia 25 de agosto,
divulgou vídeo na internet prometendo assassinar Dilma Rousseff e que, na última
terça-feira (1º de setembro), refez a ameaça.
Nenhum dos três maiores periódicos do país – Folha de S.
Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo – divulgou um único comentário, nem para
dar a notícia de que o PSDB, tardiamente, decidiu expulsar o advogado de
Brasília Matheus Sathler, ao qual o partido deu legenda para se candidatar a
deputado federal no ano passado.
Tampouco se viu alguma coisa na televisão – sobretudo no
Jornal Nacional. E notícia nova havia, porque o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, determinou abertura de inquérito na Polícia Federal para
apurar o caso.
O problema é que, noticiando com destaque as barbaridades
que esse sujeito cometeu haveria que contar ao público, também, que ele é
filiado ao PSDB e que não é a primeira vez que ele promove alguma loucura – ano
passado, propôs a criação de um “kit macho” para ser distribuído em escolas
públicas com a finalidade de “ensinar” meninos a “gostarem” de meninas e
vice-versa.
Mas não há razão para ninguém se surpreender. Se a mídia
corporativa praticamente não deu destaque ao atentado a bomba ocorrido em julho
contra o Instituto Lula, por que noticiaria uma simples ameaça à presidente da
República?
Segundo o tal Sathler, ele é amiguinho de Reinaldo Azevedo,
da Veja e da Folha de S. Paulo. Não sei se é verdade, mas o fato é que o
jornalista mais antipetista do país vociferou em seu blog contra um simples
militante do PT – e não um ex-candidato a deputado federal pelo partido – que
publicou em vídeo uma resposta inadequada ao tal Sathler por ele ter ameaçado a
presidente da República.
O mais engraçado é que Azevedo não entendeu o vídeo e,
assim, fez um escarcéu dizendo que aquele militante resumia “os petistas”, como
se todos os tucanos pudessem ser resumidos pelo advogado demente que ameaçou a
presidente da República.
Note, leitor, que Azevedo critica o militante petista por
ter dito o que faria com Sathler se ele tentasse cumprir a promessa de
“arrancar a cabeça” de Dilma – o que, por certo, é reprovável, mas é reação a
uma ameaça de violência –, mas não critica o amiguinho que ameaçou, de forma
ainda mais virulenta, a primeira mandatária do país.
Alguém acredita que se um filiado ao PT ao qual o partido
tivesse dado legenda para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados tivesse
ameaçado arrancar a cabeça de Aécio Neves ou de FHC, a mídia não divulgaria em
manchete de primeira página, em todos os telejornais e com dezenas de textos
opinativos indignados vinculando o PT inteiro a quem ameaçou?
É óbvio que o tal Sathler não resume todo o PSDB e todos os
tucanos – que atua com violência retórica, mas não física – assim como o
militante petista do vídeo acima não resume todo o PT e todos os petistas, mas
na cabecinha de Azevedo um militante tucano ameaçar a presidente ou jogar
bombas é besteirinha, enquanto que um militante petista reagir
(inadequadamente) a uma ameaça de violência é “prova” de que todos os petistas
agem assim.
Notem que o post de Azevedo não diz uma palavra sobre a
ameaça a Dilma. Como esse sujeito virou o Golden Boy da Veja, da Folha, da CBN
e sabe lá Deus de onde mais, a gente entende por que a mídia fez de conta que
não viu que o PSDB dá guarida às loucuras de Sathler até hoje, ou até o momento
que vier a expulsá-lo – se é que o fará.
E o pior é que o blogueiro da Veja ainda mente. Diz que
“defensor de Dilma ameaça manifestantes antigovernistas”, o que é mentira – ele
ameaça reagir a Sathler e a ninguém mais. Será que Azevedo não assistiu ao
vídeo que publicou?
Nenhum jornal ou telejornal noticiar esse caso e muito menos
que o ministro da Justiça mandou abrir inquérito na PF deveria ser espantoso,
se não conhecêssemos a imprensa que temos no país. Para proteger a imagem do
PSDB, os veículos se autocensuraram. A mídia corporativa é cúmplice de Sathler
e outros maníacos como ele.
Por fim, o vídeo do manifestante “petista” foi publicado no
canal de Veja no YouTube. Ninguém sabe o nome do indivíduo e nem por que ele
mesmo não publicou o vídeo em seu canal no You Tube. Terá mandado o arquivo
para Veja publicar? Por que o faria? Ou será que Azevedo pegou alguém para
atuar e gravou o vídeo?
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