Obviamente que em 1989, estávamos longe do advento da urna eletrônica, votávamos em cédulas de papel e as daquele ano, pasmem, traziam 22 nomes de candidatos que pretendiam ocupar a cadeira de José Sarney, a faixa de presidente da republica teria caído no colo do político maranhense quatro anos antes, após a morte de seu titular, o mineiro Tancredo Neves, que fora eleito indiretamente pelo congresso nacional. Tancredo por sua vez, adoeceria e morreria sem conseguir ser empossado.
Assim, em meio à euforia que uma campanha proporciona, em 1989, o horário eleitoral gratuito na televisão fez daquelas eleições uma atração à parte. Em frente à tv, presenciávamos as tradicionais trocas de farpas entre os candidatos e nos atentávamos para nomes no mínimo estranhos, tais como, Marronzinho, Zamir, e Antonio Pedreira.
Raposas velhas como Aureliano Chaves, Brizola, Maluf e Mario Covas também eram candidatos.
Aparecia também, um certo Enéas Carneiro, este tinha apenas 15 segundos para falar onde esbravejava durante 15 segundos, tempo suficiente para tornar-se famoso com o seu inesquecível “meu nome é Enéas”. A fama de Enéas faria dele 12 anos mais tarde, o deputado federal mais votado na história do país, eleito por São Paulo em 2002 com um milhão e meio de votos.
Além de Enéas havia em 1989, Celso Brant, Armando Correa, Manoel Horta, Paulo Gontijo e também uma mulher, a desconhecida Lívia Maria. Ulisses Guimarães, Afif Domingos e Ronaldo Caiado também disputaram o cargo para presidente, Afonso Camargo, político paranaense e petebista, tentou emplacar sua campanha usando como garoto propaganda o humorista Tião Macalé.
Fernando Gabeira também buscou a ascensão ao planalto defendendo a bandeira do partido verde. Pouco depois, em meio a toda esta balburdia, apareceu Silvio Santos, fez até propaganda com a musiqueta “Silvio Santos vem aí”, porém, por problemas de registro ou sabe-se lá o que, teve sua candidatura impugnada, desgostoso, o homem do baú abandonou a corrida no meio do caminho.
Com todas essas peculiaridades, as eleições de 1989 tornaram se memoráveis, Lula ganhava popularidade com seu hino Lula lá e Collor de Mello jurava construir um Brasil novo numa caça implacável aos marajás.
No mais, as eleições foram disputadas em dois turnos, no segundo round todos os outros candidatos saíram de sena, restaram Collor e Lula que se digladiavam na disputa por votos.
Por fim, com o apoio da grande mídia (Rede Globo) e os poderosos que temiam a ascensão de Lula, Fernando Afonso Collor de Mello tornou-se o vencedor da disputa na primeira eleição direta pós-ditadura militar.
Collor somou 35.089.998 votos contra 31.076.364 de Lula, uma diferença de 4.013.634 votos do primeiro para o segundo colocado. “O caçador de marajás tornou-se dia 17 de dezembro de 1989, o presidente mais jovem da história do país (40 anos)”.
Fechou-se com isso as cortinas dos anos oitenta, a expectativa era de que Collor entrasse para a história como um governo bom, e entrou, porém, de forma negativa. Denuncias de corrupção, escândalos, desacertos, perseguições obrigaram Collor renunciar seu mandato, mas, isso é uma outra história mesclada de prós e contras.
Assim floresceu a semente plantada nas diretas já de 1984. O sonho incontido da população em eleger seu chefe de estado. Estavam os brasileiros, crentes de que dali por diante, uma página de dignidade seria escrita em nossa história, onde as esperanças de uma vida melhor se concretizariam.
21 anos depois, estamos ainda em busca do mesmo sonho...
“Brasileiros de todo canto do país, uni-vos”.
Mateus Brandão de Souza, graduado em História pela FAFIPA.
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