No programa Entre Vistas, da TVT, Larissa Bombardi ressaltou
os perigos da aplicação intensiva de venenos nas lavouras.
"Mapeei os casos de malformação fetal em SP e é muito
assustador. Consegue-se ver no mapa o uso intensivo de agrotóxicos”, diz
pesquisadora / Herr stahlhoefer via Wikimedia Commons
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Via – Brasil de Fato
Foi exibida nesta quinta-feira (7) na Rede TVT, mais uma
edição do programa “Entre Vistas”. Com apresentação de Juca Kfouri. A
entrevistada da noite foi Larissa Bombardi. Ela é doutora em geografia pela USP
e especialista em agrotóxicos. João Paulo Rodrigues, da Coordenação do MST, e
Yamila Goldfarb, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida,
fizeram comentários.
Bombardi é autora do Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos
no Brasil e Conexões com a União Europeia”, que detalha a extensão do uso e os
problemas causados pelos produtos que a bancada ruralista chama de “defensivos
agrícolas” dentro do país. Ela iniciou sua intervenção citando exemplos de
alimentos importantes na dieta da população que estão altamente contaminados
pelos agrotóxicos.
“O Brasil é extremamente permissivo no que diz respeito aos
resíduos de agrotóxicos que nós permitimos nos alimentos e na água potável. A
gente permite um resíduo do inseticida malationa no feijão quatrocentas vezes
maior do que o permitido na União Europeia. Na soja, a gente permite o resíduo
de glifosato duzentas vezes maior do que na União Europeia. Isso significa que
se uma criança de vinte quilos ingerir cem gramas de soja por dia, ela terá
extrapolado em 20% o que seu corpo pode tolerar de glifosato. Na água potável
nós toleramos um resíduo de glifosato cinco mil vezes maior do que na União
Europeia.
Segundo ela, do ponto de vista da saúde, o brasileiro tem
problemas crônicos associados a essa exposição. “Não é só o câncer, temos
problemas hormonais severos. Uma médica fez um mestrado na Chapada do Apodi e
identificou puberdade precoce associada a agrotóxicos: bebês com dois anos com
seios e pêlos pubianos. Eu mapeei os casos de malformação fetal no estado de
São Paulo, e é muito assustador, porque a gente consegue enxergar no mapa, o
uso intensivo de agrotóxicos”, diz.
Confira abaixo alguns trechos selecionados da entrevista e
do debate:
Juca Kforui: Larissa, você apresenta a diferença do que é
permitido aqui para o que não é permitido na União Europeia, mas boa parte
desses tóxicos todos não é produzida por multinacionais com sede na União
Europeia?
Larissa Bombardi: Esse é o maior exemplo da contradição. A
gente tem 6 grandes empresas que controlam 70% do comércio de agrotóxicos do
mundo, e uma parte delas tem sede na União Europeia. A realidade até 2018 é que
as empresas estadounidenses e europeias controlam 70% do mercado de agrotóxicos
e muitas dessas substâncias são proibidas nos seus territórios de origem.
Eu quando vejo anúncios do agronegócio pujante, que faz do
Brasil líder em uma série de itens, e vejo os aviões passando e pulverizando os
campos, fico orgulhoso da nossa tecnologia. Aí fico sabendo, por quem entende
do assunto, que isso é proibido na União Europeia há mais de uma década. Para
onde vamos, como mudar esse estado de coisas?
João Paulo: Em nossa leitura só é possível segurar isso se o
consumidor participar desse debate. Ele compreender do ponto de vista da saúde
pública e da sua saúde, o que está por trás dessa maquinaria envenenada chamada
agronegócio. Você imagina a riqueza que é a população brasileira. Na Feira
Nacional da Reforma Agrária do MST nós trouxemos 1600 produtos das mais
diferentes áreas. Por que o Agronegócio quer padronizar a produção? Porque eles
querem enfiar goela abaixo que os brasileiros tem que comer quatro produtos:
milho, soja, arroz e trigo — e com veneno.
O fato da produção orgânica ser menor leva necessariamente
ao produto orgânico ser mais caro?
Larissa Lombardi: Tem essa relação direta, por conta da
oferta e da procura. Enquanto o orgânico é raro, é mais caro. E não porque é
mais caro de ser produzido.
João Paulo: O custo de produção não é muito mais alto, a
diferença é pequena. O que é alta é a especulação do agricultor que produz até
chegar [no mercado]. É muito difícil você chegar em um supermercado da
periferia e encontrar uma gôndola de orgânicos, você vai achar nas grandes
redes, e lá eles organizam o preço.
O programa na íntegra pode ser conferido abaixo:
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