Fotógrafo recria divindades hindus com a pele morena escura
que deveriam ter.
A DEUSA LAKSHMI. FOTO: NARESH NIL/REPRODUÇÃO |
Imagens desafiam racismo no país, onde o negócio do
clareamento movimenta 400 milhões de dólares anuais. Que dizer do Jesus
"loiro"?
Na Índia, onde a maioria do povo tem a pele morena escura, a
obsessão por embranquecer se tornou uma indústria milionária. Os 89 anos de
colonização britânica trouxeram à sociedade indiana a concepção de que ser
branco é sinônimo de poder e status (nada tão diferente do que se vê por aqui,
quando um vice-presidente da República de origem indígena louva o
“branqueamento da raça”…), e as mulheres do país gastam 400 milhões de dólares
anualmente em cosméticos para branquear a pele. Em 2o12, uma marca de creme
clareador foi acusada de racismo ao propagandear um produto para clarear… a
vagina.
Nos últimos anos, várias campanhas, como a Dark is Beautiful
(Escuro é bonito) têm aparecido no país com a intenção de convencer os indianos
de que a tez escura é bonita e proteger sobretudo as mulheres dos produtos
clareadores, que podem causar infecções na pele. Em julho do ano passado, a
adolescente Aranya Johar viralizou com seu “Guia da Beleza da Pele Morena”, um
vídeo onde declama um poema que diz: “Esqueça Branca de Neve/Diga alô para o
chocolate marrom/Eu vou escrever meu próprio conto de fadas”.
O fotógrafo Naresh Nil resolveu ir além e transformou as
divindades hindus em figuras de pele morena escura, em contraponto às imagens
mundialmente conhecidas dos deuses e deusas com pele clara, azulada ou
acinzentada. “A divindade tem muitas formas e as cores têm sido usadas de
várias maneiras para representar o divino. Na cultura comum, ainda achamos que
a divindade está representada através da pele ‘branca’ ou ‘clara’, desde a
pequena foto de Deus na loja do bairro, até a grande foto emoldurada pendurada
dentro de uma casa”, escreveu Nil em seu perfil no facebook. “Ao retratar os
deuses que reverenciamos como pele escura, esta iniciativa visa celebrar uma
visão diferente de sua divindade, serenidade e toda a beleza penetrante, indo
além das percepções. Escuro não é apenas bonito, mas divino.”
A série de fotos se chama, justamente, “Escuro é Divino”.
Confira as imagens tradicionais e algumas das reinterpretações feitas por Nil.
Em 2001, o antropólogo britânico Richard Neave criou um
modelo sobre o que seria um homem da Galileia da época de Jesus Cristo,
inspirado em como se pareciam os habitantes da região na época. E chegou ao
seguinte resultado:
O HOMEM PALESTINO NA ÉPOCA DE JESUS |
No entanto, a maior parte dos cristãos continua a adorar um
Jesus loiro, de olhos azuis. Quanto de racismo, de complexo de colonizado e de
auto-depreciação há nessa visão?
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