A novela “O Salvador da Pátria” comemora 30 anos. Ela ajudou
a criar o clima em que foi eleito o “mito” Fernando Collor de Mello.
Sassá Mutema – quem se lembra dele? Na quarta-feira
completam-se 30 anos que foi ao ar, pela primeira vez, pela Rede Globo, a
novela da qual foi protagonista – “O Salvador da Pátria”, que estreou em 9 de janeiro
de 1989 e prendeu a atenção dos brasileiros até 11 de agosto daquele ano, oito
meses depois.
Sassá Mutema foi o “mito” em uma trama que – como hoje –
envolvia políticos corruptos, jornalistas demagógicos e sem escrúpulos,
adultério, narco-tráfico e crime organizado. Trama da qual emerge o bóia-fria
Sassá Mutema como uma espécie de reserva moral, que se torna líder político e
encarna a salvação do país.
Novela que contribuiu, naquele ano que foi uma encruzilhada
na história brasileira, para criar o clima de “combate” à corrupção no qual foi
eleito o segundo mito que ocupou a presidência da República – Fernando Collor
de Mello, que se apresentava como um out-sider da política, capaz de derrotar a
hiperinflação (superior a 1200% em 1989) com um só tiro!
O primeiro mito a receber dos brasileiros a presidência da
República havia sido o efêmero Jânio Quadros, em 1961, foi eleito defendendo um
programa de austeridade e luta contra a corrupção semelhante ao de Collor e,
hoje, ao do terceiro presidente-mito, Jair Bolsonaro.
O que é um mito? É uma história de caráter simbólico, à
margem da realidade, que supõe um herói com poderes suprahumanos capaz de
conduzir os destinos da humanidade à margem da ação prática dos demais seres
humanos. Que age sozinho, guiado apenas por uma pretensa sabedoria superior e
por seus poderes. Que, por ação mágica, pode transformar a realidade.
Isso pode ser muito bonito em lendas ou histórias que
relatem ficcionalmente acontecimentos que teriam ocorrido no passado.
Na vida real “mitos” não existem. O que existe é a realidade
concreta da vida humana, com seus interesses e a imposição de atender a
necessidades fundamentais de comer, beber, abrigar-se, cuidar dos filhos, da
saúde, educação, e tudo aquilo que a vida impõe. E obter, pelo trabalho – pela
ação prática - os recursos para realizar estas tarefas.
Exige-se do governo , assim, não ações mágicas, míticas, mas
programas concretos que garantam o desenvolvimento, empregos e renda para
todos. E isso se faz com trabalho, dedicação ao bem comum, ações voltadas para
as necessidades sociais, e não apenas para atender à ganância dos poderosos, do
capital.
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