A campanha de Serra mudou o símbolo do PSDB: o tucano foi tangido para longe e em seu lugar entra um corvo, desses de cemitério. O candidato foi buscar reforço abrindo as tampas das tumbas do obscurantismo.
por Adalberto Monteiro*
Serra patrocina o re-surgimento de abordagens e personagens já superadas pela democracia brasileira. A TFP (Tradição, Família e Propriedade) com a indumentária fedendo a mofo infesta blogs e avenidas. Guetos fundamentalistas panfletam suas bulas. O tema do aborto é criminosamente banalizado. A religiosidade do povo é manipulada para fins eleitoreiros.
“Trevas, volver” é a palavra de ordem da oposição neoliberal. Os inquisidores de Serra fazem rondas, empreendem implacável caçada aos hereges. Um deles pergunta para Dilma numa coletiva: “A senhora é homossexual?”. Serra, em riba de um caminhão, em Goiânia, ergue e beija um crucifixo. A senhora, esposa dele, diz que Dilma quer “matar criancinhas.” Sua campanha espalha a mentira e insufla a homofobia. Seu braço midiático cultiva a peste do preconceito. Estampam manchetes que somente os nordestinos e os pobres estão com Dilma. Acaso, não são brasileiros?
Mesmo realizando uma campanha desse naipe proclama que somente ele pode unir o Brasil. Muito ao contrário. O preconceito, o ódio, o obscurantismo - ingredientes da desagregação - jamais serão o cimento da união. A unidade nacional é um bem caro ao Brasil. Foi forjada num processo histórico prolongado e contraditório. É com base nessa unidade que, no presente, o governo do presidente Lula deu passos importantes para superar as desigualdades e deformações de nossa sociedade.
A campanha de Serra destila ácido corrosivo para minar a união do povo brasileiro. Católicos, evangélicos, espíritas, budistas, mulçumanos, judeus, praticantes das religiões afro-brasileiras, agnósticos, ateus, entre todos amplamente predomina a tolerância religiosa e todos valorizam o nosso Estado Laico compromissado com a liberdade religiosa. Liberdade religiosa lavrada pela Constituinte de 1946, por iniciativa do escritor Jorge Amado, então membro da bancada do Partido Comunista do Brasil.
Serra abriu as tumbas do obscurantismo e sabe que o reacionarismo que delas emergiu é incontrolável. Essas “criaturas”, caso ele vença, vão cobrar as duplicatas. Serra se autointitula “candidato do bem”, mas zelou um pacto com que há demais atrasado na sociedade brasileira. Tergiversa. Diz que não tem nada a ver com isso. Bota fogo na floresta e depois culpa a própria floresta. É um “pactuado” tal e qual Riobaldo de Grande Sertão, Veredas.
Obterá a vitória depois de ter vendido a alma?
As forças da luz, do desenvolvimento, do progresso social, da democracia, da liberdade, da tolerância, do sonho, do respeito ao outro deitaram raízes muito profundas no chão deste país continental. As gerações que nos precederam e nos formaram sofreram em demasia com o ódio, o autoritarismo, o preconceito que a campanha de Serra, hoje, acolhe e fermenta.
A luz vencerá as trevas. Mas, para isso, cada brasileiro, cada brasileira, verdadeiramente do bem, tem de sair às ruas com sua tocha acesa. E essa tocha é a bandeira de Dilma presidente.
Às ruas, ao bom combate cidadãos, cidadãs!
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*Jornalista e escritor. É presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios
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