Existem centenas de livros escritos sobre Virgulino
Ferreira, o Lampião - que morreu no dia 28 de julho de 1938, após passar 21
anos percorrendo o interior do Nordeste, e desde então se transformou em um dos
símbolos mais emblemáticos da História do Brasil. "Apagando o Lampião:
vida e morte do Rei do Cangaço" poderia ser mais um nessa longa lista -
mas consegue a proeza de trazer fatos novos sobre o tema, inclusive apontando
quem (e como) foi o responsável pela execução do cangaceiro.
Por
Tuíca do Cordel
No Luz de Fifó
Escrito por Frederico Pernambucano de Mello, que se dedica a
pesquisar o Cangaço desde os anos 1960 e é considerado a maior autoridade no
assunto, "Apagando o Lampião" traz outras informações inéditas que
por si só justificariam a escritura da obra, que paralelamente registra toda a
trajetória deste verdadeiro gênio militar (para alguns, herói; para outros,
bandido sanguinário).Embora tenha sido publicado no ano passado, o livro deve
ser lançado oficialmente em março, na cidade de Maceió (AL).
"Há muitas biografias sobre Lampião, e tenho a
pretensão de conhecer a maioria, mas verifiquei que havia alguns aspectos
virgens de um relato confiável. Por isso, resolvi escrever", explica o
autor. Estes quatro pontos-chave que representam novidades são muito
importantes para entender a história como de fato se passou.
Frederico Pernambucano é considerado o maior especialista em
Cangaço do mundo
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A "autoria" da morte de Lampião havia sido
noticiada pela imprensa em 1938, apontando como responsável Antonio Honorato da
Silva, que era guarda-costas do aspirante Francisco Ferreira de Mello, um dos
encarregados pelo cerco à grota de Angicos, onde os cangaceiros estavam
escondidos. Mas Frederico descobriu que o verdadeiro autor do disparo fatal
contra Lampião havia sido Sebastião Vieira Sandes, o "Santo", que
também era guarda-costas de Francisco e antes de ingressar na volante, tinha
convivido com o cangaceiro por muitos anos, sendo seu "coiteiro" e,
inclusive, tendo chegado a costurar peças para o bando junto com o próprio
Lampião.
A entrevista que Sandes concedeu a Frederico, durante mais
de dez dias, foi longamente aguardada. O historiador sonhou com esse momento
por mais de duas décadas, tentando convencer o entrevistado através de
conhecido em comum e chegando a visitar Sandes em Maceió e em São Paulo.
Um dia, após ter recebido um diagnóstico de aneurisma
inoperável, ele procurou Frederico e contou que Lampião não morreu em combate,
e foi executado de cima para baixo, com um único tiro, enquanto tomava uma
caneca de café. A bala bateu na lâmina do punhal que estava no cinto do
cangaceiro e causou um prolapso de vísceras, expondo todas as suas tripas.
"Esse punhal está guardado no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas,
e o relato bate com o laudo pericial realizado por um especialista da Polícia
Federal, Eduardo Makoto Sato", frisa Frederico Pernambucano de Mello.
Após duas décadas de tentativa, Frederico Pernambucano de
Mello ouviu o relato do verdadeiro executor de Lampião
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Outro ponto interessante e que amplia o olhar humano sobre a
trajetória de Lampião é a divergência com José Alves de Barros, o Zé Saturnino,
que entrou em confronto com o jovem Virgulino e precipitou sua entrada no
cangaço. Em uma entrevista realizada em 1970 e mantida inédita até o momento,
Frederico Pernambucano de Mello ouviu relato de que ambos eram amigos de infância.
A briga só começou quando Saturnino se casou com uma moça da família Nogueira,
inimiga dos parentes de Lampião. "Virgulino não perdoou isso", aponta
o autor, que guardou estas informações por mais de quatro décadas. "Sou o
tipo de pesquisador que trabalha com informações a longo prazo", afirma.
O livro registra ainda detalhes sobre as relações de Lampião
com as autoridades da época: sua ida para a Bahia foi acordada com o Chefe de
Polícia de Pernambuco, Eurico de Souza Leão. "Este fato foi mantido em
sigilo por vários anos, até que me foi contado pelo oficial executor das ações,
Audálio Tenório de Albuquerque", aponta. Evidentemente, não pegaria bem
para o governo pernambucano admitir que "exportou" o cangaceiro para
o estado vizinho.
Outro detalhamento inédito diz respeito ao acordo feito
entre Lampião e Farnese Dias Maciel, irmão de Olegário Maciel (governador
mineiro entre 1930 e 1933, quando morreu no poder) e filho do segundo Barão de
Araguari, figura importantíssima de Minas Gerais.
Segundo o autor, Farnese tinha uma rixa com a família
Borges, e queria contar com o bando Lampião para agir em seu favor. No momento
em que foi executado, o cangaceiro estava recrutando mais de cem homens, que
iriam se somar aos quase 150 de seu bando (formado por um grupo principal com
22 membros e mais dez subgrupos com oito a doze homens, que atuavam nos mais
diferentes pontos do Sertão nordestino).
"Os planos de ir para Minas eram
conhecidos, mas nenhum biógrafo até o momento havia tido o cuidado de
investigar quem estava convidando Lampião", aponta. Ainda de acordo com
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